18 de abril de 2013

As marcas e o nu frontal

Em um dos últimos releases divulgados pelo Trendwatching.com, uma empresa que analisa tendências de consumo em 90 países, foram apresentados dez insights sobre o que deve ficar em evidência no planejamento de ações de marketing pelas empresas e marcas durante 2013. Uma das tendências apontadas é a do nu frontal, uma abertura ainda maior das marcas em relação à transparência de seus processos e dados.
A tendência de abertura não é mais tão novidade. Ela já vem sendo observada há alguns anos, seja por causa de mudanças de leis que exigem maior divulgação de dados por empresas de capital aberto, seja pela mudança no comportamento do consumidor – que está mais exigente e acaba diferenciando os produtos similares com base nas informações que possuem sobre as marcas, já que está cada vez mais difícil para os produtos se diferenciarem com base em seu desempenho ou atributos de qualidade. A grande mudança que está acontecendo é que se antes o “nu” só era adotado por marcas mais ousadas e de vanguarda, agora ele está se tornando mais comum, uma vez que as marcas começam a ver que a exposição pode ser positiva e que ajuda a fortalecer o lastro reputacional.
De todo modo, decidi tocar neste assunto na coluna porque ainda vejo muitas empresas em dúvida sobre o que fazer em relação à demanda de transparência dos stakeholders, uma vez que a cultura de não debater pontos sensíveis à imagem e de não dialogar ainda sobrevive.
Nem todas as marcas precisam encarar o nu frontal tão escancarado, por características dos mercados em que atuam. Mas não adianta tentar se esconder. Não é porque as marcas não se desnudam publicamente que os consumidores e demais públicos de interesse não a desnudam em suas conversas com amigos e nas redes sociais. Sendo assim, acredito que melhor estratégia não seja se esconder, mas encarar o nu de peito aberto e, de preferência, sem muito “PhotoShop”. A empresa que tentar ações de nu frontal maquiando dados será fortemente bombardeada.

 

E como fazer esse nu sem passar vergonha?

A partir do diálogo franco, aberto e transparente as marcas podem estabelecer mais relações de ganha x ganha com todos. As marcas não precisam ser perfeitas, mas precisam mostrar interesse sincero em melhorar os seus produtos, serviços, processos e impactos. As empresas que investem em relacionamentos duradouros com os seus públicos de interesse ganham em reputação em relação a seus concorrentes diretos, exemplos não faltam. Não podemos esquecer que vivemos a Era da Reputação.
A meu ver, há cinco questões básicas que as marcas precisam responder antes de encarar o nu frontal com êxito: para que existem; por que existem; por que atuam da maneira em que atuam; em que podem melhorar e em que são boas.
Como os coleguinhas vêm se desnudando?
A Coca-Cola está veiculou uma campanha na TV falando em calorias (), um ótimo exemplo de nu frontal, pois consegue falar de modo positivo sobre algo tido como negativo pela população ao mostrar o que as pessoas podem fazer para gastar as calorias ingeridas com o refrigerante e ainda dá a opção de a pessoa optar pela coca zero se não quiser ingerir calorias.
O Spoletto, há alguns meses, também desenvolveu uma ótima ação de nu frontal em sua resposta ao vídeo feito pelos humoristas do ‘Porta dos Fundos’ que ironizava o tratamento recebido pelos consumidores em filas dos restaurantes do Spoleto. Em resposta, a marca fez também um vídeo mostrando a situação e pedindo aos clientes que se casos como aqueles voltassem a acontecer, que eles denunciassem. Foi uma ótima saída e trouxe resultados concretos, pois agora os atendentes parecem pressionar menos os clientes em suas escolhas.
Até o Vaticano, com a eleição do Papa Francisco, está entrando na onda do nu frontal e divulgou esta semana que está disposto a ampliar sua transparência financeira. Saiba mais sobre este assunto nesta matéria.
No entanto, há diversas outras maneiras de encarar o nu frontal e a maioria das empresascomeça a adotá-lo ao publicar e divulgar reportes de sustentabilidade no formato GRI, que permite comparação internacional e mostra os avanços nos parâmetros e indicadores ao longo dos anos. Os relatórios de atividades podem ser adotados por empresas de todos os setores e tamanhos, não apenas pelas grandes e de capital aberto. E, quando bem feitos, mesmo que não estejam dentro dos padrões GRI, já ajudam no processo de transparência.
Mãos na massa, pessoal! E precisando de ajuda, estou aqui! 😉

 

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Tatiana Maia Lins

Consultora em Reputação Corporativa, fundadora e diretora da Makemake - A casa da Reputação no Brasil e editora da Revista da Reputação.

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