11 de outubro de 2023
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Desafios atuais para a Saúde do Brasil: olhares sobre os resultados do Censo 2022 e Covitel 2023

 

Os primeiros resultados do censo populacional do IBGE de 2022, combinados com os resultados do Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em tempos de pandemia (Covitel) divulgados em junho/2023, evidenciam que o Brasil tem desafios enormes que atentam contra a qualidade de vida e a longevidade da sua população.

O país já vive um processo de envelhecimento do seu povo importante. Os resultados do Censo 2022 ainda não foram oficialmente apresentados, mas os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) contínua, divulgados em julho/2022, mostram que entre 2012 e 2021 a parcela da população com 60 anos ou mais passou de 11,3% para 14,7%. Em números absolutos, este grupo passou de 22,3 milhões para 31,2 milhões, crescendo quase 40% no período. Em contrapartida, o número de pessoas abaixo de 30 anos de idade no Brasil caiu 5,4% – passando de 98,7 milhões em 2012 para 93,3 milhões em 2021. Com esta queda do contingente de jovens na população brasileira e o aumento de idosos, demonstrando a nítida mudança etária da nossa Sociedade, há uma clara sinalização aos Governos da necessidade de redirecionar políticas públicas em relação à Previdência Social e à Saúde.

Isto urge uma vez que, especialmente na Saúde, tais repercussões já ofendem gravemente a vida dos brasileiros. Antes mesmo da pandemia de COVID-19, dados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2019 mostravam que mais da metade da população brasileira (52%) tinha pelo menos uma doença

crônica não transmissível entre diabetes, pressão alta, asma e outras. Todas elas tiveram aumento percentual desde 2013, data do último estudo semelhante feito pelo Instituto – pressão alta, 2,5%; diabetes, 1,5% e asma, 0,9%, por exemplo. Tais doenças e suas complicações, segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde em Setembro/2021, foram responsáveis por mais da metade (54,7%) do total de mortes no Brasil em 2019, sendo que 41,3% (303.517 mortes) ocorreram de forma prematura, acometendo pessoas de 30 a 69 anos de idade – perfazendo uma taxa de mortalidade de de 275,5 óbitos a cada 100 mil habitantes.

Há que se considerar o importante papel da Atenção Primária à Saúde no Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro, ativa desde 1993 por meio das equipes da Estratégia Saúde da Família e equipes tradicionais. Dados de dezembro/2020 do Ministério da Saúde mostram que 76,1% da população recebem cuidados neste âmbito da Atenção. No entanto, de acordo com os resultados recentes do programa federal que vincula parte dos recursos financeiros aos municípios a partir do cumprimento de metas assistenciais chamado “Previne Brasil”, mais de 30% deles não constam que aferiram a pressão arterial de 50% das pessoas com pressão alta e nem dosaram hemoglobina glicada de metade dos seus diabéticos ao menos uma vez por ano.

O relatório Covitel 2023, que evidencia o comportamento da população jovem adulta de idades entre 18 e 24 anos no que se refere a alimentação, prática de atividades físicas e de hábitos prejudiciais à saúde, demonstra ainda mais preocupação com o futuro. Em resumo, este estudo com tal grupo mostrou que ele se encontra mais ansioso, que tem abusado do álcool com frequência, lida constantemente com a obesidade e tem a pior alimentação entre todas as faixas etárias – 90% deles encontra-se obeso na comparação entre as pesquisas de 2022 e 2023, por exemplo. Tal cenário escancara a gravidade de um quadro social bastante delicado e com potencial para piorar, já marcado por números que caracterizam uma realidade dramática, mas que poucos parecem se dar conta.

Afinal, o quê fazer para evitar que mais brasileiros percam suas vidas por doenças plenamente evitáveis? Como lidar com as circunstâncias e fatores de risco que atentam contra a nossa saúde em um cotidiano estressante? Como produzir cuidados em saúde que atendam às necessidades das pessoas de forma resolutiva em um contexto com tais características?

Há que se enveredar esforços para que a Saúde seja compreendida em seu conceito ampliado e como pauta relevante diante do momento atual. Será única e exclusivamente ela, por meio de políticas públicas contundentes, que conferirá sustentabilidade para a nossa Sociedade em meio ao desenvolvimento econômico vigente e ao imperativo de uma vida com cada vez mais qualidade e longeva às pessoas.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Erico Vasconcelos

Erico Vasconcelos é cirurgião-dentista sanitarista, especialista em gestão de serviços de saúde e professor. Há 17 anos atua na gestão da Atenção da Primária à Saúde, na Segurança e Qualidade e na Gestão Estratégica de Pessoas de organizações de saúde. Foi gestor de diversas organizações privadas e municípios, tendo atuado também no Ministério da Saúde entre 2013 e 2016. Fundou a startup UniverSaúde em 2016, tendo atuado em mais de 50 municípios e organizações em geral.

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