03 de agosto de 2020

Era da cooperação

Publicado originalmente no LinkedIn, em 30 de julho de 2020

E aí que entra uma liderança mais aberta e colaborativa

Empresas são locais de criatividade, inovação, sendo ambientes que vem cuidando do ser humano e de seu desenvolvimento. Podemos imaginar organizações onde times conectados e engajados se desprendem de suas ideias, evoluindo para novos diálogos que inspiram, transformam realidades?

Empresas são locais para desenvolvimento da identidade humana e estamos certos de que esta afirmativa nos leva a refletir o quando dependemos desta identidade hoje para efetivamente formarmos nossa imagem e reputação na sociedade. Penso que a comunicação colaborativa, pode ser uma das respostas, para os desafios vivenciados hoje no mundo.

Estudo realizado pelo Institute for Corporate Productivity descobriu que as empresas que adotam e recompensam a colaboração têm 5,5 vezes mais probabilidade de atingirem altos níveis de performance em comparação com as empresas que não criam uma cultura de colaboração.

Gosto muito de Stanley Deetz. Trouxemos em 2010, sua abordagem sobre comunicação colaborativa (CC) no livro Comunicação e Organização: reflexões, processos e práticas, exatamente por acreditar nessa evolução de uma comunicação para muito além da informacional.

Deetz, com a CC, vai além de ambientes democráticos nas organizações, os quais fomentam a compreensão das diferenças entre os indivíduos envolvidos no processo comunicativo sem que estes sejam motivados a transformações (DEETZ, 2010). Comunicação humanizada, onde as pessoas pensam, expressam seu pensamento e interagem, constroem conhecimento, reaprendem, se desprendem de suas ideias e por meio das conversações expressem todo o seu potencial criativo. A jornada evidencia o valor da comunicação colaborativa para as empresas. Para que ela aconteça precisamos refletir hoje sobre a forma como nos relacionamos, não negando na relação, a presença do outro.

Comunicação colaborativa implica cruzamento de distintas experiências provindas de diferentes indivíduos, que ao estarem conversando com outras pessoas, se desprendem de suas proposições e se comunicam livremente, pois tem como alicerce a colaboração (DEETZ, 2010).

Essa colaboração visa compartilhar expectativas, conhecimentos e experiências entre os sujeitos para a construção de deliberações inovadoras. Colaboração requer ambientes onde a diversidade de opiniões se dá naturalmente pois os participantes daquele diálogo estão buscando, de forma integrada, resultados, ou seja, proposições que possam levar os participantes a soluções “ganha-ganha”. Emerge do processo de comunicação colaborativa (CC) algo anteriormente não pensado entre as partes. É exatamente esse encontro de ideias novas que para mim, caracteriza o exercício da CC.

Mudança de mindset para tornar o contexto adequado à colaboração, trazendo para a prática estratégias que promovam o diálogo e a cocriação

Esse conceito implica que esses indivíduos, com suas ideias, ao interagirem desprendem-se delas e criam uma nova, ou seja: A + B = C. Estamos indo muito além do consenso, concorda? Dessa forma, a comunicação colaborativa facilita os processos inovadores nos ambientes empresariais por meio das interações, que se revelam no momento em que as pessoas dialogam e trocam ideias. Instauram-se dinâmicas de conversação onde os pontos de vista se alteram, emergindo dessas relações novos pensamentos, ações, processos diferenciados, antes não pensados.

Nesse contexto, desenvolver o processo de comunicação colaborativa nas organizações requer uma mudança de postura relacionada às interações no ambiente organizacional (DEETZ; BROWN, 2004) que carece atenção e cautela para não serem apenas canais democráticos de comunicação, à medida que essa comunicação busca a promoção de um ambiente livre com a manutenção das diferenças. Assim, evita-se gerar ingenuamente situações de vantagens discursivas, em que as pessoas não compreendem a capacidade persuasiva da comunicação e são influenciadas a tomarem decisões através do senso comum (DEETZ, 2010).

Desse modo, percebe-se que a comunicação colaborativa se faz essencial no processo de construção de conhecimento inovador. É, portanto, por meio dessa ótica, baseada em uma comunicação livre e aberta que a comunicação colaborativa desafia os indivíduos para uma nova organização, um espaço onde a fala tem valor, assume propriedade e encontra ressonância para juntos criarem novas narrativas que serão únicas, pelas experiências de interação vivenciadas. Talvez o mais legal seja a CC aproximar e gerar a “cola” que mantem as pessoas engajadas a partir das ações que serão vivenciadas e que tem significação, pois se pautam em decisões criativas mútuas.

Referências

DEETZ, Stanley. Comunicação Organizacional: fundamentos e desafios. In MARCHIORI, Marlene (org.) Comunicação e organização: reflexões, processos e práticas. São Caetano do Sul: Difusão Editora, 2010.

DEETZ, Stanley; BROWN, Devon. Conceptualizing involvement, participation and workplace decision process. In: TOURISH, Dennis; HARGIE, Owen. Key issues in organizational communication. British Library, 2004.

DEETZ, Stanley. Developing Free and Open Communication. Belo Horizonte. Dispositivo em ppt. Apresentado durante o curso Strategic and Collaborative Communication no II Congresso da Abrapcorp, PUC MG, dias 22 a 25 de Abril de 2008.

MARCHIORI, M.; BALKO, A. Comunicação colaborativa: um outro olhar sobre a comunicação. Disponível em: http://www.aberje.siteprofissional.com/acervo_colunas_ver.asp?ID_COLUNA=156&ID_COLUNISTA=43. Acesso em: jul, 2020.

 

 

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Marlene Marchiori

Palestrante, escritora, mentora em comunicação, cultura e estratégia como práticas organizacionais. Pós-doutorado em comunicação organizacional. Doutora em Ciências da Comunicação. Graduação em Comunicação e Administração de Empresas. Ganhadora do Prêmio Opinião Pública Destaque Profissional Área Rural pelo Conselho Regional Profissionais de Relações Públicas. Professora da Universidade Estadual de Londrina desde 1982. Pesquisadora e Professora Senior do PPGA Administração. Professora de Cursos de Pós-graduação em diferentes instituições acadêmicas e na Aberje. Autora de livros e artigos em diversos periódicos, tendo publicado a Coleção Faces da Cultura e da Comunicação Organizacional com 10 volumes pela Difusão Editora e SENAC RJ. Gestora de comunicação com experiência em organizações por mais de 15 anos.

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