05 de agosto de 2022

10 lições de comunicação em “Succession”

Seriado é exclusivo do HBO Max e já conta com três temporadas disponíveis na plataforma

Criada por Jesse Armstrong, “Succession” apresenta ao telespectador a saga da família Roy e seu gigante conglomerado de mídia “Waystar Royco”, que gerencia desde canais televisivos até parques de diversão espalhados pelo mundo. Em 2020, a trama conquistou nada menos que sete estatuetas do Emmy Awards, premiação mais importante da televisão norte-americana.

Com incertezas sobre a condição de saúde de Logan Roy (Brian Cox), patriarca e fundador do conglomerado, iniciam-se conflitos que prendem o espectador do início ao fim de cada episódio. Logan é uma figura conservadora, orgulhosa e, principalmente, poderosa. Um de seus filhos, Kendall Roy (Jeremy Strong), não acredita mais na capacidade do pai à frente da empresa, observando o avanço do digital e propondo uma visão inovadora para a Waystar. Isso desencadeia o que talvez seja o principal conflito, entre os diversos abordados ao longo da série.

Em meio às divergências familiares, ótimo trabalho de personagens e um humor excêntrico que alivia o contexto dramático, “Succession” entrega valiosas lições sobre administração de negócios e relações no ambiente de trabalho. Porém, com a confirmação da quarta temporada e para matar a saudade da série, esse texto tem como foco os insights que profissionais da área de comunicação podem tirar das três primeiras temporadas. Devo alertar aos que ainda não assistiram que a partir desse ponto o texto contém spoilers.

1 – “A bit of content and a brand name is the whole game” (Um pouco de conteúdo e uma marca comercial são tudo)

Logo no primeiro episódio, Kendall negocia a compra da “Vaulter”, empresa de portfólio de marcas e conteúdo digital. Após recusa do fundador à sua primeira oferta, Kendall informa seu irmão, Roman (Kieran Culkin), que aumentará a oferta. Então, Roman ri e reduz a Vaulter a uma empresa que produz pouco conteúdo e constrói uma marca empresarial, sendo rebatido por Kendall com a frase “A bit of content and a brand name is the whole game”.

A afirmação pode ser exagerada, um pouco de conteúdo e uma marca forte são extremamente relevantes, mas não são tudo em uma empresa. Entretanto, na era do digital, uma empresa de new media como a Vaulter – que pode fornecer isso para a Waystar Royco – é vista como o trunfo de Kendall para anunciar que herdará o cargo do pai. A promoção de serviços, produtos e valores de uma empresa através de visibilidade nas redes sociais, publicações de influenciadores e presença digital dominou o universo da publicidade, sendo um mercado que comunicadores devem se atentar cada vez mais.

2 – Más notícias tendem a espalhar mais rápido

Após uma reunião na sede da Waystar, Kendall recebe condolências de Lawrence (Rob Yang) pelo que ocorreu com Logan. O curioso é que Kendall não fazia ideia do que havia acontecido com seu pai e, ao questionar, é informado que pessoas estão comentando sobre um suposto derrame. Ao chegar no hospital, nem seus irmãos sabiam os detalhes do incidente e se havia sido um derrame de fato.

Fofocas, boatos e falsas informações são recorrentes no mundo corporativo. Cabe aos comunicadores garantir o esclarecimento do que ocorre na corporação e evitar desinformação, esta que pode gerar caos e ser considerada como fato para os que não checarem a veracidade do que lhes é transmitido.

3 – Prepare-se para todos os cenários possíveis

Com a situação de Logan preocupando a família, não foi diferente para a área de comunicação da Waystar. A equipe de comunicadores instala equipamentos em uma sala do hospital para preparar um comunicado de sucessão antes da abertura da bolsa de valores, para evitar a dúvida de acionistas e, consequentemente, a queda no valor das ações.

Mesmo na mais triste das situações, deve-se levar em conta os interesses da organização e se preparar para todos os cenários. Caso o comunicador fique esperando acontecer algo, para então começar a agir, uma posição será compartilhada de maneira atrasada, podendo prejudicar a corporação.

4 – Pratique os valores da organização

No vídeo de admissão à Waystar Royco, é dito que a empresa prega diversidade e contrata baseando-se em dar oportunidades iguais a todos. Logo após a demonstração desse vídeo para o espectador, a série ironicamente mostra diversos profissionais saindo de uma reunião, todos homens brancos.

Falar que a organização defende pautas como diversidade é fácil, lindo aos olhos do público, e defender de fato é fundamental para gerar impacto positivo na sociedade e alcançar o sucesso. As pautas ESG (do inglês environment, social and governance) ganham mais atenção nas empresas à medida que a sociedade evolui sua maneira de pensar, mas de nada adianta anunciar tais valores e não colocá-los em prática.

5 – Estamos encarando uma revolução da informação

Ao longo do seriado, fica claro que Logan é conservador e não acredita muito na inovação dos meios de informação. Esse posicionamento gera conflito de interesses com Kendall quando Logan busca adquirir mais canais de televisão para o conglomerado, enquanto seu filho prefere oportunidades digitais.

