21 de julho de 2009

O lugar dos símbolos

Marc Augé, antropólogo francês, em seu livro Não-lugares – Introdução a uma
antropologia da supermodernidade
, traz um útil conceito àqueles que se
dispõem a repensar as políticas e o planejamento e a operar as ações de
comunicação com os empregados, mais conhecida pela geográfica expressão
‘comunicação interna’, que deveria ser abolida do vocabulário. Afinal, cada vez
mais integrados pela tecnologia digital e pela vontade de viver em ambiente
democrático, todos pretendem estar neste mundo.

De volta ao conceito definido por Augé, os não-lugares são os espaços que não
valorizam os aspectos simbólicos de nossa existência e de nossa identidade.
Ambientes em que predomina o instrumental, o fazer preso ao presente, sem marcos e mitos fundadores e sem perspectivas. Nos não-lugares o futuro é sempre quantitativo, a esperança não tem significado. É o Jano decapitado e o ritual do novo ano desfeito. Joseph Campbell interpretaria o não-lugar de Augé como o espaço que impossibilita a trajetória do herói.

Exemplos fortes de não-lugares? A maioria das fábricas, com linhas retas e
corredores de produção; os escritórios impessoais e brancos; os fast-food,
assassinos do ritual da alimentação e da comensalidade; os necrotérios, os
hospitais, os asilos que escondem a morte, a doença, a velhice. Uma aluna me
falou, sabiamente, que Vinícius de Moraes e Tom Jobim jamais comporiam Garota de Ipanema em um fast-food

Um ser dos símbolos

A comunicação com os empregados, que se quer excelente, deve ser a expressão
de empresas que se pretendem lugares, como Simônides, poeta e pai da memória, propôs na tradição clássica grega: lugares assentados em simbologia e imagens fortes. Lugares são as moradas da memória dos empregados, dos consumidores, das comunidades, da sociedade. Lugares se contrapõem ao excesso de informação e permitem que ela se transforme em conhecimento.

Como muitos já afirmaram, o homem é um ser dos símbolos. Em várias
organizações, a comunicação com os empregados, desidratada de simbologia, os
transforma em extensões das máquinas.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Paulo Nassar

Diretor-presidente da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje); professor titular da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP); doutor e mestre pela ECA-USP. É coordenador do Grupo de Estudos de Novas Narrativas (GENN), da ECA-USP; pesquisador orientador de mestrado e doutorado (PPGCOM ECA-USP); pesquisador da British Academy (University of Liverpool) – 2016-2017. Entre outras premiações, recebeu o Atlas Award, concedido pela Public Relations Society of America (PRSA, Estados Unidos), por contribuições às práticas de relações públicas, e o prêmio Comunicador do Ano (Trajetória de Vida), concedido pela FundaCom (Espanha). É coautor dos livros: Communicating Causes: Strategic Public Relations for the Non-profit Sector (Routledge, Reino Unido, 2018); The Handbook of Financial Communication and Investor Relation (Wiley-Blackwell, Nova Jersey, 2018); O que É Comunicação Empresarial (Brasiliense, 1995); e Narrativas Mediáticas e Comunicação – Construção da Memória como Processo de Identidade Organizacional (Coimbra University Press, Portugal, 2018).

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