22 de novembro de 2018

Dicas para construção de suas narrativas, pela University of Florida

Contar histórias é uma das maiores ferramentas que temos para engajar comunidades em questões sociais e ambientais complexas, de forma a impulsionar a mudança de crença e comportamento. As pessoas são muito mais propensas a se lembrar de informações se chegarem a elas na forma de uma história. Boas histórias também têm uma incrível capacidade de reduzir a contra-argumentação em questões de divisão de opiniões. E quando as pessoas são transportadas por uma grande história, elas se lembram dos acontecimentos da história e sentem que as experiências são quase suas. Como resultado, a história tem o poder de influenciar futuras crenças sobre questões relacionadas.

Muitas das questões sociais atuais – incluindo alterações climáticas, reforma da justiça criminal, violência sexual, justiça racial, igualdade na saúde e qualidade de educação são complexos, e os problemas associados a eles resultam de políticas interligadas, práticas institucionais, normas culturais e modos de pensar. Costumamos falar sobre a resolução destes problemas utilizando dados e termos abstratos como “equidade”. No entanto, esta forma de falar sobre questões complexas deixa espaço para as pessoas inserirem seus pressupostos e preconceitos sobre o que essas palavras significam. Bem, na verdade, é mais difícil tomar medidas por causa de um ótimo gráfico ou lista de dados.

 

 

As organizações deveriam então contar histórias que ajudem as pessoas a entender as diferentes complexidades que moldam o problema que estão enfrentando. Isto é particularmente verdadeiro quando se comunica com pessoas que não vêem facilmente problemas como preconceito de gênero no local de trabalho ou falta de acesso a cuidados de saúde de qualidade como resultado de um sistema maior. A ciência do storytelling, como um recurso de como contar histórias intencionalmente para superar as barreiras psicológicas que podem inibir crenças e comportamentos e incentivar mudanças, fornece insights que podem ajudar as organizações a serem mais convincentes e persuasivas.

Pesquisadores da Universidade da Florida têm estudado diferentes aspectos da narrativa e trazem estas dicas:

 

1. Conte histórias sobre pessoas.

Histórias sobre questões complexas são mais bem contadas através da vida de pessoas cujas experiências ilustram os vários sistemas em jogo. Karin Wahl-Jergunson constatou que 62% das histórias eram sobre amplas questões sociais, contadas através da lente de indivíduos cujas vidas tinhm exemplificado esses problemas.

Histórias que ancoram questões complexas na vida dos indivíduos não são apenas mais envolventes, mas também mais propensas a mudar o comportamento das pessoas. Paul Slovic, psicólogo social da Universidade de Oregon, estuda por que as pessoas são apáticas em relação a informações sobre genocídio e crimes maciços contra a humanidade. Ele argumenta que as pessoas experimentam entorpecimento psíquico – a retirada de atenção e empatia – quando apresentadas com uma grande quantidade de dados em torno de uma atrocidade. Descobriu que à medida que a magnitude das mortes e atrocidades aumentam, nossa resposta emocional se torna cada vez menor.

Então, não tenha dúvida: histórias podem ser muito mais eficazes para mudar crenças ou comportamentos quando as pessoas se identificam com um personagem – incluindo suas normas culturais, status socioeconômico, identidades sociais, localização geográfica, experiência de vida ou valores.

 

2. Dê sua audiência a história em partes.

As melhores histórias deixam espaço para o seu público juntar as peças. Pense nos seus filmes e livros favoritos. A moral da história provavelmente nunca foi explicitamente declarada, mas mostrada através das experiências dos personagens. Da mesma forma, nossa tarefa é contar histórias sobre questões sociais que permitam que nosso público faça parte do trabalho. Em outras palavras, ao invés de dar a eles quatro, precisamos dar a eles dois mais dois.

 

3. Seja estratégico com seus espaços vazios.

Ao contar histórias sobre questões complexas para pessoas que discordam de nós, o que incluímos na história é tão importante quanto o que deixamos de fora. As pessoas chegam a histórias com suas próprias suposições e perspectivas, e nós temos que dar conta delas. Para explicar o viés, devemos deixar espaço vazio para as pessoas verem a si mesmas e seus valores e refletirem na história. Ao mesmo tempo, precisamos criar espaços completos com detalhes sobre fatores sistêmicos que corrigem vieses e suposições. Contar histórias que começam com a visão de mundo das pessoas, no entanto, e sobrepõem-se a seus preconceitos, pode ser eficaz para obter seu apoio.

 

4. Pinte uma imagem na mente do seu público.

As organizações geralmente confiam em conceitos abstratos como equidade, inovação e justiça para comunicar ideias grandes e complexas. No entanto, esses conceitos deixam espaço para as pessoas fazerem suposições sobre o que elas significam. O que justiça significa para os conservadores será diferente do que se entende pelos liberais, por exemplo. Linguagem vaga pode sinalizar uma posição política específica sobre um assunto ou solução, levando as pessoas a evitar ou negar esse problema ou solução, se sentirem que isso ameaça suas preferências. Em vez de usar conceitos abstratos, a proposta dos pesquisadores é usar uma linguagem visual que mostre como os problemas e as soluções associadas a esses conceitos se parecem na mente de nosso público. É mais provável que as pessoas lembrem sua mensagem e tenham menos probabilidade de interpretar mal suas informações quando você usa a linguagem visual. Fazer isso garantirá que seu público saiba exatamente do que você está falando quando disser “inovação” ou “equidade” e evitar o desencadeamento de possíveis barreiras psicológicas.

 

As histórias são uma das ferramentas mais poderosas que temos para aumentar a compreensão e construir o envolvimento com questões complexas. A aplicação da ciência da narrativa pode ajudar as organizações a serem mais eficazes em encontrar e contar histórias que impulsionam a crença e a mudança de comportamento. Veja o texto original em inglês aqui: https://ssir.org/articles/entry/how_to_tell_stories_about_complex_issues

 

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Rodrigo Cogo

Rodrigo Cogo é o curador do Sinapse Conteúdos de Comunicação em Rede e responsável pela distribuição digital dos canais integrantes da plataforma. Formado em Relações Públicas pela Universidade Federal de Santa Maria, é especialista em Gestão Estratégica da Comunicação Organizacional e Mestre em Ciências da Comunicação, com estudos voltados para a Memória Empresarial e Storytelling, ambos pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (SP). Atuou na Aberje por 14 anos, passando pelas áreas de Conteúdo, Marketing e Desenvolvimento Associativo e tendo sido professor em cursos livres e in company e no MBA da entidade por 10 anos. É autor do livro "Storytelling: as narrativas da memória na estratégia da comunicação".

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