Ser CEO no Brasil exige resiliência em meio ao imprevisível

O painel “Comunicação e gestão: o desafio dos CEOs em gerir empresas brasileiras em meio ao caos global”, realizado durante o Aberje Trends 2025, reuniu seis presidentes de grandes empresas para uma conversa franca sobre o papel da liderança na construção de reputação e confiança. O evento aconteceu na última quinta-feira, 26 de junho, no Teatro Bravos, em São Paulo.
Mediado por Mariana Segala, diretora de redação do InfoMoney, o painel contou com a participação de Emir Calluf Filho, presidente da BHP Brasil; Gustavo Werneck, CEO da Gerdau; Priscyla Laham, presidente da Microsoft Brasil; Rogério Barreira, presidente da Divisão Brasil da Arcos Dorados; e Jerome Cadier, CEO da LATAM Airlines Brasil.
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No centro do debate esteve o protagonismo crescente dos CEOs nas estratégias de comunicação e ESG das empresas. Em um mundo marcado por desinformação, polarização, avanço da inteligência artificial e crise climática, a capacidade de comunicar com autenticidade e coerência tornou-se vital.
O que significa ser um CEO no Brasil?
Para os executivos, ser CEO no Brasil significa lidar com um contexto único. “As mudanças aqui acontecem em horas, não em dias, como no resto do mundo. Mas a resiliência e a criatividade do brasileiro são fora da curva”, afirmou Emir Calluf Filho. A complexidade, segundo eles, não está na função em si, mas no ambiente em que se opera.

Priscyla Laham destacou que o país impõe desafios regulatórios e operacionais, mas oferece também uma população criativa e empática. “O brasileiro é early adopter de tecnologia, o que torna o trabalho dinâmico e estimulante.” Já Rogério Barreira apontou as diferenças culturais como elemento essencial da liderança: “Antes de atuar no Brasil, trabalhei no México e precisei entender a cabeça do consumidor mexicano. Cada país exige uma escuta atenta”.

Para Jerome Cadier, o maior obstáculo no Brasil é a imprevisibilidade. “Não conseguimos prever, e isso gera insegurança. Por outro lado, estamos mais preparados para lidar com o inesperado”, disse. Gustavo Werneck completou: “Não é mais difícil ser CEO no Brasil. Os problemas são apenas diferentes”.
Reputação e coerência na comunicação
Os CEOs reforçaram que a comunicação deve ser pautada por autenticidade e consistência, especialmente em momentos de crise. “Nossa única defesa é ser absolutamente genuíno, senão a máscara cai”, afirmou Cadier, ecoando a ideia da “honestidade radical” apresentada na palestra anterior de Camila Achutti. “Em um cenário complexo como o brasileiro, precisamos ser coerentes o tempo todo”, reforçou Barreira.

Priscyla Laham defendeu que a presidência de uma empresa é, por si só, um ato de comunicação. “O presidente representa a empresa a todo momento. Ser autêntico, escutar e aprender é essencial”. “Quando a sociedade nos avalia, precisamos ter crenças sólidas e demonstrá-las claramente”, acrescentou Gustavo Werneck.
O grupo também compartilhou experiências sobre como integrar a comunicação às estratégias corporativas. Para Emir Calluf, “a comunicação tem que ser simples, pontual e dar a melhor mensagem possível no momento necessário”. Já Werneck destacou a importância de mudar a imagem do setor produtivo brasileiro, citando o caso da mineração: “Esse processo exige escuta ativa e comunicação contínua”.

O tema das tarifas comerciais foi tratado como exemplo de como a comunicação empresarial precisa equilibrar clareza, tecnicidade e empatia. Gustavo Werneck destacou o chamado “Custo Brasil”, calculado em R$ 1,7 trilhão, e ilustrou as disparidades estruturais entre países, como a diferença entre os times tributários nos Estados Unidos (com duas pessoas em uma operação) e no Brasil (com 123 pessoas na operação equivalente). A seu ver, essas assimetrias, devidas aos subsídios estatais oferecidos pela China, explicam a adoção de tarifas comerciais como forma de garantir a isonomia. Jerome Cadier complementou a reflexão com um alerta sobre o desafio de traduzir esse tipo de tema para o público geral: “É fácil atacar uma ideia em 15 segundos, mas é difícil encontrar alguém disposto a ouvir por dois minutos. Nosso papel é buscar uma resposta clara, mas que mantenha o engajamento.”

Sobre o papel da liderança na comunicação interna, os participantes foram unânimes: líderes precisam ser multiplicadores da cultura e da mensagem da empresa. “O maior desafio é desenvolver líderes que sejam responsáveis por se comunicar com suas equipes”, disse Cadier. “O gargalo voltou a ser o líder”, reforçou Werneck, ao apontar a necessidade de delegar para ter tempo de dialogar.
Comunicar é influenciar
O debate avançou para os impactos da reputação e os desafios da comunicação em um ambiente polarizado. Priscyla Laham destacou a responsabilidade das empresas no uso ético da inteligência artificial: “A Microsoft defende a regulamentação da IA. Isso traz segurança jurídica e é uma chance de o Brasil se tornar mais competitivo.” Ela afirmou ainda que a IA exige capacitação e letramento digital, e que não acredita que a tecnologia substitua pessoas: “O nome Copilot representa bem como vemos esse papel de apoio da IA na Microsoft”.

Já Rogério Barreira compartilhou a decisão da Arcos Dorados de manter as políticas de diversidade, equidade e inclusão no Brasil, mesmo após mudanças em outros países. “Ser diverso e inclusivo é humano. Isso tem a ver com coerência e com o que o cliente identifica na marca”.
Os participantes também refletiram sobre como medem o sucesso da comunicação interna. Para Priscyla, “é preciso ter conversas verdadeiras, mensagens claras e senso de pertencimento.” Barreira destacou os desafios de escalar a comunicação em uma operação com 70 mil colaboradores: “A forma como a informação chega para cada pessoa é diferente.” Já Werneck chamou a atenção para a necessidade de escutar com atenção real: “Hoje faço coaching para aprender a ouvir com os ouvidos, os olhos e o coração”.
Ao final do encontro, Mariana Segala perguntou se os executivos se consideravam influenciadores. Para Emir Calluf, não há como fugir desse papel: “Em uma grande empresa, não tem como não ser.” Priscyla completou: “Hoje, todo mundo é. CEOs devem ser modelo, coach e cuidar das pessoas.” Gustavo Werneck resumiu o desafio: “Temos que mudar a imagem do empresariado brasileiro”.
O Aberje Trends 2025 contou com patrocínio da Arcelor Mittal Brasil, Arcos Dorados, BASF, Bayer Brasil, BHP, Gerdau, Itaú, Latam Airlines, Novo Nordisk e Stellantis, com apoio da Cortex, CPFL Energia, Prospectiva Public Affairs Latam, Vivo e Tetrapak, e media partner da Propmark.
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