01 de dezembro de 2023
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O ensino superior e o ODS 4: o papel do ensino a distância para uma formação inclusiva e de qualidade

 

Para um desafio global e transversal, temos uma agenda ambiciosa e que exigirá enorme articulação social. O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 4 (ODS 4) da ONU é um conjunto de princípios e metas que procuram assegurar uma educação inclusiva, equitativa e de qualidade para todos, ao longo de todas as fases da vida. Suas principais áreas de concentração incluem o acesso de crianças de todas as idades a educação de qualidade, a oportunidade para que jovens e adultos se desenvolvam para o complexo mundo do trabalho, a erradicação do analfabetismo e o estabelecimento de ambientes educacionais seguros, equitativos e diversos, entre outras. Para nós, que atuamos no ensino superior, alguns componentes do ODS 4 são particularmente caros e próximos. A democratização do acesso, a formação de professores e o avanço da equidade no setor educacional, por exemplo, se conectam diretamente à nossa atuação diária. E os três desafios têm no ensino a distância (EaD) uma resposta comprovadamente eficaz e eficiente, portanto fundamental para o avanço dessa agenda.

Nos últimos 20 anos, o EaD passou por uma transformação notável. Partimos de uma abordagem da modalidade como subproduto de baixo custo do ensino “tradicional” para o estágio atual, de uma modalidade com metodologia própria, qualidade comprovada e que incorpora tecnologia para dar suporte a professores e alunos, de forma integrada à linguagem, às necessidades e as expectativas do alunado de hoje. O EaD não canibaliza ou compete com o ensino presencial – antes disso, ele dá oportunidade de estudo para um número muito grande de pessoas que não pode arcar com as mensalidades, não tem tempo e/ou não pode acessar fisicamente um campus universitário. Em 2021, último ano com as estatísticas divulgadas, 3,7 milhões de brasileiros se matricularam numa graduação a distância. Para elas, o EaD é a única porta aberta para uma vida melhor, com maior renda (até 3x superior), mais oportunidades (80% de trabalhabilidade) e visão de mundo ampliada.

Isso é inclusão na veia, como dizemos por aqui. O aspecto econômico dessa equação já é bastante conhecido. Tecnologia e a diluição de investimentos em qualidade por uma grande base de alunos reduzem a mensalidade média do EaD para a casa dos R$ 200, nacionalmente, contra cerca de R$ 1.000 nos cursos presenciais. Porém, especialmente sob a luz do ODS 4, precisamos lembrar do aspecto acadêmico nessa dinâmica. As universidades particulares recebem em torno de 80% de seus alunos oriundos do ensino médio público que, sabemos, enfrenta enormes desafios no campo da qualidade (apesar dos importantíssimos avanços em abrangência das últimas décadas). Lacunas trazidas da etapa anterior precisam ser sanadas no início da graduação, justamente o período de maior desistência, e a tecnologia digital tem se mostrado uma aliada fundamental nesse processo. O trabalho com dados permite, no tempo certo, atuar sobre alunos que estejam com baixo engajamento (pouco tempo de estudo, baixo acesso aos sistemas) ou com baixo desempenho (testes de fixação ao longo do aprendizado, simulações e avaliações inteligentes). Além de permitir a oferta de objetos de aprendizagem, como vídeos curtos, podcasts, gráficos e enquetes, de forma mais personalizada para cada indivíduo. A barreira econômica é a grande muralha, mas não o único desafio. Inclusão também passa por suporte acadêmico e compensação de fragilidades na formação anterior desses universitários, e o EaD, por meio da tecnologia digital, está nos ensinando o caminho.

Por fim, mas não menos importante, precisamos considerar que a expansão do EaD no Brasil reduz as (grandes) desigualdades em termos de gênero, raça, região geográfica e origem social. A Estácio, a maior instituição do nosso grupo em número de alunos, tem 56% de pessoas que se autodeclaram pretas ou pardas, e 75% delas vêm de famílias com renda mensal inferior a quatro salários-mínimos. Mais de 80% deles são os primeiros de suas famílias a acessar o nível superior. Essa enorme oportunidade que o EaD abre para pessoas com condições socioeconômicas frágeis está mudando o perfil, exatamente como preconiza o ODS4, do mundo universitário brasileiro.

Com o projeto de qualidade e o rigor no trabalho acadêmico que temos aplicado ao ensino digital, estou convencida de que o EaD é maior instrumento de inclusão educacional do século XXI. É também uma ferramenta poderosa para todos os que acreditam, assim como eu, que uma missão primordial da universidade é acolher os que almejam crescimento e transformação, sem deixar ninguém para trás. Os números – matrículas, perfil dos alunos e resultados acadêmicos, similares ao da modalidade presencial – sustentam essa ideia. Estamos expandindo fronteiras e, consequentemente, abrindo caminhos para cidadania, prosperidade e projetos de vida mais elevados, para milhões de pessoas. E os efeitos não param por aí. Também podemos contar com o EaD para atacar outro ponto crítico do ODS4, que é a formação e o desenvolvimento contínuo de professores para a educação de base. Tema que deixo para o nosso próximo artigo.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Cláudia Romano

Presidente do Instituto Yduqs e Vice-presidente do grupo educacional Yduqs. Vice-presidente do SEMERJ (Sindicato das Entidades Mantenedoras dos Estabelecimentos de Ensino Superior do Rio de Janeiro), Conselheira da ANUP (Associação Nacional das Universidades Particulares) e da Escola Solar Meninos de Luz. Além disso, atua como Embaixadora da Cultura na Fundação Cidade das Artes. Com 20 anos dedicados à educação, foi laureada com as principais Comendas da cidade e do Estado do Rio de Janeiro: a Medalha Pedro Ernesto em 2019 e a Medalha Tiradentes em 2022.

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