18 de fevereiro de 2025

A Aberje e o valor do associativismo

Texto para palestra no Lançamento da Agenda Aberje 2025, no Hotel Rosewood, em São Paulo, em 17 de fevereiro de 2025

Um olhar rápido sobre a trajetória histórica da Aberje captura momentos de afirmação da importância do associativismo para a institucionalização de um campo profissional e científico, a comunicação de empresas e instituições no Brasil. A Aberje, como instituição profissional e científica é “a semente da Comunicação Organizacional”, como destaca a emérita professora Margarida Kunsch. Desde a sua fundação em 8 de outubro de 1967, a Aberje tem se dedicado a consolidar o campo profissional e científico da Comunicação Empresarial e Institucional no Brasil. Inspirada nos ensinamentos de Émile Durkheim, a associação baseia-se em três pilares fundamentais: a prática profissional e de pesquisa, a teoria que orienta essa prática e a capacidade de seus membros de se associarem. Esses pilares são indispensáveis para a existência e o fortalecimento de qualquer campo profissional e científico.

Ampliando o olhar, além do campo profissional e científico, o contexto onde se insere o associativismo, clama participação ativa dos cidadãos, como integrantes das empresas, das comunidades e da sociedade. Uma participação fundamental para o fortalecimento das democracias contemporâneas. Nesse contexto, o associativismo emerge como um pilar essencial, promovendo a coesão social, a defesa de direitos e a construção de uma sociedade mais justa e participativa.

A relevância das associações na promoção da democracia já foi destacada por Alexis de Tocqueville em “Democracia na América”. Toqcqueville afirmou que, em países democráticos, a ciência da associação é a “ciência-mãe”; o progresso de todas as outras depende dos progressos desta. As associações orientadas para o bem comum operam como escolas de democracia, onde os indivíduos aprendem a arte da participação cívica, desenvolvem virtudes cívicas e fortalecem a confiança mútua. Esses elementos são cruciais para o funcionamento eficaz das instituições democráticas e da sociedade

Estudos contemporâneos corroboram essa visão. Pesquisas indicam que sociedades com um tecido associativo robusto tendem a apresentar instituições políticas mais eficazes e democráticas.

As associações promovem a criação de redes de engajamento cívico que facilitam a coordenação, a comunicação e a resolução de dilemas de ação coletiva. Além disso, estimulam normas de reciprocidade e confiança social, ampliando o senso de coletividade e pertencimento. Como destacado por Robert Putnam, “a vida é mais fácil numa comunidade abençoada por um estoque substantivo de capital social”.

O ato de associar-se transcende a mera união de indivíduos em torno de interesses comuns. Trata-se de um exercício positivo, agregador, que fortalece o tecido social, promove a participação cidadã e contribui para a construção de sociedades mais equânimes e resilientes. Como bem observou Durkheim, as associações são fundamentais para a coesão social e para a vitalidade das democracias modernas.

Concluo a minha intervenção, neste lançamento da Agenda Aberje 2025, destacando que incentivar e fortalecer o associativismo é investir no futuro democrático de nossa sociedade. Que possamos, coletivamente, reconhecer e valorizar a importância das associações, dentre elas a Aberje, na promoção, sem partidarismo, de uma cidadania ativa, e na construção de um mundo mais justo e solidário.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Paulo Nassar

Diretor-presidente da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje); professor titular da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP); doutor e mestre pela ECA-USP. É coordenador do Grupo de Estudos de Novas Narrativas (GENN), da ECA-USP; pesquisador orientador de mestrado e doutorado (PPGCOM ECA-USP); pesquisador da British Academy (University of Liverpool) – 2016-2017. Entre outras premiações, recebeu o Atlas Award, concedido pela Public Relations Society of America (PRSA, Estados Unidos), por contribuições às práticas de relações públicas, e o prêmio Comunicador do Ano (Trajetória de Vida), concedido pela FundaCom (Espanha). É coautor dos livros: Communicating Causes: Strategic Public Relations for the Non-profit Sector (Routledge, Reino Unido, 2018); The Handbook of Financial Communication and Investor Relation (Wiley-Blackwell, Nova Jersey, 2018); O que É Comunicação Empresarial (Brasiliense, 1995); e Narrativas Mediáticas e Comunicação – Construção da Memória como Processo de Identidade Organizacional (Coimbra University Press, Portugal, 2018).

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