06 de junho de 2016

Diversidade: muito além do simbólico

Na quarta-feira, dia 11 de maio, o Instituto Ethos cravava com um único número o que nossos olhos comprovam diariamente: 150 anos para acabar o abismo brutal na proporção entre negros e brancos e homens e mulheres nos cargos executivos do país, caso seja mantido o ritmo de evolução das políticas inclusivas.

No dia seguinte, fomos atropelados novamente pela realidade: a foto do presidente interino Temer e de seu ministério homogeneamente retrô – todos homens brancos e grisalhos, que combinavam até no estilo do terno, para não descermos nas demais coincidências de boa parte dos currículos. Escolha pragmática, que privilegiou caciques de legendas que garantirão amplo apoio do Legislativo ao governo – alguns disseram. É, pode ser, mas um caminho que acabou ajudando a revelar, por tabela, o quanto o Congresso também está distante das ruas e segue sem querer entender o recado da população, que não se sente mais representada pela classe política.

Mais 24 horas e uma surpreendente notícia, vinda da Suíça, em plena sexta 13, parecia zombar das nossas agruras. O presidente da FIFA anunciava a escolha de um profissional com currículo e perfil de chanceler, vindo da ONU, para ocupar a secretaria geral da poderosa entidade: a senegalesa Fatma Samoura, mulher, negra e “forasteira”, até então, no mundo do futebol.

Enquanto isso, seguia se multiplicando, por aqui, a repercussão negativa da escolha de um ministério descasado da diversidade, divorciado dos tantos rostos e vozes que representam a nossa sociedade.

E não é que chegou a segunda-feira nos trazendo outra desafiadora novidade – pena que, novamente, direto da Europa: o manifesto lançado por 17 ex-ministras francesas, da esquerda e da direita, contra o assédio sexual na política.

“Denunciaremos sistematicamente todos os comentários sexistas, os gestos fora do lugar, os comportamentos inapropriados”, sentenciou o grupo, do qual faz parte também a poderosa diretora gerente do FMI, Christine Lagarde. “Estimulamos todas as vítimas de assédio sexual a denunciar os atos à justiça”, completava o texto.

Como assim? Não podiam ter anunciado isso no mês que vem? Logo em cima do nosso “desgosto” de não ter sequer uma “vaga para a diversidade” no primeiro escalão?

Melhor assim, tudo em cima do laço e na mesma hora, para que os avanços nos atropelem e escancarem o quanto precisamos caminhar, ou melhor, correr, para vencermos esses abismos.

A diversidade é chave para a representatividade.

E a representatividade, chave para a construção de uma sociedade mais plural, mais justa, mais próspera, mais para todos e menos para poucos – ou seja, verdadeiramente sustentável.

Nós, da comunicação, temos uma contribuição importante a dar para essa “virada de chave” no nosso país. Longe de pensar apenas no simbolismo de atos, podemos e devemos provocar tomadas de decisões que promovam, na prática, a inclusão e a pluralidade. Seja nos quadros das organizações, nas definições de investimentos e de projetos, nas escolhas de patrocínios e parceiros, e até mesmo na condução das próprias ações de comunicação, por que não?

Tornar-se mais relevante por refletir os anseios da sociedade, reforçar as conexões com o consumidor cidadão. Esses são caminhos seguros de construção e proteção reputacional. De uma marca, de uma empresa, de um país.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Carina Almeida

Formada em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e em Comunicação pela PUC, é CEO da Textual Comunicação, uma das mais premiadas agências de comunicação corporativa do país. Carina lidera há 21 anos projetos de comunicação no Brasil e no exterior, que renderam à Textual a conquista de 31 prêmios, entre eles 26 edições do Aberje, concedido pela Associação Brasileira de Comunicação Empresarial. Antes de criar a Textual, Carina trabalhou durante sete anos na editoria de economia do Jornal do Brasil.

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