03 de maio de 2024

A importância da comunicação inclusiva e da filantropia estratégica na estrutura das empresas

Ambos os temas foram destaque na 11ª edição do Fórum Interamericano de Filantropia Estratégica (FIFE), em Belo Horizonte; a importância de conectar filantropia e ESG também foi discutida no evento

Desenvolver uma comunicação mais inclusiva onde todos são considerados no discurso também foi pauta do FIFE. Tive a oportunidade de estar presente no evento e destaquei a importância da inclusão na comunicação, considerando a diversidade, equidade e o lugar de fala de todos na hora de nos comunicarmos como estratégia. Na ocasião, comentei que se não soubermos com quem estamos falando, para quem estamos falando e excluirmos os grupos minorizados do discurso, vamos gerar ruídos e a mensagem não vai chegar a todos. Porque todos merecem receber a mensagem e informação é um direito de todos e deve ser uma ferramenta de inclusão e não de exclusão.

O FIFE também proporcionou discussões vibrantes sobre a intersecção entre filantropia, ESG (Environmental, Social and Governance), e o chamado “pensamento corporativo” no terceiro setor. “Muitas vezes, a gente vê os projetos sociais sendo executados e não percebe que ali é uma empresa também, que tem sua diretoria, tem seus funcionários, suas despesas, suas receitas e uma série de questões legais para serem cumpridas como uma empresa normal.”, destacou Zeppa.

Palestrantes inspiradores, como Danilo Ferraz da Ferraz Capital, e Fernando Nogueira da ABCR, destacaram a necessidade premente de uma gestão financeira eficaz e estratégias de captação de recursos para impulsionar a sustentabilidade das organizações sociais. Segundo Nogueira, o terceiro setor movimenta hoje R$ 4,27 bilhões na economia brasileira. 

Por meio de insights valiosos, como os apresentados por Thiago Marques da JA Rio de Janeiro, e Beatriz Gurgel, captadora de recursos, o FIFE evidenciou a crescente demanda por alinhamento entre práticas corporativas e valores sociais. O conceito de voluntariado corporativo foi ressaltado como uma forma poderosa de promover o engajamento dos colaboradores e conectar as atividades empresariais com as preocupações sociais. “As empresas já estão cobrando governança da instituição, assim como os potenciais patrocinadores querem saber se a instituição pratica o S. Por fim, os financiadores vão cobrar o E, de meio ambiente, por parte das ONGs”, alertou Beatriz. “Vivemos um tempo de ESG, de uma pauta mais social e diversa que veio pra ficar”. 

Segundo o organizador do FIFE, Márcio Zeppelini, o termo filantropia ainda é um pouco questionado no Brasil porque ainda está muito alinhado apenas com a ideia de solidariedade pura e simples. “Ainda estamos na ideia de que é ‘dar o peixe e não ensinar a pescar’.”, conceitua ele.  O termo filantropia nos Estados Unidos e na Europa é muito mais difundido e validado. Nestes locais, por exemplo, as  crianças já aprendem o que é filantropia. “Elas aprendem, inclusive, o significado na etimologia da palavra que ‘é amor à humanidade’ e que a  gente não precisa só fazer uma doação para uma organização ou ir um dia brincar com as crianças de um orfanato. A filantropia está no dia a dia. No Brasil, a  cultura da filantropia ainda precisa crescer um pouco, já cresceu muito mas ainda falta e precisa estar enraizada nas famílias, nas crianças, nas  empresas.”, destaca Zeppa.

A filantropia não é mais apenas um ato de generosidade isolado, mas sim uma estratégia integrada à comunicação corporativa. As empresas estão cada vez mais reconhecendo a importância de alinhar suas iniciativas filantrópicas com suas estratégias de marketing e valores centrais.  Segundo Zeppelini, a filantropia estratégica é aquela que não apenas beneficia a sociedade, mas também fortalece a marca e sua conexão com os consumidores.

É crucial evitar a armadilha do “social washing”, onde as empresas utilizam a filantropia apenas para limpar sua imagem, sem um compromisso genuíno com a responsabilidade social. A autenticidade e a transparência devem ser os pilares das iniciativas filantrópicas, garantindo que elas sejam verdadeiramente impactantes e sustentáveis. “Eu não vejo absolutamente nenhum problema de as empresas usarem os trabalhos filantrópicos em favor do marketing da empresa, desde que não seja um social washing, só uma lavagem da imagem.”, alertou Márcio Zeppelini.

A filantropia não é apenas uma questão de caridade, mas sim uma poderosa ferramenta para impulsionar o sucesso corporativo, promover a mudança social e fortalecer os laços com a comunidade. Integrar a filantropia na estrutura e na comunicação das empresas não só é desejável, mas também essencial para construir um futuro mais justo e sustentável para todos. No 11º FIFE, ficou claro que a filantropia não é um luxo, mas sim uma necessidade para as empresas que desejam prosperar em um mundo cada vez mais consciente e engajado.

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Letícia Vidica

Jornalista, apresentadora, mediadora, mestre de cerimônias, palestrante e escritora. Colunista do site Mina Bem Estar e criadora do grupo ‘Herdeiras de Glória Maria”, uma rede que reúne jornalistas pretas. Idealizadora do projeto de diversidade e inclusão “CNN Plural” do qual foi responsável pelo gerenciamento estratégico e editorial e também pela apresentação do mesmo em todas as plataformas da CNN Brasil (TV, rádio, site e redes sociais). Atuou como gerente de conteúdo na CNN desde a estreia do canal, assim como comentarista de D&I no programa Popverso CNN; idealizou e apresentou também o quadro “Vozes Pretas” – que narra a trajetória de pessoas pretas protagonistas e fez parte do time do quadro “Papo Pop”; além de ter sido uma das apresentadoras do CNN Nosso Mundo. Possui experiência de mais de 18 anos em jornalismo televisivo, tendo passagens pela TV Globo, SBT, Redetv e CNN Brasil, onde atuou principalmente na produção de reportagens, séries e projetos especiais, assim como na edição e gerenciamento de projetos. Participou da implementação do programa interno de D&I na CNN Brasil, junto a consultoria terceirizada. Em sua trajetória, atuou como produtora de telejornais nacionais, como Jornal Nacional, Jornal da Globo, Bom Dia Brasil, Jornal Hoje, RedetvNews e SBT Brasil; além de programas como Fantástico e Profissão Repórter. Esteve na equipe de produção de projetos especiais da televisão brasileira, como Brasil que eu quero (TV Globo), 50 anos do Jornal Nacional (TV Globo), Carnaval Globeleza (TV Globo), Núcleo Eleições (TV Globo), Profissão Repórter, Estreia da CNN Brasil e CNN nas Eleições. Possui experiência em mediação, palestras, mestre de cerimônia e consultorias de comunicação. Autora do livro “Mulheres solteiras não são de Marte” (Ed. Universo dos Livros) e uma das coautoras do livro “Maria: a Glória do Brasil”, uma homenagem à jornalista Glória Maria.

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