A internet tem sido uma maneira veloz e eficiente de se atualizar. Porém, muitas pessoas ainda se informam através da televisão, por jornais locais e/ou nacionais de canais abertos. Isso se deve ao costume, questão financeira e até facilidade de acesso que perdura até os dias atuais, mesmo com a evolução do digital. Entretanto, a tecnologia ganha força de maneira exponencial; alguns meios de mídia tradicional devem se manter, mas o futuro sem dúvida é tec. Utilizando o Brasil como exemplo, mesmo não sendo um país de primeiro mundo, um estudo do IBGE indicou em 2019 que 82,7% dos domicílios brasileiros possuíam acesso à internet.

6 – Saiba quem é o receptor de sua mensagem

Uma explicação para o conservadorismo de Logan, citado no último item, é o fato da maioria de seu público ainda ser fiel aos telejornais. A audiência dos canais do conglomerado é, predominantemente, de defensores do Partido Republicano dos Estados Unidos, seguindo uma ideologia mais conservadora, similar à Fox News no país. E Logan sabe muito bem disso, assim direciona seu conteúdo.

Antes de qualquer release, matéria, transmissão, etc. é necessário saber para quem a mensagem é destinada. Desenvolvimento de persona e estudo da maioria dos ouvintes são fundamentais para que a mensagem seja transmitida da melhor forma possível.

7 – Comunicação entre as áreas

Em diversas situações ao longo da trama, a Waystar Royco precisa se posicionar a respeito de negócios e polêmicas. A área de comunicação está em constante contato com o departamento jurídico para planejarem a melhor forma de desenvolver esse posicionamento.

Principalmente em situações de crise, cabe ao comunicador trabalhar em um posicionamento que evite arestas, passe de forma clara o que a organização pensa sobre e como agir a partir do ocorrido. Para isso, a troca de ideias e informações entre as áreas é essencial, deixando todas engrenagens em sintonia.

8 – Honestidade e confiança

Durante as reuniões do alto escalão da Waystar Royco, é perceptível que, com exceção de Siobhan Roy (Sarah Snook), filha de Logan, os membros tem medo de discordar da “lenda da mídia” e, muitas vezes, vão contra suas próprias opiniões para agradá-lo. Levando em conta o orgulho de Logan, é compreensível que queiram manter sua função, mas isso pode direcionar a organização para caminhos indesejáveis e gerar conflitos. A cúpula chega a realizar uma reunião sem Logan por discordar de uma decisão, o impasse era decidir quem falaria isso para o chefe.

O coração e alma de uma empresa é a equipe. Personalidades e opiniões diferentes que discutem as possibilidades para chegar na melhor decisão. Nem sempre se chegará em um consenso, mas para sucesso da organização, deve-se trabalhar com honestidade e confiança na decisão da maioria de seus colegas. A palavra final muitas vezes acaba sendo do diretor/presidente, mas este precisa criar um ambiente em que sua equipe sinta-se à vontade para opinar. Para evitar situações como a do seriado, uma dinâmica diferente em reuniões pode ser a resposta: juntar grupos ou pares que, analisam os casos e depois expõe para todos o que foi concluído.

9 – Tente ser fiel ao posicionamento inicial

Não é incomum ver Logan voltando atrás em alguns posicionamentos, deixando a empresa com uma imagem duvidosa. É claro que devemos estar abertos a reavaliar casos à medida que novas informações aparecem, porém uma organização que muda sua posição constantemente tende a ser vista como frágil, causando assim uma possível desvalorização.

10 – Transparência 

Talvez a mais valiosa das lições que o seriado oferece. Segredos são parte significativa da série, com escândalos acobertados no passado voltando para assombrar o conglomerado.

Uma organização que não trabalha com transparência pode ter seus segredos revelados a qualquer momento, colocando em risco sua existência por não ter tratado desses quando deveria em prol de manter uma imagem. Imagem essa, que acaba ainda mais prejudicada do que seria caso a empresa agisse de forma correta e transparente à frente de seus problemas. Todavia, trabalhar com transparência pode parecer simples, mas não é. Em artigo para a Época, Hamilton dos Santos – Diretor Executivo da Aberje – aponta que o conceito é, na verdade, bem complexo.

Essas são algumas das lições que podemos observar em “Succession”. O seriado tem muitas mais a oferecer e é entretenimento garantido para os que se interessam pelo mundo corporativo, mercado jornalístico e realidade política norte-americana. A ficção – que não surpreenderia se fosse baseada em uma história real – já iniciou as gravações da quarta temporada, ainda sem data de estreia definida.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Arthur Pagnoncelli da Motta

Jornalismo e Comunicação Social na Faculdade Cásper Líbero. Curso de comunicação na International House Sydney, em Sydney, Austrália. Analista de conteúdo na Aberje - Associação Brasileira de Comunicação Empresarial.

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