15 de dezembro de 2017

Celso Amorim fala sobre a reputação do Brasil

Ex-Ministro e Embaixador Celso Amorim defende que país tem atributos reputacionais que nenhum governo tira.

O ex-ministro das Relações Exteriores do Brasil (1993-1995 e 2003-2011) e ex-ministro da Defesa do Brasil (2011-2015), Celso Amorim, recebeu a mim e a Tato Carbonaro, Gestor de Relações Institucionais e Internacionais da Aberje e doutorando no PPGCOM-USP, em sua residência, no Rio de Janeiro, para um bate-papo sobre a reputação do Brasil.

Tato Carbonaro, Celso Amorim e Tatiana Maia Lins
Tato Carbonaro, Celso Amorim e Tatiana Maia Lins

A conversa franca e igualitária, em que o ex-ministro e diplomata, ao ser perguntado como gostaria de ser chamado respondeu: “Bem, meu nome é Celso, este é o nome que meus pais me deram, você pode me chamar como quiser”, discorreu sobre análises de períodos históricos e, embora ele considere a situação brasileira muito difícil atualmente, ele é categórico ao afirmar que vamos sair dessa falta de perspectiva quando tivermos um governo legítimo no poder.

Esta conversa foi publicada pela Revista da Reputação e serve, sobretudo, como um relato, para a posteridade, do tempo em que vivemos.

Destaco aqui um trecho que acho super relevante para quem está interessado em refletir sobre a reputação do país.

Tato: Existem alguns rankings de reputação de países que mostram que o Brasil teve uma queda de reputação há uns quatro anos e estabilizou a reputação, não é, Tati?

Tatiana: Sim, o Brasil vinha em um crescente de reputação e por causa de toda essa crise da Lava-Jato e como consequência da Lava-Jato, a percepção positiva interna no Brasil teve uma queda muito grande e isso fez com que a nota geral do Brasil caísse no ranking, mas a percepção positiva externa se manteve mais ou menos na mesma.

Celso: O Brasil é muito grande. As pessoas nem entendem o que está se passando no Brasil e aí, para quem vê de fora, a mudança é pouco significativa. Mas o brasileiro precisa entender que isso vai passar. O Brasil é muito rico e temos muita diversidade. Não estou dizendo que não haja problemas, claro que há. Mas se vê muita coisa boa acontecendo no âmbito social. Por exemplo, a sociedade civil ajudando refugiados e imigrantes e essa é uma atitude positiva e que não se vê em outras partes do mundo: a tolerância que o Brasil mostra.

Tato: Você, que viaja muito e tem contato com muitas pessoas em todo o mundo, acha que apesar das más notícias, ainda há simpatia em relação ao Brasil?

Celso: O Brasil tem coisas estruturais que nenhum governo tira. Ele é o quinto maior país em território, quinto maior país em população, com uma população altamente miscigenada, não estou falando de democracia racial porque não é o caso, mas temos uma população altamente miscigenada com várias origens e as pessoas convivem bem, com pouco preconceito com o que vem de fora. Tem quase 17 mil km de fronteiras, é a terceira maior fronteira do mundo e não tem guerra com os vizinhos há mais de 100 anos.

Isso é estrutural, é parte da definição de Brasil. Não há nenhum outro país no mundo com dez vizinhos que não tenha tido guerra nos últimos cem anos.  Os fatores estruturais, a cultura, a música, tudo isso entra na conta da reputação do Brasil.”

A conversa na íntegra pode ser lida em Celso Amorim: “A reputação do Brasil não mudará se não mudar a realidade”

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Tatiana Maia Lins

Fundadora da consultoria Makemake Reputação, é mentora de lideranças e professora na Escola Aberje, na ESPM, na UnB, na FAAP e na USP. É autora do livro Reputação e Valor Compartilhado - Conversas com CEOs das empresas líderes em ESG, Editora Aberje (2022) e foi retratada em março de 2023 como uma liderança ESG moldando o futuro dos negócios no Brasil pela Women to Watch Brasil.

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