26 de abril de 2023
BLOG Agenda 2030: Comunicação e Engajamento

A economia compartilhada e o modelo de rede neutra de fibra óptica

 

O   termo “economia compartilhada” não é novo. Lawrence Lessig, professor de Direito e fundador do Stanford Center for Internet and Society, é comumente apontado como o primeiro a usar o termo em 2008, em seu livro Remix: Making Art and Commerce Thrive in the Hybrid Economy.

Pioneira em estudos de novas economias, a autora April Rinne sustenta que “a economia compartilhada está focada no compartilhamento de ativos subutilizados, monetizados ou não, de forma a melhorar a eficiência, a sustentabilidade e a própria comunidade”. Em 2013, durante o Fórum de Davos, Rinne fez um relato pessoal de que 90% das pessoas com quem ela conversava não conhecia esse conceito.

Quando avançamos para 2023, a realidade é muito diferente. Impulsionados pela geração de millennials, mais preocupados com a redução de custos e o impacto no meio ambiente, a economia de compartilhamento ganhou tração e propósito. Esse mercado foi avaliado em US$ 149,9 bilhões em 2022 e deverá atingir US$ 793,7bilhões em 2028, segundo dados divulgados pelo Sharing Economy Market 2023 Report.

Tendo a tecnologia como grande viabilizadora, uma série de novos negócios e startups surgiram para facilitar a vida de quem utiliza estes serviços. Apesar de alguns prejuízos importantes durante a pandemia, como, por exemplo, o Uber que perdeu US$ 6,8 bi em 2020, a revista Fast Company aponta que este modelo está apenas evoluindo para atingir sua maturidade. E esta credibilidade tem sido importante para estimular as empresas a criarem ou expandirem seus negócios ao compartilhar seus recursos físicos e até intangíveis entre si dentro do mercado business-to-business (B2B).

No B2B, o mote é “fazer melhor com menos”, ou seja, gerar mais receita reduzindo custos e desperdícios, e, ainda, com menor impacto ambiental.
Navi Radjou, consultor de Inovação Liderança e membro da Judge Business School, da Universidade de Cambridge, aponta três grandes motivações para este avanço:

1. Econômica: com a crise atual, as empresas buscam reunir recursos para torná-los mais rentáveis;
2. Social: recrutamento de pessoas com dificuldade de se inserirem no mercado de trabalho;3. Ambiental: Compartilhar recursos (equipamentos, peças de reposição, etc.) além de reutilizá-los.

Radjou conclui que o “valor econômico das transações B2B é de cinco a dez vezes maior do que o das atividades B2C. Os segmentos são diversos; a Civica Rx, por exemplo, é um grupo americano sem fins lucrativos que agrega a demanda dos hospitais para reduzir o custo dos medicamentos, além de estabilizar a entrega e reduzir despesas operacionais de medicamentes críticos. Serviços básicos de estocagem ganham players como a europeia SpaceFill, uma plataforma proprietária de armazéns que disponibiliza instalações subutilizadas, alugando-as sob demanda.

O que são redes neutras?

Levando em consideração esta tendência de economia compartilhada B2B e o aumento de demanda por tecnologia, destaca-se o modelo de negócio de rede neutra de fibra óptica. Este modelo consiste no compartilhamento de infraestrutura de fibra óptica, que pode ser feito com operadoras, provedores e tel-techs de diferentes portes e regiões do país. Com isso, essas empresas conseguem proporcionar aos seus clientes acesso à internet de ultra velocidade de forma rápida, impulsionando assim,o surgimento de novos negócios e o desenvolvimento regional. De acordo com o relatório “Redes de fibra neutra: por que construir quando você pode alugar? ”, publicado em março de 2023 peloo Banco BTG, separar a infraestrutura de telecomunicações da empresa de serviços voltada para o consumidor final está ganhando tração em todo o mundo. As razões são várias, passando por questões regulatórias ou financeiras, como a necessidade de acesso a capital para expansão ou redução de custos, ou ainda, a eficiência operacional com a terceirização da infraestrutura para evitar construções desnecessárias.

