A boa conduta saiu de moda na comunicação?

É comum a dúvida sobre a importância ou os limites da exposição pessoal, facilitada pelas mídias digitais. Se por um lado o atual contexto de crise de confiança em diversos atores da sociedade (como aponta o Trust Barometer 2022, estudo global sobre confiança e credibilidade) exige uma comunicação mais próxima, frequente e humana, por parte das lideranças, por outro lado o foco demasiado somente no aumento e na atenção da audiência pode trazer riscos à respeitabilidade.
O filósofo Diógenes costumava dormir dentro de um barril nas ruas da Grécia antiga, escandalizando seus contemporâneos que o chamavam de “kinikos” ou “como um cão”, dando origem ao termo “cínico”. Seu comportamento era uma forma de chamar atenção e dramatizar o exemplo da pobreza extrema como virtude. Ele também costumava ser visto com uma lanterna durante o dia dizendo que estava em busca de um homem honesto.
Na era das mídias sociais, é comum notar mais exemplos de busca por atenção a qualquer custo e em repercussão de qualquer assunto, mesmo de forma superficial, inclusive por parte de líderes empresariais e pessoas públicas importantes.
Recentemente, Adam Kirsch, editor do The Wall Street Journal (WSJ), citou o que significa ser uma pessoa respeitável através de Max Weber em seu clássico “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, resgatando o argumento do sociólogo alemão de que em sociedades capitalistas os negócios são mais do que uma forma de ganhar a vida. Mais do que isso, acumular riqueza era um chamado moral e um caminho teológico de justificar a vida na Terra. Essa é uma possível explicação sobre os motivos pelos quais homens de negócios influenciados por essa ética “sempre permaneceram dentro dos limites da correção, garantindo que suas condutas morais fossem impecáveis”, como escreveu Weber.
Assim como o exemplo de Andrew Carnegie, o grande barão pioneiro da indústria siderúrgica mundial, também citado por Adam Kirsch em seu artigo no WSJ como uma referência na construção e manutenção da respeitabilidade, no Brasil, também temos líderes empresariais que geraram e distribuíram riqueza com respeitabilidade e reputação inabalável, de forma disciplinada e sóbria.
O filósofo e economista, Francis Fukuyama, há décadas já sinalizava que, entre as virtudes sociais, a confiança seria a principal fundação da prosperidade global. Influenciado também pela ética das virtudes de Tomás de Aquino, tenho a convicção de que é possível ganhar popularidade e até mesmo poder de forma questionável, mas que é mandatório que um líder inspire confiança para poder se alinhar à expectativa comum de centenas ou milhares de pessoas. O caminho para que a confiança seja resiliente, exige, porém, a respeitabilidade pelos [e por parte dos] outros.
A falta de respeitabilidade pode explicar parte do problema da crise de confiança na sociedade atual. Mais do que nunca, precisamos resgatar e exigir a retomada do sentido e da prática dessa virtude no que comunicamos e fazemos.
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