02 de junho de 2021

A busca incansável pela equidade de gênero nas lideranças

No dia 20 de maio, o professor Claudio Garcia escreveu uma coluna muito corajosa no Valor Econômico (“Os homens é que precisam de mentoria para mudar”) e que representa muito do que eu penso a respeito da necessária igualdade de gênero nas empresas.

Por serem minoria das esferas de poder, as mulheres têm participado de vários processos de mentoria, coaching e outros programas que ajudam a prepará-las melhor para ocupar posições de liderança nos espaços corporativos. Mas, espera. Prepará-las? Será que elas precisam ser mesmo prepadadas?

“Tem algo fundamentalmente errado nessa história. Mulheres não precisam de ajuda (…) Para mudar tudo isso, quem precisa de ajuda somos nós, homens”, escreveu Garcia. Como maioria ocupando as vagas de liderança nas empresas, ele alerta, é dos homens a responsabilidade de abrir mão de suas vantagens históricas e promover igualdade nos ambientes pelos quais circulam, desde o doméstico até o profissional.

Eu trabalho há vários anos como voluntária em um programa que promove mentoria e curso para mulheres conselheiras, e tenho essa exata sensação: aquelas executivas e empresárias que participam do programa não precisam de treinamento, elas apenas precisam de espaço e visibilidade. Claro que a mentoria com profissionais de mercado experientes é sempre bem-vinda, bem como qualquer formação adicional, mas a verdade é que a grande maioria delas está mais do que pronta. São altamente qualificadas. O maior ganho que o programa acaba promovendo, no final das contas, é o networking e a exposição dessas profissionais dentro dos ambientes de conselho, no qual quase nove em cada dez são homens.

A pergunta que incansavelmente nos fazemos é: até quando as mulheres terão de ser três vezes mais preparadas do que os homens para ocupar uma mesma posição? Por que a questão gênero não entra na conversa quando um profissional homem é incompetente, mas é relevante quando uma mulher é incompetente?

É nítido que tivemos avanços nesses últimos anos, mas as estatísticas da participação feminina nas altas posições em várias esferas (empresarial, política e social) ainda são baixíssimas. Simplesmente não dá pra esperar uma mudança dentro do curso natural, é preciso fazer mais. Temos de ter mais ações afirmativas e maior conscientização dos homens que é preciso mudar e rápido. É isso aí, professor, vamos promover mentoria para que os homens nos ajudem a progredir com as agendas mais relevantes para o futuro.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Roberta Lippi

Roberta Lippi é sócia da Brunswick Group, consultoria internacional de comunicação estratégica. Jornalista com pós-graduação em gestão empresarial pelo Insper e especialização em comunicação internacional pela Universidade de Syracuse/Aberje, tem 25 anos de experiência na área de comunicação, com foco em posicionamento corporativo, mídia, crises, comunicação interna e treinamento de executivos.

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