Equipe 100% feminina: estratégia que dá certo!
“ESG: inclusão e diversidade gerando oportunidade, resultado e rentabilidade” foi o tema da plenária que conduzi este ano no 31º Congresso da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), inspirado no curso sobre ESG (Environmental, social, and governance), que ministro na Universidade Fenabrave. Para ilustrar o tema, convidamos Milene Sipas, Diretora Comercial do Grupo RPoint Renault, idealizadora e realizadora da Woman@Point, uma concessionária com uma equipe 100% feminina. A unidade conta com área de 548 m² e fica localizada no bairro da Casa Verde, em São Paulo. O espaço é completo e conta com showroom, área de entrega de veículos e oficina.
O congresso deste ano foi o maior de todos, contou com a presença de milhares de profissionais do setor, inclusive do vice presidente Geraldo Alckmin e do governador de São Paulo Tarcísio de Freitas, que estiveram na abertura do evento. Conduzir esta plenária possibilitou mostrar que inclusão e diversidade podem trazer resultados e oportunidades.
Sobre o mercado de revenda de veículos automotores no Brasil
O mercado brasileiro possui algumas características bastante específicas, sendo a principal delas, a necessidade, por parte das montadoras, de terem um canal de vendas, uma vez que são impedidas de vender diretamente ao consumidor por uma lei federal (Lei 6729 de 28/11/1979), conhecida como Lei Ferrari.
Desta necessidade nascem as revendas autorizadas, também conhecidas por concessionárias, que por sua vez possuem uma séria de responsabilidades e atividades. Embora, muitos pensem que cabe a elas apenas a venda de veículos, elas também possuem uma área de pós-vendas que inclui oficina mecânica e venda de peças. Algumas também compram e vendem veículos usados.
É comum no mercado brasileiro um grupo ter mais de uma revenda e em alguns casos sendo de diferentes marcas, como por exemplo: Fiat, Jeep, Honda ou Volkswagen, empresa na qual tive o privilégio de trabalhar.
Aqui neste artigo trouxemos a concessionária Woman@Point que faz parte do Grupo RPoint que revende veículos da Renault.
Sobre a concessionária Woman@Point
Desde o atendimento de vendas até a oficina mecânica, todo o quadro de funcionários da loja é feminino, sendo a única exceção, o vigia. A equipe conta com vendedoras, entregadoras de veículos, consultoras técnicas, mecânicas, além da gerente de vendas e da gerente de serviços de pós-venda. O maior desafio foi encontrar mulheres mecânicas e que, por isso, a capacitação dessas profissionais é a que demanda maior tempo, pois muitas começam do zero.
Assim que o projeto começou a sair do papel, quinze profissionais foram recrutadas e começaram a ser qualificadas pela Renault Academy em parceria com o Senai, em processos que duraram de 90 a 180 dias, dependendo da função e da experiência prévia. Os profissionais do sexo masculino que ali trabalhavam foram remanejados para as outras três lojas do grupo RPoint.
Quando questionada sobre modismo, Milena afirma que a agenda ESG está no DNA do grupo, que também realiza ações sociais em comunidades e de reflorestamento, e que, pelo segundo ano consecutivo, levou o Prêmio ESG Renault.
No fim do ano passado, o grupo aderiu aos princípios de empoderamento feminino da ONU, Organização das Nações Unidas, os WEPs, Women’s Empowerment Principles. Atualmente, o grupo possui 34% de seu efetivo composto por mulheres, sendo que 12% ocupam cargos de liderança.
Sobre a montadora Renault
A Renault do Brasil é a montadora pioneira na América Latina a aderir aos Princípios de Empoderamento das Mulheres, um programa da ONU Mulheres e Pacto Global das Nações Unidas, que visa promover a igualdade de gênero em todas as atividades sociais e da economia. Com a adesão ao WEPs, a empresa tornou público o compromisso da alta liderança com os princípios estabelecidos pelo programa, e demonstra junto aos colaboradores, clientes, fornecedores e comunidade, o seu compromisso com a responsabilidade social.
Considerando o universo das concessionárias da marca Renault, atualmente 50% das consultoras de vendas são mulheres e que, no geral, 23% dos profissionais que trabalham na rede revendedora são do sexo feminino.
