07 de março de 2019

Comunidades tradicionais recebem incentivo da FBB para bioconstrução, manejo agroflorestal e culinária caiçara

Em 2018, o Instituto Ilhabela Sustentável iniciou um trabalho de resgate do uso das técnicas de bioconstrução, manejo agroflorestal e culinária caiçara com os moradores das comunidades caiçaras da Praia dos Castelhanos e da Ilha dos Búzios. A ação faz parte do projeto “Comer e Morar – Viver no Território Tradicional da Mata Atlântica”, uma parceria com Fundação Banco do Brasil – instituição associada da Aberje.

As comunidades caiçaras ficam localizadas no arquipélago de Ilhabela, no litoral norte de São Paulo. A região possui 347,5 km² sendo aproximadamente 80% de abrangência do Parque Estadual de Ilhabela. Das 12 ilhas que compõem o arquipélago apenas as ilhas de São Sebastião, dos Búzios e da Vitória são habitadas.

O acesso a Ilha dos Búzios se dá exclusivamente pelo mar, com um tempo do percurso por lancha rápida de cerca de 1h30. A ilha abriga as comunidades caiçaras de Guanxumas dos Búzios, Porto do Meio, Pitangueiras, Costeira e Mãe Joana. Apresenta uma área de 740 hectares e uma população de aproximadamente 144 pessoas. Já o acesso à Praia dos Castelhanos se dá por meio do mar ou pela Estrada-Parque dos Castelhanos, com um percurso de 15 km em via de terra de difícil tráfego com duração de 1h20 de deslocamento. Lá, a população é de aproximadamente 40 famílias divididas em duas vilas caiçaras – comunidade do Canto do Ribeirão e comunidade do Canto da Lagoa.

Grande parte dos alimentos que eram anteriormente produzidos e consumidos pelos moradores vem sendo substituídos por alimentos industrializados, causando o distanciamento da dieta tradicional caiçara, bem como das técnicas e insumos utilizados no passado. Mas nem tudo está perdido, a região guarda muitas riquezas, como a presença de cultivares antigos ainda estabelecidos como banana, café, cará branco e cará roxo, jaca, limão, araçá e mexerica.  A ideia é que esses cultivares sejam os primeiros produtos agroflorestais a serem manejados, por já estarem estabelecidos, possibilitando colheitas em um curto espaço de tempo, a comercialização do excedente e inclusão dos produtos em cardápios dos comércios locais.

Na região destaca-se também a presença de espécies nativas como a brejaúva que produz carne de coco, utilizada pelos caiçaras e em quantidade disponível para o aproveitamento comercial. Os comunitários relataram que o “coco preto”, fruto da brejaúva, também é comumente consumido puro, acompanhado com cafezinho, ou ralado com farinha de mandioca.

As atividades estão sendo realizadas de forma participativa e por meio de oficinas temáticas relacionadas a moradia, a produção de orgânicos, a melhoria da alimentação, a geração de renda e empreendedorismo social no contexto particular das comunidades tradicionais em questão relacionando o conhecimento tradicional com formas sustentáveis de melhoria da qualidade de vida. O investimento social da Fundação BB é de R$ 216,6 mil.

CULINÁRIA – O projeto também busca resgatar receitas antigas com ingredientes locais. Durante as conversas com os moradores foram registrados os temperos e outros insumos produzidos ao redor das casas e em hortas, que compõem pequenos quintais agroflorestais. Dos ingredientes relatados estão aqueles que mais se destacam e se apresentam como base de diversas receitas estão: a banana, a mandioca, o peixe seco, a batata doce, o peixe fresco, o milho, frutos do mar, batata, abóbora, mamão, ovo, frango, inhame e feijão.

Uma equipe formada por engenheiros florestais, arquiteto de terra e consultoria de turismo, especializada em áreas protegidas e comunidades tradicionais, realizam oficinas de capacitação em manejo agroflorestal, culinária tradicional caiçara e técnicas de bioconstrução e cultura construtiva.”Durante as visitas técnicas, a comunidade relata a importância da alimentação saudável através de produtos locais e o resgate do cultivo das roças tradicionais para a garantia da segurança alimentar. Isso demonstra que existe uma preocupação quanto a atual dieta alimentar e um desejo de resgatar a produção de ingredientes locais, como por exemplo a farinha de mandioca. Isso reforça a importância do apoio da Fundação BB para essas comunidades”, declarou, Paula Carolina Pereira, consultora ambiental e gestora do projeto.

Nesta fase do projeto também estão sendo implantados sistemas agroflorestais e a formatação de um livro de receitas caiçaras. Na área de bioconstrução, serão reconstruídas duas casas de farinha nos moldes da arquitetura tradicional, uma na Praia dos Castelhanos e outra na Ilha dos Búzios.

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