É proibido chorar.
O craque Neymar chorou em campo e o tribunal das redes sociais não deu trégua, partiu para o ataque. O craque foi assunto de centenas de memes, piadas e comentários. A grande maioria eram negativos. Crucifiquem o homem! A imagem do jogador chorando me fez pensar imediatamente nas empresas. Em termos corporativos, o jogador/executivo bateu a meta e trouxe resultado, mas depois do esforço desabou emocionalmente. Quantas pessoas não sofrem essa somatização após a pressão por resultados? Muitos executivos que não choram acabam mesmo é tendo um ataque cardíaco ou úlcera gástrica, não é?
Controle seus sentimentos é a ordem durante o expediente. Depois você pode encher a cara no happy hour, beber todas e assim terminar de engolir aqueles sapos do horário do trabalho. Estou falando alguma mentira? É proibido chorar nas corporations. A máquina organizacional só admite seres racionais cuja proclamada inteligência emocional é na verdade sinônimo para o sumiço da emoção. Emotivos não são bem-vindos nas reuniões de follow up, nas análises frias de planilhas assépticas, cheias de dados numéricos e metas para fisgar cada vez mais carteiras de clientes. Sem perdão. Tudo bem, são as leis do mundo dos negócios. Mas qual o problema das emoções?
Lembro que um diretor me disse uma vez que ao colocar o capacete, o operário deveria esquecer a vida lá fora e focar no trabalho. Fácil falar. Difícil de fazer. Não somos máquinas. Talvez por isso os robôs estejam sendo aclamados como a nova solução para o mundo do trabalho. Fale com (o) o robô, ele não chora. Calma, não estou sendo contra a racionalidade e a tomada de decisões calculada sobre fatos e dados. Estou apenas colocando os sentimentos na roda desta nossa conversa porque um ser-humano é um todo indivisível, que possui cérebro e coração, corpo e espírito. Falar sobre nossas emoções faz bem para a alma. Os feedbacks não deveriam ser sobre isso?
Apesar dos discursos e das novidades da gestão moderna, baseada em slogans e modismos do momento, empregados com alguns anos na estrada corporativa, tendo passado por fusões, reestruturações, reengenharias, fechamento de fábricas, greves e demissões tendem a ficar indiferentes. Buscam controlar suas emoções para reduzirem o stress e não se desiludirem com promessas não cumpridas ou discursos de chefias cínicas. O fato é que a busca por líderes durões ainda é o mantra dentro ou fora do campo corporativo. Aliás, ainda é parte do inconsciente coletivo da sociedade brasileira como podemos ver nas pesquisas eleitorais que apontam o interesse popular por candidatos tipo linha-dura, que saberão como fazer as coisas andarem de fato. Sem chororô.
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