04 de agosto de 2016

Breve histórico da diversidade no ambiente de trabalho – parte III

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Dando continuidade à nossa série sobre a história das políticas de diversidade nas organizações, chegamos aos anos 1980.

Foi nessa década que as práticas esboçadas nos anos anteriores ganharam contornos mais parecidos com o que é praticado hoje. Empresas dos Estados Unidos passaram a investir em treinamentos de diversidade e em mentoring. O objetivo era, de um lado, capacitar as equipes e, de outro, preparar os líderes para lidar com as diferenças no ambiente de trabalho.

A este respeito, aliás, um parêntese: pesquisas recentes questionam a efetividade de treinamentos compulsórios sobre diversidade. A capacitação é importante, mas tem mais relevância para equipes naturalmente já interessadas no tema. Alguns destes mesmos estudos, porém, seguem confirmando a importância da liderança nas questões de diversidade. O gestor precisa comprar a ideia e se envolver pessoalmente com o assunto; do contrário, a engrenagem emperra e os avanços não acontecem.

Voltando aos anos 1980, foi neste período que a diversidade ganhou status de ferramenta de gestão nas empresas norte-americanas. Especialistas recomendavam se preocupar com esta questão para evitar processos trabalhistas motivados por descumprimento às ações afirmativas. Além disso, o relatório Workforce 2000 apontava mudanças drásticas na força de trabalho do terceiro milênio. As empresas seriam menos brancas e masculinas, o que exigiria dos líderes habilidade para lidar com as diferenças.

Pesou também o contexto político e econômico nos Estados Unidos. O governo conservador de Ronald Reagan não dava muito importância às políticas afirmativas, e as empresas tiveram que se mobilizar por conta própria para cumprir a legislação. Era o começo do discurso da responsabilidade empresarial.

No Brasil, o enfraquecimento da Ditadura Militar (1964 – 1985) e o processo de mobilização em torno da nova Constituição permitiram que grupos de mulheres, negros, LGBT e outros expusessem suas demandas de maneira mais clara. O caminho estava aberto para discutir a questão da diversidade no trabalho também por aqui, como veremos no próximo post.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Ricardo Sales

Ricardo Sales é consultor de diversidade, pesquisador e conselheiro consultivo. É formado pela USP, onde também realizou mestrado sobre diversidade mas organizações. Atua para algumas das maiores empresas do país. É conselheiro do Comitê de Diversidade do Itaú. Foi eleito pela Out&Equal um dos brasileiros mais influentes no assunto diversidade nas organizações e ganhou o Prêmio Aberje de Comunicação, em 2019. Foi bolsista do Departamento de Estado do Governo dos EUA e da Human Rights Campaign, sendo reconhecido como uma liderança mundial no tema diversidade. É também palestrante, professor da Fundação Dom Cabral e da Escola Aberje de Comunicação, colunista da revista Você SA e do Estadão, além de membro-fundador do grupo de estudos em diversidade e interculturalidade da ECA/USP.

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