24 de maio de 2024

Academia Aberje de Marcas discute ações de comunicação e diálogo após rompimento de barragem em Mariana

Fundação Renova, responsável pela reparação da bacia do Rio Doce, expôs os desafios e os resultados do trabalho com comunidades atingidas

Na quarta-feira (22), a Academia Aberje de Marcas recebeu a Fundação Renova na sede da Aberje, em São Paulo, para um seminário com o tema “Comunicação para a reparação: Desafios e estratégias”. O evento contou com a presença de Ana Carolina Maciel, gerente de Diálogo e Canais de Relacionamento; Flávio Chantre, diretor institucional; e Marily Gallote, gerente sênior de Comunicação; e mediação de Tatiana Maia Lins, CEO e Fundadora da Makemake.

Flávio Chanfre abriu o seminário com um histórico do rompimento da barragem do Fundão, em Mariana (MG), e da constituição da Fundação Renova, entidade de direito privado responsável pela reparação da bacia do Rio Doce. A Fundação foi formada pela Samarco e suas acionistas, a Vale e a BHP, conforme alinhado no Termo de Transação e Ajuste de Conduta (TTAC) firmado entre as mineradoras e o Poder Público em março de 2016.

“A Fundação Renova criou um modelo para evitar a judicialização”, explicou Chanfre, detalhando que atualmente a entidade realiza 42 programas de reparação e compensação em cinco frentes:

  • Reparação socioambiental;
  • Reassentamento;
  • Retomada produtiva;
  • Indenizações;
  • Infraestrutura.

De acordo com Chanfre, o modelo de governança adotado pela Fundação também é inédito. Ele conta com sistemas de controle internos e externos, que incluem auditoria independente e curadoria do Ministério Público de Minas Gerais, além da participação da sociedade civil por meio de comissões locais.

Agilidade e humanidade

“A gente lida com sentimentos muito complexos”, contou Marily Gallote. “Estamos lidando com uma tragédia e gerenciamos 20 crises de proporções diferentes”, explicou. De acordo com Gallote, as etapas do processo “comum” da gestão de crises acontecem todas de forma simultânea nas diferentes situações que a Fundação acompanha. “É tudo muito diferente, nós aprendemos enquanto fazemos”, explicou.

Gallote frisou que as questões abordadas não são simples e que o time de Comunicação precisa estudar e compreender os temas antes de comunicá-los – de preferência rapidamente. “Precisamos ser mais rápidos que as fake news, porque elas tomam proporções que não podemos imaginar”, afirmou Galleote.

Um dos principais desafios para seu time são os desertos de notícias na área afetada pelo rompimento da barragem. O nome se refere aos locais em que não há veículos formais de comunicação (como rádio, TV ou publicações periódicas), especialmente as áreas rurais remotas. Gallotti chamou a atenção do público para os vários impressos que estavam sobre as cadeiras do auditório quando os presentes chegaram. Tratavam-se dos boletins informativos e jornais da Fundação Renova, editados e distribuídos pela organização nos distritos atingidos, que trazem notícias sobre as ações de reparação e compensação, bem como novidades locais e calendários de eventos.

É preciso estar atento também aos vários assuntos relacionados aos programas envolvendo as comunidades. “Temos um mundo para falar, mas se falarmos de tudo, é difícil criar uma unidade”, afirmou. Por isso, seu time age de acordo com diretrizes claras para estabelecer um escopo para cada atividade:

  1. Definição de temas prioritários;
  2. Descrição de objetivos por público;
  3. Determinação de frequência e consistência nas ações e no relacionamento.

O tamanho das comunidades e a localização isolada podem atrapalhar esse fluxo de informações em alguns casos. “É impossível comunicar para todo mundo”, explica Gallote. Para dar capilaridade aos esforços da Comunicação, influenciadores locais são identificados e capacitados para levar as mensagens-chave a todos os integrantes das comunidades.

Acima de tudo, ela lembra que o foco deve estar nas pessoas, com conteúdo humanizado em todos os canais. “Nós trouxemos as pessoas para a comunicação”, concluiu.

Incerteza e confiança

Para Ana Carolina Maciel, a multiplicidade de cenários e a judicialização de algumas questões aumentam a incerteza das comunidades atingidas, por isso, a franqueza do relacionamento é um fator determinante para qualquer estratégia. “É o olho no olho que conta”, afirmou. Uma questão sub judice, por exemplo, pode não ter uma resposta definitiva por meses.

Maciel destacou o papel dos stakeholders locais como aliados das ações de relacionamento. “São eles que circulam a informação – se conversarmos com eles com intencionalidade”, frisou.

O laço de confiança entre as comunidades afetadas e a Fundação – que ainda não eliminou completamente os sentimentos de hostilidade em alguns locais, reforçou Maciel – permite que as equipes consigam ler melhor o território e reúnam uma inteligência valiosa. “Sentamos à mesa com a diretoria para mostrar o que a comunidade está falando, uma demanda recorrente indica um tema a ser tratado”, explicou.

“A gente só constroi reputação com diálogo”

Após a exposição de cada um dos palestrantes, Tatiana Maia Lins abriu o debate, sumarizando a experiência do time da Fundação Renova: “A gente só constroi reputação com diálogo”.

“A Comunicação é fundamental nesse cenário”, concordou Chanfre. “Esse trabalho dá muito orgulho e a Comunicação se envolve com todas as pessoas para levar informações”, reforçou Gallote. Para Maciel, o processo deixa muitos frutos. “Todo mundo amadureceu nesse processo. A organização social é um legado, as comunidades mudaram e as suas lideranças se desenvolveram”, concluiu.

“Como o processo é longo e envolve muitos interesses, ele é retomado várias vezes”, explicou Chanfre. Isso trouxe dificuldades, mas também ofereceu oportunidades para que, pouco a pouco e com muito esforço, a Fundação Renova construísse relacionamentos com os diferentes stakeholders. “Hoje ainda é grande o número de matérias em que pedimos correções, mas atualmente é possível pedir essas correções, depois que estabelecemos esse relacionamento com a imprensa”, lembrou Gallote.

“Manter stakeholders alinhados e engajados é um grande desafio. O mapeamento desses stakeholders é só uma parte do processo de reparação”, completou Maciel. “Mas não dá para fazer diálogo sentado no escritório, a equipe precisa estar no local para construir esse relacionamento”, concluiu.

“Diálogo e relacionamento auxiliam a construir a reputação”, encerrou Gallote.

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