18 de janeiro de 2023

Estamos diante de um dos maiores retrocessos na educação brasileira. O cenário pré-pandemia já era muito preocupante. Até então, tínhamos 68,1% das pessoas sem dominar as 4 contas básicas da matemática e sem conseguir compreender ou escrever um texto curto. Esses dados refletem o resultado divulgado em 2018 pelo O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), avaliação referência quando falamos de aprendizagem e educação globalmente. Ainda não temos o resultado do PISA pós pandemia, mas já sabemos que

O estudo Perda de Aprendizagem na Pandemia, uma parceria entre o Insper e o Instituto Unibanco, estima que, no ensino remoto, os estudantes aprendem, em média, apenas 17% do conteúdo de matemática e 38% do de língua portuguesa, em comparação com o que ocorreria nas aulas presenciais. Entre alunos que estão no 3º ano do ensino médio, a perda de aprendizagem acumulada já é estimada em 74%, tanto em português quanto em matemática (fonte Agência Senado).

O fracasso escolar ainda representa um pesadelo para nossos educadores. A qualidade da educação é um dos temas mais debatidos na atualidade,  devido ao cenário de pandemia já abordado acima, além de ser um tema extremamente relevante e bastante polêmico por estar diretamente relacionado ao desenvolvimento acadêmico e a preparação do indivíduo para o mercado de trabalho, impactando no dia a dia das empresas.

De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (1990), “a criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho”. Desta forma, a primeira fase do sistema educacional é fundamental na formação dos cidadãos e no desenvolvimento da nação de um modo geral.

Uma nação com uma educação de base frágil tende a ter uma economia enfraquecida e com um PIB mais baixo, o que se reflete em tudo o que está relacionado à qualidade de vida da população, por conta da falta de qualidade no sistema de ensino básico. Cidadãos que não têm acesso à educação básica de qualidade têm dificuldade de exigir seus direitos, não focam no bem-estar coletivo e são facilmente corruptíveis.

A educação de base é aquela sobre a qual todo o conhecimento e desenvolvimento do indivíduo irá se sustentar. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação dita que toda essa etapa básica é obrigatória para todos os brasileiros a partir dos quatro anos de idade. A educação de base consiste em três etapas: educação infantil, ensino fundamental e ensino médio.

A BNCC (Base Nacional Comum Curricular) determina os conhecimentos e as habilidades essenciais que todos os alunos têm o direito de aprender. Ela tem a função, portanto, de guiar os educadores e instituições de ensino em relação aos conhecimentos fundamentais para o desenvolvimento das crianças e jovens.

O desempenho dos estudantes é alvo de estudos no mundo. Algumas pesquisas realizadas buscam identificar fatores que interferem no êxito acadêmico. Essas pesquisas têm como finalidade realizar uma revisão que evidencie os fatores associados ao desempenho dos estudantes na Educação Básica. Nos últimos anos, o país não tem conseguido atingir as metas estabelecidas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb)

Analisando o cenário da educação básica do Brasil, por ser obrigatória e fundamental para a formação dos cidadãos brasileiros, era de se esperar que a educação de base fosse prioridade. Mas isso não condiz com o nosso cenário atual.

A estrutura de classes sociais é uma realidade que pode ser explicada a partir das desigualdades encontradas na sociedade, como por exemplo: desigualdade de rendimento escolar entre os sexos, acesso à Educação Básica de qualidade distinta, acesso a formações profissionais de maior prestígio social. Dessa maneira, o «sistema de fatores enquanto tal que exerce, sobre condutas, as atitudes e, portanto, sobre o êxito e a eliminação da ação indivisível de uma causalidade estrutural de sorte que seria absurdo imaginar isolar a influência de tais fatores.

O relatório SAEB 2022 reflete sobre o estado atual da educação e fornece recomendações ao governo, escolas, professores e alunos para fazer melhorias em diversas áreas. De acordo com os resultados da última avaliação do SAEB aplicada em 2021 para mais de 5,3 milhões de estudantes, os alunos das séries iniciais em processo de alfabetização foram os mais prejudicados durante a pandemia. Esses alunos não conseguem interpretar de forma explícita um texto curto de apenas 2 linhas. Ainda de acordo com os resultados do SAEB, os alunos regrediram em matemática o equivalente ao que aprenderam em 2013. Já em português dobrou a quantidade de alunos que estão nos níveis mais baixo de leitura e escrita.

Há diversas organizações que tem tentado recuperar os déficits acima expostos, como é o caso do Alicerce Educação, organização de impacto social que oferece programas de contraturno escolar para crianças e jovens, no intuito de oferecer acesso à educação de qualidade e garantir que o aluno terminou o ano letivo com o domínio das habilidades que essenciais para seu desenvolvimento. Além dos programas com crianças e jovens, o Alicerce desenvolveu uma metodologia aplicada para adultos, com intuito de oferecer um programa de desenvolvimento educacional para resgatar a base educacional e também aprimorar e aperfeiçoar conhecimentos técnicos e socioemocionais. Um bom exemplo do que vem sendo feito são as escolas em canteiros de obra que o Alicerce implantou em mais de 25 canteiros da MRV, em uma parceria que tem a meta de chegar a 40 canteiros de obra até o final deste ano.

Tanto se fala em inovação e esquecemos que inovar mesmo é lembrar que sem o básico não dá pra criar um mundo realmente inovador. Em um país que mais da metade da população não tem acesso a uma educação que garanta as 4 contas básicas da matemática, como vamos ensinar programação para o mercado de trabalho aquecido da tecnologia?

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Daniela Cantinelli

Graduada em Administração de Empresas, tem especialização em Gestão de Negócios, Desenvolvimento de pessoas e Competências Empreendedora Integradas à BNCC pela Faculdade SEBRAE, Fundadora e idealizadora do Brasil Educação e Ideal Profissões (projetos para apoio ao desenvolvimento de crianças e jovens) e mais de 12 anos de experiência em desenvolvimento e acompanhamento de projetos de impacto social, voluntária da Pastoral da Criança desde de 2005. Atualmente, é diretora de parcerias corporativas no Alicerce Educação.

Cindy Carbonari

Advogada formada pela PUC-SP e pós graduanda em Mediação de Conflitos pela BBI of Chicago. Atua desde 2017 com projetos de impacto e desenvolvimento social, palestrante TEDx em 2018, fundou projetos na Amazônia e nos presídios do Espírito Santo e, atualmente, é head de Parcerias no Alicerce Educação.

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