O desafio das relações governamentais em tempos de polarização

Na última quinta-feira (26), o Teatro Bravos, em São Paulo, recebeu a 9ª edição do Aberje Trends, que reuniu centenas de profissionais para discutir o papel da comunicação frente aos desafios contemporâneos. O evento abordou temas como relações com o poder público, com o painel “Relações governamentais na era da hesitação: o desafio das marcas e dos comunicadores no mundo polarizado” trazendo lideranças da área para debater os caminhos possíveis para o diálogo ético e estratégico com os formuladores de políticas públicas.
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Mediado por Sarah Bonadio, diretora global de Assuntos Corporativos do Grupo Alpargatas, o debate contou com a participação de Felipe Oppelt, diretor de Public Affairs na Prospectiva; Juliana Arantes Durazzo Marra, diretora de Comunicação e Assuntos Corporativos na Unilever Brasil; e João Vitor Vicente, coordenador de Advocacy Brasil e Global Advocacy da Braskem.
Comunicação, diplomacia e propósito
Felipe Oppelt destacou que o trabalho em relações governamentais, já historicamente complexo, tornou-se um “exercício de equilíbrio”. “O poder público muda de rota com frequência, a confiança nas instituições está abalada e os setores estão fragmentados”, explicou Felipe. Nesse ambiente, a atuação ética e estratégica passa necessariamente por domínio técnico, coerência narrativa e alinhamento com o propósito institucional. “Toda empresa precisa ter uma estratégia de relações governamentais conectada com seu propósito. O timing da política é diferente do timing dos negócios”, afirmou.

A diretora da Unilever reforçou a importância da coerência entre marca e discurso. Juliana compartilhou o caso da campanha “Dove pela Autoestima”, que alertava sobre os efeitos nocivos dos filtros de beleza sobre a saúde mental de meninas e mulheres. A ação consolidou um posicionamento de anos da empresa sobre a beleza real das mulheres, desafiando estereótipos e padrões de beleza. O trabalho trouxe convites para que a marca participasse de uma comissão na Câmara dos Deputados e de uma audiência pública para discutir o PL 329/2025, que propunha uma política nacional de saúde mental para meninas. “Isso aprofundou a relação da empresa com o poder público”, relatou. O debate, segundo ela, mostrou que um posicionamento legítimo pode abrir espaço para diálogos mais estruturados e consequentes com os formuladores de políticas.
João Vitor, da Braskem, ressaltou a importância de manter o debate técnico diante de pautas com forte apelo emocional. “Discussões acabam se tornando passionais. A área de relações governamentais deve trazer o debate para a realidade”, afirmou. “Devemos abordar os problemas por partes”, concluiu.
Estratégias de posicionamento e construção de legitimidade
O painel também abordou a decisão estratégica entre se posicionar de forma individual ou por meio de entidades representativas. Para Juliana, o contexto é determinante. “Temas mais amplos, como o plástico, devem ser debatidos em conjunto. Já questões mais específicas, como no caso da campanha da Dove, podem ser tratadas diretamente pela empresa por uma questão de legitimidade”. “Tem espaço para todo mundo”, concordou João Vitor. “Antes você podia contar nos dedos as entidades representativas; hoje são muitas. É papel do profissional de relações governamentais identificar as melhores associações para cada demanda”, explicou Felipe. A construção de legitimidade, segundo ele, exige tempo e consistência. “Questões não são resolvidas do dia para a noite, assim como a legitimidade não se constrói de uma hora para outra”, enfatizou.

Outro ponto discutido foi o modelo de integração entre relações governamentais, comunicação e jurídico. Juliana explicou que, na Unilever, o time de relações governamentais trabalha junto com a área corporativa, mas alertou que não há uma receita única. “Esses modelos variam de acordo com o negócio da companhia”. Tanto Felipe quanto João Vitor reforçaram que, independentemente da estrutura, a área deve estar próxima da liderança e da estratégia empresarial.
Questionados sobre o papel das empresas em temas emergentes como inteligência artificial, fake news e novas fronteiras regulatórias, os participantes foram unânimes em apontar a necessidade de atuação propositiva. “Não estamos atrasados, estamos vivendo a transformação”, disse Felipe. “É um momento de disputa de narrativas, que exige construção de coalizões e de reputação”, explicou.
Ao tratar da gestão de crises em ambientes politicamente instáveis, Juliana reforçou a importância da leitura de cenários. “Sempre vamos levar o ponto de vista da empresa ou do setor, independentemente de quem esteja ocupando aquele cargo naquele momento, por isso, precisamos saber ler o contexto”, explicou. Para Felipe, a melhor estratégia em tempos de crise é “transparência e objetividade”.
Encerrando o painel, os convidados falaram sobre a relevância do networking para a área. “Sem um bom networking, não é possível fazer nada, não só em relações governamentais”, disse Juliana. “Temos que lembrar que não podemos estar dos dois lados da mesa. Precisamos construir relações duradouras, olhando para o futuro e para o impacto do trabalho”, completou. “Precisamos parar de confundir lobby e tráfico de influência. A democratização e a profissionalização da área trouxeram benefícios mensuráveis”, reforçou Felipe. João Vitor concluiu lembrando o impacto positivo da atuação institucional: “Em muitos casos, atuar em relações governamentais é atuar para o bem da sociedade, já que as políticas públicas acabam beneficiando pessoas além da empresa”.
Ao final, os três palestrantes deixaram recomendações. “Acredite no potencial da área de relações governamentais de transformar por meio da construção de políticas públicas”, disse Felipe. Juliana reforçou: “Acredite em quem trabalha com você e no conhecimento da sua equipe.” E João Vitor finalizou com um lembrete: “Calma. As coisas têm seu tempo”.
O Aberje Trends 2025 contou com patrocínio da Arcelor Mittal Brasil, Arcos Dorados, BASF, Bayer Brasil, BHP, Gerdau, Itaú, Latam Airlines, Novo Nordisk e Stellantis, com apoio da Cortex, CPFL Energia, Prospectiva Public Affairs Latam, Vivo e Tetrapak, e media partner da Propmark.
ARTIGOS E COLUNAS
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