Tecnologias mais humanas
Há exatos 76 anos era inaugurada a era da computação moderna com o lançamento do ENIAC (Electronic Numerical Integrator and Computer), primeiro computador eletrônico do mundo, desenvolvido na Universidade da Pensilvânia pelos cientistas John Mauchly e John Presper Eckert. Mesmo com suas 30 toneladas e ocupando uma sala de 10m x15m, era mil vezes mais rápido que qualquer outro computador já construído. Poucos anos depois, o UNIVAC (Universal Automatic Computer), primeiro computador comercial já lançado, ajudou o Serviço de Recenseamento dos Estados Unidos a prever a vitória de Dwight Eisenhower nas eleições presidenciais de 1952 com uma margem de erro de apenas 1%.
De lá para cá foram muitos os avanços na indústria de tecnologia. O poder de processamento dos computadores que sucederam ao ENIAC e UNIVAC nas seguintes décadas do século XX não chega nem perto da potência de recursos presentes nos smartphones que carregamos em nossas mãos. É notório o aprimoramento de tecnologias como inteligência artificial e aprendizagem de máquina e como elas cada vez estão incorporadas em nosso cotidiano.
Outro salto está prestes a ser dado com a chegada das redes 5G, que potencializará a utilização destas e de outras tecnologias pela velocidade e estabilidade de conexão e baixa latência, abrindo possibilidades para uma convergência maior entre os mundos real e virtual, o que prevê o conceito do Metaverso. Inúmeras oportunidades para o fomento de novos modelos de negócio, geração e difusão de conhecimento e entretenimento. Mas diante de tudo isso, coloco a questão: será que estamos pensando nessas tecnologias de forma a abraçar os conceitos de diversidade, equidade e inclusão?
Os vieses inconscientes são intrínsecos ao ser humano. Todos temos os nossos. É natural que no desenvolvimento de uma tecnologia, o principal objetivo seja o de resolver um determinado problema. No entanto, uma mesma tecnologia pode ser utilizada para diferentes aplicações e modificada de acordo com o que preveem os códigos escritos em sua concepção por um ou mais indivíduos.
Um exemplo clássico é a tecnologia presente na aviação, utilizada tanto para transportar passageiros, insumos e mercadorias, quanto para lançar bombas e aniquilar pessoas. Infelizmente esta aplicação militar, iniciada na 1ª Guerra Mundial, levou Santos Dumont à depressão ao saber do mal uso de seu feito histórico. Ou seja, como usamos os drones autônomos hoje e como usaremos as aeronaves elétricas de pouso e decolagem verticais (eVTOLs) no futuro dependerá de nosso comportamento e senso ético.
Recentemente tomamos conhecimento de episódios envolvendo tecnologias de inteligência artificial e reconhecimento facial sendo aplicadas com viés tendencioso e preconceituoso. Isso apenas denota o comportamento humano vigente na sociedade. Daí a importância de um debate amplo sobre os padrões éticos que norteiam o desenvolvimento das tecnologias e como garantir que estas estejam em consonância com uma pluralidade de visões, e não apenas com aquilo que pensam seus próprios criadores.
É possível ensinar ética aos algoritmos? Se sim, quem está fazendo e de que forma? Como podemos realizar uma curadoria e aperfeiçoar o processo de criação de novas tecnologias para que decisões futuras tomadas por máquinas tenham mais humanidade? Ainda que não sejam definitivas, as respostas para essas perguntas devem avançar em um ritmo mais célere, assim como caminha a passos largos o desenvolvimento das tecnologias emergentes neste século.
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