Onde Estão as Mulheres na Tecnologia? Uma Reflexão Necessária para o Desenvolvimento Sustentável

O problema da ausência feminina no setor de tecnologia
Apesar de representarem 51% da população brasileira (IBGE) e 59% dos estudantes no ensino superior (INEP), as mulheres seguem dramaticamente sub-representadas nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM). Apenas 30% dos estudantes dessas áreas são mulheres, enquanto em cursos de fora do mercado STEM, o percentual é de 63% (IGUALDADE STEAM). Além disso, menos de 34% das mulheres matriculadas realmente concluem a graduação em cursos STEM (INEP/UNESCO).
Essa desistência não é fraqueza ou falta de capacidade. Muito pelo contrário, o baixo desempenho está longe de ter a ver com isso. Ele é, na verdade, reflexo de barreiras culturais e institucionais de forma estrutural. Os ambientes acadêmicos são hostis e masculinizados, com baixa representatividade diversa e apoio institucional. Estas situações fazem com que as estudantes se sintam isoladas, vivendo em um ambiente com competitividade tóxica e com risco de assédio.
As mulheres representam 43% da força de trabalho ativa no Brasil (Trading Economics), mas no setor de tecnologia da informação e comunicação (TIC), elas representam cerca de 25% dos profissionais, segundo dados combinados da CATHO, IBGE, Brasscom e Women in Tech. Ou seja, apenas 0,08% da população feminina adulta trabalha na área de TIC (SERASA). Quando fazemos uma análise mais minuciosa do mercado, percebemos que a escolaridade das mulheres supera a dos homens em todos os níveis de cargo, mas elas são menos escolhidas para eles. Elas são mais capacitadas, mas menos promovidas para cargos de tomadores de decisão (BRASSCOM).
É importante ressaltar também que, apesar da situação já ter melhorado bastante, em 2024 as mulheres ainda receberam quase 21% a menos que os homens (EBC). Em cargos de direção e gerência, as mulheres ganham, em média, 73% do salário dos homens (CNN). O setor de TIC segue este padrão: mulheres recebem até 28% menos do que os homens, mesmo com formação similar ou superior (REDE MULHER EMPREENDEDORA). Quando fazemos o recorte de liderança, as mulheres em TIC ganham até 48% a menos que os homens em posições equivalentes (MOVIMENTO MULHER 360).
Quando se trata de mulheres negras e pessoas trans, os números são ainda mais alarmantes: mulheres negras compõem apenas 11% do setor, apesar de representarem 30% da população (IBGE e PRETALAB), além de receberem os menores salários e serem sub representadas nas lideranças, sendo apenas 16,3% (BRASSCOM). Pessoas trans têm presença quase nula e enfrentam níveis extremos de exclusão. Apesar de já serem aproximadamente 2% da população adulta brasileira, apenas 4% das pessoas trans têm emprego formal (ERNST & YOUNG) e, infelizmente, a expectativa de vida deste grupo social é de apenas 35 anos (GAMA REVISTA). O problema, no caso de grupos sub representados, é ainda mais profundo.
Por que isso importa?
A sub-representação feminina não é apenas um problema ético, mas também um entrave econômico e inovador. Segundo estudo da McKinsey, a inclusão plena das mulheres no mercado de trabalho poderia adicionar até US$ 12 trilhões ao PIB global até 2025. Além disso, empresas com maior diversidade de gênero têm 21% mais chance de atingir resultados acima da média.
Diversidade é sinônimo de inovação. Equipes diversas criam produtos e soluções mais abrangentes, eficazes e justas, com menos vieses, o que é essencial ainda mais na área tecnológica. A ausência de mulheres aumenta as chances da geração de produtos tecnológicos enviesados e reforça a reprodução de desigualdades, afastando a tecnologia de um futuro sustentável.
Um olhar interno: o que empresas podem fazer?
Diversas organizações estão promovendo iniciativas para mudar essa realidade. Na Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES) fizemos um webinar de conscientização sobre o tema, trazendo diversas especialistas do setor e entidades que trabalham com capacitação de mulheres para trabalhar no mercado de TIC.
Foi neste webinar, apresentado em 2024, que trouxemos uma primeira versão desta pesquisa sobre representatividade feminina no mercado, que hoje foi transformada em artigo para o blog do PACE. Uma segunda versão desta pesquisa foi apresentada no Web Summit Lisboa de 2024, em uma parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).
Em 2025 foi eleita uma nova diretoria da ABES e, pela primeira vez, temos duas mulheres entre os cargos de liderança da associação, fruto de nossos esforços em sermos também exemplos para nossos associados e não apenas reproduzir um discurso vazio de inclusão.
É fundamental lembrar que esses esforços não podem ser pontuais. Trata-se de uma transformação de cultura organizacional e de estrutura. Precisamos de políticas de equidade salarial, ambientes seguros e inclusivos, programas de liderança feminina e métricas claras de diversidade e inclusão.
Caminhos para a transformação
- Ação afirmativa com foco interseccional: políticas que reconheçam as desigualdades específicas vividas por mulheres negras, indígenas e trans.
- Mentoria e redes de apoio: espaços para troca, fortalecimento e crescimento profissional.
- Educação inclusiva desde cedo: estímulo à entrada de meninas nas áreas STEM, com apoio contínuo durante a formação.
- Aliança com aliados e lideranças: engajamento ativo de grupos dominantes para a transformação das estruturas excludentes.
- Transparência de dados e metas claras: medir para transformar.
Conclusão
Promover a equidade de gênero na tecnologia não é apenas uma correção histórica, mas sim uma estratégia vital para o desenvolvimento sustentável. Se queremos cumprir os compromissos da Agenda 2030, precisamos garantir que a transformação digital seja também uma transformação inclusiva e duradoura. A diversidade é o motor da inovação e a inovação só é sustentável quando é para todos.
ARTIGOS E COLUNAS
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