Representatividade importa
A polêmica desta quarta-feira ficou por conta de uma campanha para promoção da Paralimpíada Rio 2016.
Bastou uma peça para agência e cliente demonstrarem falta de sensibilidade e zero conhecimento das discussões sobre diversidade e representatividade de grupos minorizados na comunicação.O anúncio, publicado pela revista Vogue, traz Cleo Pires “na pele” da paratleta Bruna Alexandre e o ator Paulo Vilhena representando Renato Leite, jogador da modalidade tênis sentado.
Se o objetivo, como diz a apresentação, era “dar visibilidade aos Jogos Paralímpicos” faltou empatia e bom senso na execução do trabalho.
A Paralimpíada é um dos poucos momentos em que os olhos do mundo estão voltados para as pessoas com deficiência. É uma população enorme, que representa 23% dos brasileiros, segundo o IBGE, mas raramente aparece na comunicação das marcas e empresas.
Várias delas são pessoas que trabalham, consomem, estudam e têm vida social. Entretanto, seguem invisibilizadas, inclusive no momento em que mais deveriam brilhar e aparecer por conta própria.
Representatividade importa. Mimetizar uma deficiência photoshopada equivale à prática do blackface, que pintava de preto rostos de atores brancos no século passado.
Não bastasse um erro, a campanha da África ainda derrapa na hashtag #SomosTodosParalímpicos. Não, não somos. Eles é que são. E merecem nossa admiração e respeito por isso.
A melhor maneira de demonstrar solidariedade e apoio às pessoas com deficiência é assistir aos Jogos, no mês que vem, e também cobrar das autoridades e empresas mais respeito à diversidade.
No Brasil, a Lei de Cotas estabelece que empresas com mais de cem funcionários contratem de 2% a 5% de pessoas nestas condições.
A sua empresa cumpre a legislação? Em caso positivo, há uma inclusão efetiva das pessoas com deficiência, ou seja, elas têm chances reais de aprendizado e progresso na carreira?
A comunicação que a gente vê fala muito sobre quem a produziu. Sem diversidade nas equipes, dificilmente haverá mais representatividade e respeito nos anúncios. Se tivesse alguma pessoa com deficiência nos times envolvidos neste caso, duvido que África e Vogue teriam dado essa bola fora.
Em tempo: autocrítica e disposição para aprender são essenciais para mudar comportamentos. Neste sentido, Cleo Pires não contribui em nada quando atribui a polêmica a “inveja e recalque”. Tomara que a agência e cliente demonstrem mais inteligência.
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