Se por um lado já é consenso a importância das mídias sociais para a exposição da marca e divulgação de produtos, por outro, as organizações ainda adiam a utilização desses meios para pautar e influenciar discussões mais amplas.
Porém, o que os profissionais de comunicação e relações institucionais não podem ignorar é que os debates já ocorrem diariamente no ambiente digital com ou sem a participação das marcas. E, muitos deles, são de interesse da organização, seja pelo potencial de afetarem negativamente suas operações ou favorecerem o negócio. As relações trabalhistas dos transportes por aplicativo e o uso da cannabis para fins medicinais são apenas alguns exemplos recentes.
Ainda que nova, a prática do lobby, ou seja, o esforço realizado por determinado grupo ou indivíduo para influenciar decisões do governo, já acontece nas mídias sociais. Nas palavras de Renard Aron, “o lobby foi democratizado” e esse movimento foi motivado pelo surgimento do cidadão stakeholder. Esse novo ator, encontrou nas tecnologias digitais meios e terrenos férteis para amplificar e defender seus interesses.
Enquanto isso, as corporações ainda ponderam os desdobramentos que liderar ou participar dessas conversas podem trazer para as suas imagens e relações. Há sim riscos envolvidos, principalmente, em uma época de polarização como a atual. Por outro lado, por mais ambíguo que possa parecer, o cenário nunca esteve tão favorável para as organizações dispostas a se posicionarem.
O estudo Edelman Trust Barometer, realizado em 2020, mostrou um significativo crescimento da confiança que os consumidores depositam nas empresas, além do aumento da expectativa de que as marcas e seus executivos liderem cada vez mais discussões de interesse da sociedade.
Nesse cenário, a isenção e a dinâmica tradicional de poder, na qual as decisões eram tomadas por pequenos grupos a portas fechadas e apenas comunicadas para os demais públicos, não são mais aceitas. O coletivo vem ganhando espaço e pode ser um grande aliado dos profissionais de relações institucionais e comunicação no momento de inserirem um tema no universo do lobby digital.
Ao hastear uma bandeira em conjunto com influenciadores, formadores de opinião, entidades de classe e outros agentes, as organizações amplificam o debate fazendo com que a mobilização popular pressione e influencie os agentes públicos.
Esse movimento é igualmente agregador quando a necessidade é influenciar ou convencer a própria sociedade. Quando o líder da discussão ouve e dá espaço para a participação de outros agentes, a população se sente parte do processo decisório e estará mais disposta a aceitar o desfecho de uma determinada situação. Talvez o resultado não seja a solução inicialmente idealizada pela organização, mas certamente a representatividade trazida pelo processo promoverá o seu avanço.
É importante ainda mencionar que um trabalho prévio, envolvendo as diferentes disciplinas do branding favorecerão o lobby digital, uma vez que, se bem feito e maduro, propiciará uma relação prévia de confiança e conexão com o cidadão stakeholder, tornando-o mais receptivo a participar do diálogo proposto.
É fato que posicionamentos sempre irão gerar descontentamento em alguma camada. Porém, é inegável a importância do ambiente digital para fomentar pautas de interesse das organizações. E, com disposição para uma construção coletiva, é possível minimizar riscos e ter sucesso nessa empreitada.
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