Recentemente, conversando com colegas de equipe para bolar o slogan de um evento internacional, soltei esta: “a little less conversation, a little more action”, uma música do Elvis Presley que diz algo como “menos conversa e mais ação”, em tradução livre. Evidentemente era brincadeira, mas reflete o meu sentimento após anos acompanhando discussões sobre clima, desenvolvimento sustentável e direitos humanos.
Costuma-se dizer que notícias ruins não mobilizam as pessoas para a mudança. Dizem que levam a uma certa acomodação, um estado de anestesia e dessensibilização diante dos fatos. No contexto de múltiplas crises que vivemos, com guerras, tragédias climáticas e crescimento da desigualdade, o ideal supostamente seria “trazer bons exemplos”, mostrar o que está dando certo, as batalhas da sustentabilidade que estamos vencendo, e assim contribuir para um ambiente mais otimista e favorável à mudança.
Mas, sinceramente, não vejo como essa abordagem vai nos tirar do buraco em que nos enfiamos. Não vejo como sair da crise, sem conhecer sua real extensão. É meio como quando você está endividado e o primeiro passo é fazer as contas. Ou como naquela expressão do escritor francês Romain Rolland, que é mais conhecida pela citação do filósofo Antonio Gramsci, a que trata do pessimismo da inteligência e do otimismo da vontade. Primeiro a gente vê as coisas como elas são, depois a gente age para mudá-las.
E o quadro, bem, digamos que é difícil ver o copo meio cheio. Tome-se a Agenda 2030 do Desenvolvimento Sustentável, que mais que um conjunto de metas a serem atingidas até o final desta década, pode ser compreendida como uma matriz de risco para organizações e governos de qualquer porte, com indicadores dos fatores-chave para a sobrevivência humana, entre eles a conservação dos ecossistemas, a qualidade de vida das pessoas, paz e prosperidade. Em última análise, é uma matriz de risco do planeta.
Chegando quase na metade da década decisiva para atingirmos esse objetivo, deveríamos estar aí beirando os 40% dessas metas, correto? Mas não é preciso muita pesquisa para mostrar o quanto estamos distantes disso no mundo. E no Brasil não é diferente, como mostra o último Relatório Luz da Sociedade Civil da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável: das 169 metas que compõem os 17 ODS, 102 (60%) estão em situação de retrocesso; 14 ameaçadas; 16 estagnadas; 29 com progresso insuficiente; apenas três com progresso satisfatório e quatro sem dados suficientes, sendo que uma não se aplica ao Brasil.
Os números apontam o tamanho do desafio que não pesa apenas sobre o governo federal, mas sobre a sociedade brasileira como um todo. Pois, para superá-lo, mais do que ações coordenadas entre diferentes esferas de governo e da sociedade civil, é necessário que o Brasil supere questões que permeiam nossa história e o tecido social, como a herança escravista e o racismo estrutural, a corrupção, os privilégios de classe e o sexismo, para citar algumas delas. E isso num contexto de polarização ideológica, incitação ao ódio e disseminação de notícias falsas.
Isso nos dá uma ideia, também, do tamanho do desafio que temos na Plataforma de Ação para Comunicar e Engajar (Pace), da Rede Brasil do Pacto Global. Mais do que compartilhar boas práticas na comunicação da sustentabilidade, precisamos compreender como engajar, de fato, as organizações (e as pessoas que as compõem) para a mudança. Daí o papel crucial da comunicação dentro das organizações. E indicação, também, da estratégia acertada da Rede Brasil de aprofundar o engajamento das participantes por meio de movimentos (pela água, clima, economia circular, igualdade racial e de gênero e outros), em que as empresas assumem compromissos públicos em prol do avanço desses temas.
Importante começar 2024 cientes dos desafios que nos aguardam. O ano será marcado pela realização de inúmeras reuniões ministeriais e de cúpula do G20 em solo brasileiro. E temos pela frente a preparação para a primeira Conferência Mundial do Clima no Brasil (em 2025, em Belém). As condições para a retomada do desenvolvimento sustentável, de fato, estão dadas (pela Agenda 2030, pelo Acordo de Paris e por outros documentos planetários). Vamos partir para a ação ou ficaremos no discurso? O tempo dirá.
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