27 de setembro de 2017

Gerenciar riscos e administrar crises.

A gestão de riscos é ação preventiva e anterior ao gerenciamento de crises. A comunicação estratégica faz parte inseparável dos dois processos. A capacitação para situações e cenários fora do controle de nossas planilhas e apresentações de power point deve ser pauta permanente das lideranças num mundo cada vez mais complexo, conectado e imprevisível.
US Navy Coast Guard
                                   US Navy Coast Guard

Recentemente vi uma entrevista de um militar da Guarda Costeira americana falando sobre seu treinamento para as missões realizadas em tempos de paz e em tempos de guerra. O mais impressionante da matéria foi quando o apresentador perguntou como faziam quando as coisas davam errado durante a missão. A resposta tranquila do militar me surpreendeu quando ele afirmou que todo tipo de erro ou imprevisto era mapeado antes da execução e que o grupo treinava até 4 mil horas (!) para dar conta dessas situações. A sintonia e a comunicação do grupo era tanta que ao final do treino, até a respiração do time estava no mesmo nível. Planejamento, comunicação e muito treino são a base para realizar uma missão de sucesso.

Trazendo o exemplo para dentro das nossas empresas, o que a entrevista me confirmou mais uma vez? Que a gestão de riscos, a comunicação e a capacitação dos profissionais envolvidos diretamente em determinadas situações e decisões podem reduzir as chances de erros e de que estes erros se transformem em desastres. O melhor da entrevista foi ter um exemplo prático de como uma organização deve se preparar para alcançar resultados, evitar erros de execução, mas também se preparar para quando e se o pior acontecer no momento em que estiver concretizando seu plano de ação.

O Brasil não tem uma cultura arraigada ou ao menos o hábito valioso de planejar as coisas. Vejam vocês quantos exemplos de entrega de orçamento, dentro de algumas empresas, acontece antes mesmo do planejamento para o ano seguinte. Na nossa própria área de comunicação! Pensamos em tarefas e elencamos atividades muitas vezes sem conexão entre si e sem alinhamento com as outras equipes ou com o planejamento estratégico da companhia. Além da falta de planejamento, a falta de integração e de comunicação entre os departamentos conspira contra o sucesso da missão empresarial. Muitas empresas sequer esclarecem as suas decisões estratégicas ou desdobram metas corporativas de forma alinhada definindo papéis, responsabilidades e direcionamentos para os seus empregados. Querem um exemplo? Quantos treinamentos de combate a incêndios ou evacuação do escritório você realizou este ano? Este assunto foi sequer comentado nas salas de reunião, o que fazer em situações de incêndio ou inundação?Você tem ao menos um manual impresso na sua gaveta sobre uma situação como essa?

Na área pública nem se fala, me parece muito pior. O próprio orçamento anual é rasgado ao sabor dos conchavos políticos e interesses de curto prazo. O país não sabe qual é o seu projeto de nação e o Estado peca na representatividade da nação ao se transformar num trambolho burocrático movido por interesses de grupos de influência e pelo corporativismo estatal. A cada novo ministro navegamos ao sabor da sua vaidade pessoal ou da ideologia da hora. Em alguns momentos, acertamos. Em outros retornamos ao caos. Mas voltemos ao mundo dos negócios e da iniciativa privada, bem mais preparada, teoricamente, para criar modelos de sucesso na gestão de metas e de riscos.

Movida pela saudável competição e pela superação de suas conquistas, as empresas deveriam ser também as campeãs no gerenciamento de riscos e no planejamento de ações para mitigar quaisquer erros, crises ou imprevistos. A leitura de cenários e a capacitação das equipes deveria ser um processo alinhado ao do planejamento estratégico. Tudo azeitado por fluxos inteligentes e permanentes de comunicação interna em sintonia com marketing, comercial, operações, RI e jurídico, entre outras áreas. O fato é que aqui também temos problemas. As horas de treinamento, por exemplo, nem se comparam ao exemplo do militar acima descrito. as prioridades então, quais são? Guardando as devidas proporções, podemos dizer que uma organização militar é diferente de uma empresa privada. Mas se o mercado é uma verdadeira guerra, a analogia poderia ser bastante útil. O exemplo deve ser seguido.

A gestão de riscos é ação preventiva e anterior ao gerenciamento de crises. A comunicação estratégica faz parte inseparável dos dois processos. A capacitação para situações e cenários fora do controle de nossas planilhas e apresentações de power point deve ser pauta permanente das lideranças num mundo cada vez mais complexo, conectado e imprevisível.

 

Foto: www.gocoastguard.com/active-duty-careers

 

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Luiz Antônio Gaulia

Jornalista. Mestre em Comunicação Social pela PUC-Rio. Especialista em Comunicação Empresarial pela Syracuse University/Aberje. Pós-graduado em Marketing e em Comunicação Jornalística. Ex-Gerente de Comunicação da CSN - Cia. Siderúrgica Nacional e da Alunorte (PA). Atuou no O Boticário e no Grupo Votorantim. Realizou projetos de comunicação corporativa e sustentabilidade para a VALE, a Light, Petrobras, Ajinomoto e Norsul. Foi Gerente de Comunicação Corporativa e Sustentabilidade do Grupo Estácio. É Diretor da Race Comunicação e professor da FGV Rio e da ESPM SP.

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