A Cultura e A Verdadeira Relações-Públicas
Hoje estive presente a outro Encontro Aberje Rio sobre Cultura Organizacional – o 63º. E durante a palestra da Professora da UFF e PUC e Relações Públicas, Lívia Barbosa, senti o desejo de escrever este artigo. Primeiro pela autoridade com que se apresentou. Segundo pela sua apresentação que me chamou a atenção para a minha questão com as Relações Públicas.
Lívia conceituou cultura como um compartilhamento – parcial e não um compromisso – de símbolos e significados. Ela deu vários exemplos que me encantaram. O comentário de uma amiga para a outra: “A fulana tem a cultura Coca-Cola dentro dela: bebe Coca-Cola no café-da-manhã, no almoço e no jantar”. E ainda tem o do menino que, por cacoete, piscava. Outro o imitou. Um terceiro começou a piscar porque entendeu que ambos estavam conspirando. E um quarto piscou para uma menina com o sentido de flertar. O outro comentário foi mais ou menos assim: “Fulana é uma verdadeira mãe. Tanto pode ser uma genitora biológica como o um adjetivo para o tratamento carinhoso e protetor que ela dá a terceiros”. Este é um comentário do bem. Mas eu o que comparo ao estado de alma em que me encontro hoje: respeito e um misto de tristeza e indignação. Vou explicar.
O respeito vem por conta de vários relações-públicas que atuam no setor da comunicação empresarial. Aqueles que por lei podem operar na profissão – tem diploma de RP e estão registrados no seu Conrerp regional. É o chapéu da mãe biológica. A mãe carinhosa é formada por aqueles que não estão regulamentados, mas que atuam no mercado como verdadeiros RPs, alinhados com o código de ética da profissão e com a qualidade de atuação. Aqueles que produzem Relações Públicas com gosto e que, um dia, terão as portas abertas do Sistema Conferp. A indignação vem de uma situação que pode se tornar um comportamento cultural: a associação pontual negativa que é feita entre o relações-públicas e o manipulador da opinião pública. Este “link”, volta e meia, aparece na mídia como discurso direto da redação ou indireto: na boca de personalidades que mostram sua total alienação com o que acontece atualmente na área de comunicação e a importância das Relações Públicas neste contexto. Um jurista famoso compara o operador do mensalão com um “relações-públicas do Banco Rural”; uma jornalista de revista semanal de expressão diz que um dândi que vive de fazer relacionamentos, bicão em eventos sofisticados da cidade, é um relações-públicas; editais e licitações públicas chamam para trabalhar no setor público profissionais com perfil de RP, mas com formação e titulação em outras áreas. E a lista pode ser enorme. Pode ser desconhecimento. Ou preconceito.
Recentemente, um dos melhores colunistas deste País comparou “Sininho” como “aquela jovem sem ocupação conhecida – parece não precisar de emprego… – que se oferece, assim, para ser uma espécie de porta-voz, melhor amiga e relações-públicas dos black blocs”. Aí eu fico triste. Porque o jornalista é gente-boa, inteligente, investigativo. Eu escrevo pra ele um e-mail tristonho frente ao seu entendimento equivocado. Mas ele não responde. Uns me dizem: “não dá bola não porque ele é assim mesmo, polêmico, gosta de espezinhar”. Outros argumentam que toda profissão tem seu lado “podre”. Com RPs não será diferente. Mas quando se ama a profissão, não pode se deixar passar nada em branco. Seja um insulto. Seja um equívoco. Eu costumo recomendar aos meus amigos empresários para que se coloquem, esclareçam, informem. Que se posicionem, porque o mais difícil tratamento em comunicação empresarial é desfazer uma percepção que se cristalizou. Que se tornou cultural. Depois que li a teoria da cristalização atribuída ao romancista francês Stendhal, repito sempre a frase de Ralph Nader, o advogado do consumidor norte-americano: “a percepção é a realidade”. A versão dos fatos é pior do que retrato falado. Uma vez publicada, tente mudar a percepção. Impossível. O Disque-denúncia recebe mil e uma denúncias.
Nessa missão de consolidar a profissão, sigo meu caminho tal qual Dom Quixote abatia os moinhos. Muitas vezes, acerto algumas pás do moinho e até cata-ventos inteiros… E viro a página. Outras vezes eu fico triste. Mas não deixo de me posicionar e de compartilhar minhas experiências. Continuarei meu discurso de “mãe verdadeira” ou de verdadeira relações-públicas.
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