A abertura Woman@Point faz parte da política socioambiental do Grupo Renault, que contempla diversidade, inclusão e atuação nos temas sociais, de meio ambiente e governança corporativa. A Renault do Brasil, inclusive, é a única unidade da empresa no mundo a ter cinco grupos de afinidade e ações para as agendas de equidade de gênero, agenda LBGTQIA+, inclusão das pessoas com deficiência, raça e etnias.
O Grupo Renault possui a meta interna global de que, até 2030, 30% de seus líderes sejam mulheres e, até 2050, 50%. Hoje 21% das pessoas que exercem cargos de liderança na montadora são do sexo feminino. Até 2025, o objetivo é zerar a diferença de salário existente e equalizar a presença de homens e mulheres nos processos seletivos de jovens aprendizes e estagiários.
O desfecho surpreendente
Enquanto nos preparávamos para subir no palco e apresentar o caso, encontrei Izaíra Correa, amiga de longa data. Para minha surpresa ao apresentá-las, Milena olhou para Iza e disse: “Você foi a minha inspiração”. Foi então que descobri que Iza, em 1996, quando vice-presidente da Regional São Paulo do grupo SHC, representante da marca Citroën do Brasil, teve a coragem de montar uma equipe feminina para tocar a operação da concessionária Etoile.
Naquele momento fiquei pensando o tamanho dos desafios enfrentados à época. Resolvi durante a plenária, após apresentar o caso da Woman@Point, contar brevemente a experiência de 1996 e fazer uma homenagem chamando Iza ao palco para ser aplaudida. Ao final da apresentação, fomos surpreendidos pelo depoimento de Daniela Louzada, que levantou a mão, pegou o microfone e disse: “Dona Iza, a senhora mudou minha vida quando me deu a oportunidade de fazer um curso no Senai São Paulo” e, com a voz embargada, contou suas conquistas desde então. A plateia ficou emocionada com o depoimento espontâneo.
Algumas reflexões
Este artigo nos remete aos dois movimentos da Ambição 2030 que ACI (Academia de Competências Integrativas), empresa que fundei, apoia: Elas lideram 2030 e Mente em Foco. E ao ODS 8 (objetivo de desenvolvimento sustentável 8 que visa trabalho decente e crescimento econômico), do qual sou porta-voz pelo Programa Liderança de ImPacto do Pacto Global da ONU.
Cabe apontar que mesmo com todos os esforços dedicados à Agenda 2030, poucos foram os avanços percebidos entre a experiência mencionada de 1996 que foi descontinuada e a de 2023. Agora devemos olhar para frente e aprender com a Woman@Point, que tem apresentado resultados acima da média, tanto na área de vendas, quanto na área de pós-vendas, que engloba venda de peças e oficina mecânica. Isso mostra que as mulheres podem ocupar o lugar que quiserem e para isso precisam de qualificação, como expressado nos dois casos mencionados e, muito bem destacado pelo depoimento espontâneo da Daniela.
O engajamento promovido pela visão compartilhada do Grupo RPoint, mostra que propósito articula saúde mental e resultados. Profissionais como Milena e Izaíra provam que o mercado demanda mais exemplos de liderança feminina saudável, em que elas, eu e tantas outras mulheres conseguem conciliar seus papéis de profissional, mãe, esposa e mulher.
Concluindo…
- Vale disseminar que exemplos de liderança feminina saudável trazem bons resultados para toda cadeia envolvida;
- Educação e qualificação são elementos fundamentais na geração de oportunidades e combate às desigualdades;
- Quando o “P” do propósito conecta o “P” de pessoas ao “P” de processos, conseguimos o “P” de profit, sem deixar ninguém para traz.
Destaques
- Capítulo Aberje Minas Gerais realiza debate sobre Comunicação e emergência climática
- Terceira edição da revista Interfaces da Comunicação, da ECA-USP, já está disponível
- Em artigo no Poder 360, diretor-executivo da Aberje fala sobre impacto das mudanças climáticas no esporte
- Empresas apostam na humanização e autenticidade em ações com influenciadores
- Lab de Comunicação para Diversidade destaca papel do tema na estratégia das organizações
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