16 de novembro de 2021
BLOG Estratégia ESG & Comunicação

Governança e a agenda ESG: o engajamento dos tomadores de decisão é fundamental

 

Não foi à toa que a Aberje decidiu fazer da pauta ESG o tema do ano em 2021. ESG (environmental, social and governance) ou ASG (ambiental, social e governança) para tropicalizar a expressão, tem diversas frentes e conteúdos a serem debatidos. Tarefa árdua escolher alguns deles. O Comitê Aberje de Comunicação e Estratégia ESG iniciou um trabalho de desvendar alguns dos principais conceitos e práticas empresariais que orbitam pelo termo e se traduzem em práticas dentro das organizações. No primeiro artigo deste blog, Eduardo Serafim trouxe a contribuição destas três letras para a reputação empresarial, o impacto da percepção dos diversos stakeholders sobre a atuação ética, empática e material das corporações. Demonstrou de forma clara que o posicionamento pautado pelas ações ESG contribuem para o fortalecimento da governança corporativa, aumentando a percepção de confiança dos públicos com os quais as empresas se relacionam.

E como os conglomerados empresariais podem trabalhar para desenvolver de forma efetiva esta agenda? A eficiência depende, entre outros fatores, do engajamento de todos os envolvidos com a temática proposta.

Engajamento dos tomadores de decisão

O artigo intitulado “Isso aumenta o engajamento!”: notas teóricas sobre o uso da palavra engajamento em contextos de comunicação corporativa e digital, de autoria de Natalia de Campos Tamura e Issaaf Karhawi, apresentado no 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, traz algumas definições interessantes e nos faz refletir sobre o engajamento no contexto empresarial. Em uma dessas definições, o engajamento tem a ver com o comprometimento emocional e intelectual de um indivíduo, que resulta em mudança de comportamento relacionada a resultados. De acordo com as informações contidas no artigo, uma pessoa engajada tem uma percepção positiva da empresa e dedica esforços extras para o sucesso da organização. Este engajamento estaria relacionado ao sentimento de pertencimento e ao sentimento de proximidade com seus propósitos. Podemos destacar a importância do engajamento dos tomadores de decisão (nas empresas) para amplificar ainda mais estas discussões. A pesquisa NACD Public Company Governance Survey (2019-2020) mostra que quase 80% dos conselheiros relataram que seus conselhos estão focados em algum aspecto ESG, com 52% buscando maneiras de melhorar sua compreensão sobre o tema. Cabe destacar que entre as principais prioridades destes tomadores de decisão, (membros dos conselhos empresariais) tanto no Brasil, como no resto do mundo, está aumentar a frequência de discussões sobre questões ambientais, sociais e de governança (ESG), o que corrobora a importância do papel da comunicação para a disseminação destes conceitos e para a construção de uma agenda duradoura e consistente.

Governança e a agenda ESG

De acordo com o IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) o termo Governança refere-se ao sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e demais partes interessadas. Valéria Café, diretora de vocalização e influência do IBGC, traz a reflexão de que boas práticas de governança corporativa transformam princípios básicos em recomendações objetivas, alinhando interesses com a finalidade de preservar e otimizar os valores econômicos de longo prazo da organização, facilitando seu acesso a recursos e contribuindo para a qualidade da gestão da organização, sua longevidade e o bem comum. Pode-se acrescentar ainda os valores ambientais e sociais como fatores que agregam valor a estas organizações, criando uma agenda positiva e trazendo à tona discussões sobre ética, compliance, diversidade, inclusão, inovação, transparência, no curto, médio e longo prazo.

Entendendo que a sustentabilidade e práticas ESG são fundamentais para o futuro dos negócios, e estão intrinsecamente ligadas à agenda positiva de governança, a Amcham realizou uma pesquisa com 178 lideranças, que corrobora esta afirmação. Neste levantamento, 95% das empresas declaram-se engajadas em ESG. No entanto, quando a pergunta é sobre o nível de governança ESG, 33% das instituições pesquisadas possuem total transparência em suas ações e mecanismos de medição de resultados e buscam um processo de tomada de decisão horizontalizado.

O termo ESG como conhecemos atualmente foi cunhado em 2004. Foi a partir daí que as discussões e, consequentemente, seus planos de ação, foram incorporados ao universo empresarial. É um tema relativamente novo e complexo, portanto ainda há um longo caminho a ser trilhado. Com força, resiliência e propósito, certamente conseguiremos avançar no engajamento das lideranças e aprimoramento das corporações buscando uma agenda positiva, pautada por uma visão que considere minimizar prejuízos ao meio ambiente, contribuir para uma sociedade mais justa e responsável e implementar melhores práticas de gestão e governança.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Marina Mattaraia

Mestra em educação, com MBA em gestão estratégica de negócios, pós-graduação em Sustentabilidade pela escola de negócios Fundação Dom Cabral e especialização em Sustentabilidade pela Universidade de Cambridge - Business and Sustainability Programme (BSP). Atuou como executiva de multinacionais durante 20 anos na liderança dos temas ESG – especialmente nos setores de infraestrutura e energia. Foi membro do conselho do FUSSESP – Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo e foi indicada como uma das SDG (sustainable development goals) pionners, iniciativa capitaneada pelo Global Compact, área da ONU dedicada ao relacionamento com o universo corporativo.

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