01 de setembro de 2021

Como a diversidade potencializa a cultura organizacional e a gestão da reputação?

Os Operários - Tarsila do Amaral
Os Operários – Tarsila do Amaral

Diversidade é uma vantagem competitiva para os negócios. Fato. Talvez poucos executivos tenham o entendimento profundo sobre isso, mas para mim, ficou cristalino quando visitei o Vale do Silício em 2020. Um polo inovador e repleto de diversidade (pessoas de origens e de diferentes países, línguas, gênero, idade ou etnias). De lá para cá, uma pergunta ficou martelando na minha cabeça: “Por que isso não é tão claro para os líderes? Por que essa mudança não emplacou nas empresas de forma mais ágil?

Ouso dizer, que é fundamental encontrar uma nova forma de acelerar esse entendimento junto aos executivos e as marcas. Atualmente, muito tem se falado sobre os temas ESG (em inglês e significa Environmental, Social and Governance – fatores de responsabilidade de governança, social e ambiental). Eles começaram a ser notados de forma mais ampla, a partir do momento, que os fundos de investimentos cobraram melhores resultados das empresas sobre o seu gerenciamento do impacto social e ambiental em contrapartida a novos investimentos. Ou seja, doeu no bolso.

Vale lembrar, que isso não é novidade e surgiu fortemente em 2004 com a provocação do então Secretário-geral da ONU Kofi Annan, quando escreveu para 55 líderes das principais instituições financeiras do mundo, convidando-os a desenvolver diretrizes e recomendações sobre como integrar questões de governança ambiental, social e corporativa à pesquisa, análise e gestão de ativos financeiros. Ao todo, 20 instituições financeiras de 9 países, com ativos totais sob gestão de mais de US$6 trilhões, aceitaram o convite e endossaram a proposta.  E só agora está começando a entrar na agenda dos líderes de forma mais contundente. Sustentabilidade não é apenas implantar ações e resultados nos pilares ambientais e sociais. Sustentabilidade faz parte de uma mudança de mindset, de comportamentos e de comunicação ampla com os stakeholders. Um desafio e tanto para os líderes que vivem em culturas organizacionais pautadas na busca pelo consenso. Uma necessidade urgente para as empresas vislumbrarem seus negócios em longo prazo.

Considerando esse contexto e ampliando a escuta em fóruns e também em conversas com profissionais do mercado, me deparei com uma pista, daquelas que fazem a gente ter o pensamento “É isso!”. Encontrei a teoria do Pensamento Integrador, de Roger Martin, referência mundial em estratégia e design thinking, que começou sua jornada capacitando executivos e líderes nessa teoria, mas percebeu que existia uma oportunidade enorme em trabalhar esse conceito junto a jovens, ainda no ensino fundamental. É preciso começar cedo.

Roger Martin afirma que “a liderança precisa ser estimulada para um Pensamento Integrador, conceito que acolhe visões distintas, identificando que em cada uma delas tem algo que não é percebido e que pode ser uma solução combinada”. Ele cita o case dos hotéis Four Seasons, quando na sua origem, seu dono possuía um hotel pequeno com atendimento impecável e customizado, mas também possuía um hotel grandioso com centro de convenções, maior infraestrutura e serviços a oferecer. A ideia inicial era expandir os negócios, mas queria levar a melhor solução. Com isso, ele se deparou com um novo conceito, integrando o melhor dos dois mundos: um hotel de médio porte, boa infraestrutura que não deve em nada aos grandes hotéis, com atendimento impecável e customizado transformando a experiência do cliente com o estabelecimento.

Ao nos teletransportarmos para o cenário atual, que tem exigido uma maior diversidade nas organizações, essa realidade faz sentido para o dia-a-dia das relações “Se cada vez que eu me deparar com um pensamento diferente de mim, eu ainda buscar como essas nossas ideias distintas podem se juntar para uma solução ainda melhor. Se os líderes forem capacitados no pensamento integrador, quando estiver em um ambiente com diversidade de etnia, gênero etc, ele se sentirá confortável. Pois todos estarão de igual para a igual, independente dos padrões de diversidade que cada um tem”, conclui Roger Martin em uma de suas aulas na HSM University.

Nesse contexto, percebi uma oportunidade. Será preciso disciplinar um novo debate na formação dos líderes para sua atuação em reuniões corporativas e para o processo de tomada de decisão, estimulando o debate diverso e concebendo uma solução criativa que permita obter o melhor das opções distintas que são apresentadas. O que é diferente, te distancia ou te aproxima? Essa é primeira reflexão a ser feita. O pensamento integrador acolhe todas as opiniões e busca a melhor solução de cada uma delas.

“Simplesmente buscaremos com entusiasmo toda forma de diversidade, porque saberemos que sair da nossa própria mente, graças o que estamos aprendendo da cabeça de outra pessoa, é uma dádiva ao invës de pensarmos que é desafiador”, Roger Martin.

A partir daí, teremos uma cultura organizacional mais fluida e com diversidade. As empresas que já perceberam que não conseguem inovar e ter criatividade para se reinventar, precisam olhar a sua cultura e trabalhar fortemente na transformação desse pensamento e comportamento. Novos modelos de negócio estão surgindo com uma rapidez jamais vista. Nos últimos três anos consecutivos (2019-2021), Nubank – que acabou de entrar no cenário financeiro – foi eleita a melhor instituição financeira do Brasil, segundo o ranking divulgado pela revista norte-americana Forbes e em 2021 está entre as melhores instituições financeiras do mundo.  Esse é um exemplo de empresa que já nasceu com o pensamento integrador, desde a sua concepção até a sua mais recente crise reputacional com a abordagem equivocada sobre o tema diversidade. Rapidamente, eles ouviram diversos stakeholders, reavaliaram suas estratégias e buscaram um novo direcionamento para a sua cultura organizacional com diversas iniciativas respondendo a essas questões relevantes da diversidade.

Esse é um caminho sem volta. Entender como aplicar os conceitos de ESG nas dimensões da governança, do social e do ambiental, considerando os desafios conhecidos até aqui. Tudo isso passa pelo comportamento da liderança e de um novo desenho da cultura organizacional. É hora de transformar, integrar e buscar a melhor solução dos dois mundos, das diversas pessoas, evoluindo sempre. Esse será o capital mais valioso na gestão da reputação das empresas, que precisará se manter consistente, relevante e coerente a cada ano.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Karla de Melo

Relações públicas com especialização em Gestão para Sustentabilidade - Dom Cabral (MG), Gestão da Comunicação Corporativa, Transformação Digital e MBA em Gestão de Negócios e Marketing, vivenciou recentemente uma imersão de negócios e inovação no Vale do Silício pela StartSe University. Com 27 anos no mercado, liderou projetos em diversos estados brasileiros e países em Gestão da Reputação e Stakeholders; Marca; Comunicação Interna; Gerenciamento de Crises; Planejamento Estratégico e Mensuração, Marketing e Transformação Digital. Atuou em grandes empresas nos setores de telefonia, tecnologia, mineração e financeiro, entre elas Vale e Casa da Moeda. Também foi líder da Câmara Técnica de Comunicação do CEBDS (Conselho Empresarial de Desenvolvimento Sustentável). Atualmente é palestrante, instrutora de cursos in company e consultura de gestão da reputação, comunicação e sustentabilidade (ESG). Investidora anjo de startup para transformação digital da Comunicação Corporativa. Diretora-Executiva da SimplificaCI assumindo a posição de Chief Reputation Officer. Em 2020, foi considerada TOP 10 entre os profissionais de Comunicação Corporativa no Serviço Público pela Mega Brasil.

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