As peles da memória
A obra de Dan Flavin é divertida, embora nos lembre o tempo todo a nossa natureza passageira e a impermanência das coisas na vida. Suas lâmpadas e os objetos fetichistas de marca, na nossa sociedade de consumo, acabarão nos lixões urbanos. Assim como os palácios, as casas desenhadas por renomados arquitetos e a palhoça, tudo se transformará em ruínas, acabará, como diria, Milton Santos (1926-2001), em rugosidades entre as construções das cidades contemporâneas.
Grande arte
Flavin é fenômeno temporal, como todas as outras artes, mesmo aquelas com programa político de criação. Nos primeiros anos da Revolução Russa e do Nazismo, uma parte das artes se transformou em cartazes datados, apesar de sua intenção eterna.
Esses comentários sobre Flavin não querem desvalorizar outro tipo de memória artística, que proponha leitura simbólica e contemplação, como as obras que tem no mármore, no granito ou no bronze as matérias-primas, nas quais homens e animais esculpidos parecem esperar apenas o toque dos deuses para ganhar vida. Habilidade do artista em transformar bronze e pedra em carne humana, como diz Tom Wolfe, em ‘O artista invisível’, sobre o escultor Frederick Hart, um exemplo, para Wolfe, da grande arte que a sociedade atual não quer ver. No meu ponto de vista, não é uma questão de visão. É apenas outra pele da memória, canônica e necessária para uma sociedade sem lembranças.
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