27 de fevereiro de 2019

3 causas que mexeram com o Oscar 2019

Representatividade racial esteve entre as principais bandeiras do evento

A 91ª edição do Oscar, que aconteceu no domingo (24), foi feita de contrastes – e algumas polêmicas – alternando entre escolhas previsíveis e momentos históricos para a representatividade racial.

Se por um lado mostra que nos últimos anos algumas lições foram aprendidas, por outro, ainda sinaliza o medo da Acadêmia de sair da sua zona de conforto. Mas uma coisa é certa: o Oscar já não é mais tão branco.

Confira abaixo as 3 grandes causas – e seus principais integrantes – que nortearam a premiação mais importante do cinema.

Representatividade Racial

A premiação de Green Book: O Guia, como Melhor Filme, resume muito do que foi a noite em Los Angeles: um recado da Academia a favor da integração racial.

A escolha foi conservadora – um filme de roadtrip no qual a amizade acaba vencendo o racismo -, mas não menos polêmica.

Uma das saias-justas envolveu o produtor Nick Vallelonga, acusado de islamofobia depois de ter um tweet de 2015 divulgado nas redes. Já uma outra envolveu o diretor do filme, Peter Farrelly, que pediu desculpas à Cameron Diaz depois de admitir que havia mostrado suas partes íntimas para a atriz durante uma reunião.

Os episódios, no entanto, não foram suficientes para apagar os méritos de Mahershala Ali, que acabou levando o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante. Com isso, ele se tornou o primeiro artista negro a repetir a vitória na mesma categoria e apenas o segundo a ter duas estatuetas do Oscar em casa.

A vitória do longa na categoria de Melhor Filme foi descrita pelo portal Vox como um lembrete de que “embora o Oscar tenha tentado desesperadamente diversificar seus membros para incluir mais mulheres, negros e pessoas mais jovens, a mudança de pensamento ainda ocorre de maneira lenta”.

Spike Lee declarou abertamente não ter gostado nenhum pouco da vitória do filme, mas a essa altura da noite ele já havia recebido uma boa notícia: o prêmio de Melhor Roteiro Adaptado, por Infiltrado na Klan. Foi a primeira estatueta competitiva de Lee em todo o seu tempo de participação no prêmio ele havia recebido apenas um Oscar honorário em 2015 pelos seus mais de 30 anos de carreira.

Em seu discurso, Lee homenageou a herança negra dos EUA, relembrou o genocídio do povo indígena e pediu que nas próximas eleições presidenciais as pessoas escolham “o amor ao invés do ódio”.

Regina King levou o prêmio de atriz coadjuvante, pelo filme Se a Rua Beale Falasse, um longa que trata sobre a luta para libertação de um homem negro preso injustamente. Ao ganhar o Globo de Ouro, pelo mesmo papel, a atriz prometeu que seus futuros projetos terão, no mínimo, 50% de mulheres.

Para completar, Ruth Carter e Hannah Beachler também fizeram história no Oscar ao se tornarem as primeiras afro-americanas a ganhar os prêmios de Melhor Figurino e Melhor Direção de Arte pelo trabalho em Pantera Negra.

Integração Cultural

Alfonso Cuáron representou a parcela latina no Oscar, com o prêmio de Melhor Direção pelo seu trabalho em Roma. Com a estatueta, ele é o quinto mexicano a ganhar na categoria nos últimos seis anos.

No discurso de vitória, o diretor afirmou que “vivemos uma era em que somos estimulados a não olhar para o outro, mas nós olhamos e [esta] é a função da arte”.

Roma ainda venceu na categoria de Melhor Fotografia e Melhor Filme Estrangeiro, mas com certeza sua maior contribuição ficou no campo das discussões sociais que conseguiu levantar.

A protagonista do filme, Yalitza Aparício, indicada ao prêmio de Melhor Atriz, não levou a estatueta para casa, mas despertou muitos debates sobre o preconceito. Ela foi vítima de diversos comentários que colocavam em dúvida seu mérito e criticavam o seu biotipo “que não seria adequado para concorrer ao Oscar.

Ainda na missão de diversificar os premiados e de promover a integração cultural, Rami Malek ganhou na categoria de Melhor Ator por sua interpretação de Freddie Mercury, em Bohemian Rhapsody.

Malek é filho de um imigrante egípcio, e foi assim que, pela primeira vez, os prêmios que envolvem atuação foram majoritariamente para as mãos de artistas não-brancos.

Em seu discurso, o ator falou sobre a importância da representatividade e abordou a necessidade de lutar contra a homofobia.

Igualdade de Gênero

A vitória de Absorvendo Tabu na categoria de Melhor Curta Documental também surpreendeu. A produção do Netflix trata sobre o estigma da menstruação na Índia.

Mas nem tudo são flores. Até hoje, apenas cinco produções dirigidas por mulheres foram indicadas à categoria de Melhor Filme e apenas uma levou a estatueta para casa. Isso em 2008.

Também houve espaço para as causas nos intervalos, com a estreia da campanha Dream Crazier, da Nike. Estrelado pela tenista Serena Williams o comercial chama a atenção para o preconceito de gênero nas frases em que as mulheres são taxadas de “loucas”.

Serena tem sido uma celebridade ativa no mundo das causas. No mês passado, a tenista protagonizou  comercial do aplicativo Bumble, que incentiva mulheres a buscarem posições de liderança.

*Este texto foi escrito por Renata Oliveira, analista de comunicação da CAUSE, que você pode encontrar no Linkedin.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Christian Miguel

Christian é diretor de Conteúdo e RP da CAUSE, consultoria que apoia marcas e organizações a identificar e fazer a gestão de suas causas. Antes disso, foi repórter e editor de EXAME PME, a publicação de Empreendedorismo do Grupo Abril, onde ingressou pelo Curso Abril de Jornalismo. Também fez parte da fundação do Estúdio ABC, a área de conteúdo para marcas da Abril, e dirigiu um núcleo de finanças na agência New Content, especializada em marketing de conteúdo. Ex-bolsista do Rotary Internacional no México e nos EUA, é um dos cofundadores do Agora!, movimento de ação política a partir da sociedade.

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