No Brasil o conceito de rede neutra também pode ser um grande viabilizador da inclusão digital. Segundo dados publicados pela Anatel, cerca de 36% da população brasileira não tem acesso à internet de alta velocidade. Em contrapartida, em discussões durante o evento MWC 2023 (Mobile World Congress), pontuou-se que haverá um aumento de 24 vezes no consumo de dados nos próximos dez anos. Ao chegar em regiões mais remotas ou com baixa conectividade, onde grandes operadoras muitas vezes não conseguem priorizar investimentos ou pequenos provedores não logram expandir rapidamente, havendo disponibilidade de fibra óptica por rede neutra, (HP – Homes Passed) a conexão do usuário pode ser imediata (HC – Homes Connected).

No Seminário de Políticas de Telecomunicações realizado em fevereiro de 2023, representantes da sociedade civil apontaram que a questão da ampliação da infraestrutura de telecomunicações ainda não está resolvida. A agenda de conectividade é algo que deve nortear políticas públicas do setor de comunicações do governo.

Sobre ampliação de infraestrutura, o Ministério das Comunicações ponderou que os recursos disponibilizados do FUST, Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações, incluem R$ 600 milhões de recursos reembolsáveis e R$ 48 milhões de recursos não reembolsáveis, com foco na inclusão digital, por meio de iniciativas e programas que estão ampliando a conectividade.

Nesse cenário, o modelo de compartilhamento de rede neutra de fibra óptica vai permitir o avanço da democratização da internet e da transformação digital no país. Na agenda estabelecida pela ONU com governos, empresas e sociedade civil, foram definidos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), focados nos principais desafios de desenvolvimento socioeconômico e ambientais do Brasil e do mundo. Tendo a economia compartilhada como base de seu modelo de negócio, ”Garantir educação inclusiva e equitativa de qualidade”, “Promover oportunidades de aprendizado ao longo da vida para todos” (ODS 4), e “Reduzir a desigualdade entre os países e dentro deles” (ODS 10) são alguns dos ODS viabilizados e potencializados pelas redes neutras.

Vale considerar ainda que com um ciclo de vida mais longo que tecnologias legadas, a fibra óptica consome 11 vezes menos energia quando comparada ao cobre, característica ligada diretamente a ODS 13 que inclui ”Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos”, além de possuir uma vida útil cinco vezes maior, o que reduz significativamente a manutenção dos cabos e equipamentos, bem como a quantidade de resíduos gerados pelo setor. Esse último item está ligado ao  ODS 9 no fomento da meta “Construir infraestrutura resiliente, promover a industrialização inclusiva e sustentável, e fomentar a inovação”.

Afirmamos, assim, que as redes neutras tangibilizam um modelo de serviço compartilhado no setor de telecomunicações, se propondo a ser  um importante vetor para uma sociedade mais justa e negócios mais sustentáveis, apoiando  a viabilização da  Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável do país e da sociedade.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Fábio Peviani

Engenheiro Ambiental com pós graduação em Gestão de Projetos pela ESALQ/USP, atua há mais de 10 anos na área de Sustentabilidade com foco em gestão ambiental e implantando projetos de gestão de carbono. No ano de 2023, aceitou o desafio de fazer parte do time de Sustentabilidade da V.tal, sendo o responsável pelo tema Meio Ambiente na companhia.

Juliana Pasqualini

Publicitária com Pós-Graduação em Gestão Estratégica de Comunicação Organizacional e Relações Públicas pela USP, atua há 14 anos com engajamento de públicos, mobilização socioambiental e estratégia de Sustentabilidade Corporativa. Em setembro de 2022, se uniu ao time da V.tal para criar a gerência de Sustentabilidade e ESG.

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