31 de janeiro de 2024

Em busca da confiança perdida

Diante do pano de fundo de profundas transformações pelo qual o mundo está passando (emergência climática, desorganização das cadeias produtivas globais, IA generativa e instabilidade geopolítica), os organizadores do Encontro Anual do Fórum Econômico Mundial, que ocorreu do dia 15 ao dia 19 de janeiro, em Davos, na Suíça, escolheram como tema Reconstruindo a confiança (Rebuilding Trust).

Lembrei dele ao ler a reportagem “AI-generated content is raising the value of trust” da edição de 18 de janeiro da revista The Economist.

O argumento é o seguinte: a crescente presença de conteúdo gerado por inteligência artificial estaria transformando a dinâmica da confiança, elevando a importância da origem do conteúdo sobre o próprio conteúdo. A facilidade com que material realista, mas falso, pode ser produzido desafia sociedades como as nossas, que atribuem a imagens, vídeo e áudio o estatuto de provas confiáveis. O avanço acelerado da inteligência artificial torna a averiguação desse material falso cada vez mais difícil e, até o momento, a corrida entre a geração e a detecção de conteúdo estaria a favor dos falsificadores, gerando preocupações sobre os possíveis impactos sociais, econômicos e políticos desse material.

Contudo, a revista defende que essas sociedades provavelmente se adaptarão, com as pessoas aprendendo a questionar a veracidade do conteúdo visual e auditivo, dentre outras coisas valorizando mais a identidade e a reputação da fonte. Identificação segura por meio de URLs, endereços de e-mail e plataformas de mídia social são alguns dos mecanismos apontados como possíveis soluções. No fim, apesar dos desafios atuais, a confiabilidade da fonte seria suficiente para restabelecer a confiança perdida.

O otimismo da revista não é compartilhado pelos organizadores do Encontro em Davos. Lá, o tom é pragmático e de urgência. A proposta não é esperar por mudanças nos hábitos cognitivos, mas atuar hoje visando construir “plataformas de diálogo novas e melhoradas, parcerias mais fortes, quadros políticos ágeis e uma implantação eficaz de tecnologias que possam conduzir a ganhos práticos e implementáveis ​​para as sociedades, tanto em horizontes estratégicos como de curto prazo”.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Leonardo Müller

Economista-chefe da Aberje. Leonardo André Paes Müller é economista formado pela Universidade de São Paulo (USP), com doutorado em filosofia pela USP e pela Universidade Paris 1 Panthéon-Sorbonne, e atualmente é doutorando em Teoria Econômica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Autor do livro “Imaginação e moral em Adam Smith”, publicado pela Alameda Editorial em 2022. Como economista, atuou na área de Pesquisa Produção e Vendas do Mercado Editorial Brasileiro da FIPE. Na academia, é professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Economia da UFABC (PPGEco UFABC), também foi professor visitante no bacharelado em Ciência Econômicas da UFABC e ministrou diversos cursos de extensão na FFLCH-USP.

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