10 de março de 2021
BLOG Agenda 2030: Comunicação e Engajamento

A pandemia e o Dia Internacional da Mulher

 

Para além dos tristes números que emergiram com a Covid-19, como de mortos, doentes e afetados pela pobreza, há outra trágica estatística associada à pandemia: o crescimento do número de mulheres agredidas e mortas durante a longa quarentena em que vivemos desde o ano passado.

Pareceu-me apropriado tocar neste assunto nesta semana, em função do Dia Internacional da Mulher. A data é importante para celebrarmos as conquistas, mas também para lembrar que ainda há um longo caminho a ser percorrido até que possamos um dia erradicar todo tipo de violência contra mulheres.

O longo período de confinamento, condições sociais e – principalmente – a cultura machista são apontados como as principais causas do crescimento das agressões e feminicídios durante a pandemia. Além disso, o que fazer quando a principal ameaça está dentro de casa durante uma quarentena?

Dados da Rede de Observatório da Segurança, que monitora cinco estados brasileiros (Bahia, Ceará, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo), mostram que 58% dos casos de feminicídio e 66% dos casos de agressão contra mulheres em 2020 estiveram relacionados a companheiros, ex-companheiros ou pessoas do círculo afetivo das vítimas.

O mesmo estudo feito pela Rede revela que em 2020 foram monitorados 1.823 eventos referentes a violências contra as mulheres. Ou seja, em média, cinco mulheres por dia foram agredidas ou mortas nestes Estados ao longo do ano passado.

Levantamentos em outras unidades da federação também surpreendem, como em Mato Grosso (aumento de 58% no número de feminicídios, com dados da Secretaria de Segurança Pública); Pará (aumento de 40%, também com dados da Secretaria de Segurança Pública) e Mato Grosso do Sul (aumento de 30%, de acordo com a Secretaria Estadual de Políticas Públicas para Mulheres).

Desafio Global

Esta triste realidade, no entanto, não está restrita ao Brasil. Estudo da ONU Mulheres mostra que mundialmente somente um em cada oito países adotou medidas para atenuar os efeitos da violência contra mulheres e crianças durante a pandemia.

A ONU Mulheres mostra também que, se no Brasil e México os feminicídios são crescentes, na Nigéria e África do Sul os estupros registraram forte alta, e no Peru houve aumento do desaparecimento de mulheres. Na França houve um aumento de 30% no número de ligações para as autoridades em função da violência contra mulheres.

Na Plataforma de Ação para Comunicar e Engajar da Rede Brasil do Pacto Global discutimos formas de sensibilizar as organizações signatárias sobre como ampliar a disseminação dos Dez Princípios e dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Por esta razão, neste Dia Internacional da Mulher, convido as organizações que se comprometeram com a agenda 2030 a olharem para as suas ações e avaliarem quais medidas estão tomando para garantir o atingimento dos ODS relacionados a igualdade de gênero e combate à violência contra mulheres.

O ODS mais claro é o cinco (Igualdade de Gênero), mas os ODS permitem um olhar mais abrangente para um tema tão complexo. A escalada de agressões e feminicídios durante a pandemia mostra que existe uma relação entre a desigualdade de gênero, mas não só: educação, instituições fortes, comunidades sustentáveis, emprego digno também são fundamentais para que possamos combater essa chaga que é muito anterior ao surgimento da Covid-19.

As organizações precisam olhar para o tema, dar voz às mulheres e estimular que os homens participem dos debates, conversem e, principalmente, sejam exemplo. Eles são peça importante para a mudança de comportamento que precisamos em nossa sociedade.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Daniel Escobar

Daniel Escobar é gerente de Comunicação Corporativa da AMAGGI e coordenador da Plataforma de Ação para Comunicar e Engajar da Rede Brasil do Pacto Global da ONU.

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