Quando era criança, lembro que ouvi do meu pai, mais de uma vez, que se conhece um homem pelos sapatos que ele calça. Quase como um ritual religioso, meu pai está sempre com os sapatos limpos e engraxados. Seus sapatos duram anos e continuam com cheiro de couro, mesmo quando já estão bem gastos.
Ao longo da vida, outras expressões envolvendo sapatos me foram apresentadas. As mais contundentes: “cada um sabe onde o sapato aperta” e “antes de me julgar, calce os meus sapatos“.
Eu tenho pés sensíveis, até sapatos de coleções confortáveis me machucam. Linhas com poliéster queimam os meus pés – talvez você não saiba, mas nem todas as linhas de costura são 100% algodão. Comprar sapatos para mim é um sofrimento, uma frustração antecipada. Eu tenho sempre curativo na carteira.
Com estas características, quando encontro um sapato que não me machuca, é paixão na certa. Vira meu “best friend forever” e vai comigo para todo canto.
E por que estou escrevendo sobre isso?
Ontem estava em um centro cultural em São Paulo e uma pessoa desconhecida me abordou pedindo ajuda para resolver um problema. Quando perguntei à pessoa por que eu havia sido “a escolhida” para a abordagem, a pessoa respondeu “eu olhei para você e, com esse sapato, você tinha cara de ser uma pessoa sem preconceitos, que iria me ouvir.” A frase do desconhecido me transportou ao tempo em que eu era criança e via o meu pai se calçando. Mas não foi a primeira vez que este sapato, surrado, me deixou com cara de solucionadora de problemas alheios.
Não faz muito tempo, estava saindo de uma reunião com um cliente no centro do Rio de Janeiro e fomos juntos, eu e o cliente, até o ponto do VLT. Lá fui surpreendida por uma pessoa em situação de rua que, antes de nos pedir dinheiro, comentou o quanto o meu sapato deveria ser confortável, tão molinho. Comentário que me deixou constrangida por ela estar de chinelos, com os pés sujos. Quantos privilégios contidos em um par de sapatos molinhos.
As pessoas me olham e me julgam pelos meus sapatos. E também pela minha roupa, pelo meu cabelo que deixei de pintar e os grisalhos estão começando a aparecer. Pelo meu peso, pela armação dos meus óculos. Tudo isso antes de eu abrir a boca. O mesmo acontece com você e com todo mundo. Semiótica pura. Meu sapato azul sem salto não significaria abertura se o sapato preto de salto não significasse poder e autoridade.
O que o seu sapato diz sobre você? Que imagem você passa para as pessoas por meio das escolhas cotidianas que faz? Trazendo a reflexão para a reputação: a imagem que você passa está alinhada aos valores que norteiam a reputação que você quer ter?
COMENTÁRIOS:
Destaques
- Em entrevista a CNN, CEO do Pacto Global da ONU no Brasil fala sobre comunicação e sustentabilidade
- EMIS é nova associada da Aberje
- Lab de Comunicação para a Sustentabilidade discute oportunidades e desafios para ações sociais
- Seminário da USP debate opinião, política e democracia na atualidade
- Aberje recebe lançamento do livro “Diálogos com o futuro” da Rede Educare, com patrocínio da Bayer
ARTIGOS E COLUNAS
Paulo Nassar Fala na abertura do Seminário Opinião Pública, Política e DemocraciaRegina Macedo Narrativas femininas: amplitude e diversidade na comunicaçãoPatricia Santana de Oliveira Qual retorno do investimento em PR?Marcos Santos Esporte como Plataforma de MarcaCarlos Parente Na vida e no mundo corporativo, não há texto sem contexto