Conferência anual da Page Society destaca relevância da aproximação com RH para comunicação

Realizada em Dallas (EUA) entre 28 e 30 de setembro, a Conferência Anual 2025 da Page Society ressaltou a centralidade da comunicação no cenário contemporâneo de negócios. Com o tema “Being Agile in a Fragile World – Transformative Leadership from the Global Stage to Your Own Resiliency” (Sendo Ágil em um Mundo Frágil – Liderança Transformadora do Palco Global à Sua Própria Resiliência, em tradução livre para o português), as discussões enfatizaram o papel dos líderes de comunicação como agentes de transformação cultural e organizacional. A Aberje foi representada no encontro por Hamilton dos Santos, seu diretor-executivo, que também atua como Country Chair da Page Society no Brasil.
No painel de abertura do primeiro dia, o presidente da Page Society, Roger Bolton, e o fundador do WSJ Leadership Institute, Alan Murray, abordaram os desafios da liderança em um ambiente em que a tecnologia avança mais rapidamente que a capacidade das empresas de se adaptar. Murray destacou que as estruturas corporativas permanecem presas a modelos do século XX, enquanto a tecnologia já opera em outra lógica.
Entre os pontos debatidos, destacou-se a ausência de retorno mensurável em grande parte das iniciativas de inteligência artificial, a necessidade de empoderar equipes de linha de frente e a importância de desenvolver competências de comunicação empática nas lideranças. Em entrevistas recentes com CEOs, a dificuldade em comunicar com clareza e sensibilidade aparece como um dos maiores obstáculos contemporâneos.
Os debates também trouxeram alertas sobre a concentração dos investimentos em IA nos Estados Unidos, a erosão da empatia nas relações humanas e o enfraquecimento da mídia local. Em um contexto global marcado por desconfiança e instabilidade, os comunicadores foram apontados como essenciais para traduzir propósito, construir confiança e alinhar a cultura organizacional às transformações em curso.
Comunicação e liderança em um cenário de polarização
O segundo dia do encontro concentrou-se em estratégias de comunicação corporativa diante de um ambiente de crescente polarização social, política e econômica. A programação destacou o papel das empresas na promoção de diálogo e coesão interna, sem perder de vista o impacto do contexto externo sobre reputação e engajamento.
A mesa “Polarities at Play: Leading Through Complexity” (Polaridades em Jogo: Liderando em Meio à Complexidade, em tradução livre para o português) reuniu o reverendo Peter J. Johnson, fundador do Institute for Nonviolence e integrante da equipe original de Martin Luther King Jr., e Julie Hamp, da Toyota Motor Corporation. Moderada por Diane Brady, da Fortune, a conversa abordou o valor da não violência, da resiliência e das atitudes cotidianas de inclusão como fundamentos da liderança ética.

O painel “Impact of Polarization on Business & What Can We Do About It?” (Impacto da Polarização nos Negócios e O Que Podemos Fazer a Respeito, em tradução livre para o português) trouxe análises sobre como a polarização afeta a confiança entre colegas, o clima organizacional e a tomada de decisões. Foram apresentados dados que demonstram o impacto direto da hostilidade e da desconfiança nas operações corporativas. As recomendações incluíram o fortalecimento do diálogo aberto, a integração entre comunicação e recursos humanos e a definição de um propósito compartilhado como instrumento de resiliência. A mesa reuniu Bob Feldman, fundador do The Dialogue Project, da Duke University; Joe Cohen, diretor de Marketing e Comunicação da AXIS; Allison Kahn, diretora-gerente de Comunicação do JP Morgan Chase; James Atkinson, vice-presidente de Liderança de Pensamento da SHRM; e Mary Frances Luce, diretora da Fuqua School of Business, da Duke University.
Outro destaque foi o painel “The Science of Storytelling: Data-Backed Strategies for Maximum Engagement” (A Ciência da Narrativa: Estratégias Baseadas em Dados para Maior Engajamento, em tradução livre para o português), com Brittany Paxman, sócia-diretora do Point 600; Rob Key, fundador e CEO da Converseon; Daniel Neal, diretor de Insights e Inteligência da AT&T; e moderado por Ash Spiegelberg, sócio e líder global de Tecnologia, Mídia e Telecomunicações do Brunswick Group. A mesa explorou o uso de dados e inteligência artificial na criação de narrativas corporativas. Os participantes ressaltaram que, embora a tecnologia amplie a capacidade analítica, a criatividade e o julgamento humano continuam indispensáveis para gerar conexões autênticas.
Durante o evento, a Page Society anunciou a superação da marca de mil associados, a expansão global de suas atividades, a adoção de ferramentas digitais de integração (como os grupos de WhatsApp, incomuns no contexto corporativo dos EUA) e sua participação na COP30 em parceria com a Aberje.
Entre as principais conclusões do dia, destacaram-se:
- A comunicação deve estar alinhada com valores e cultura organizacional;
- A integração com o RH é estratégica para lidar com polarização e clima interno;
- Políticas de inclusão e respeito dependem tanto de programas formais quanto de comportamentos individuais;
- Dados e IA potencializam decisões, mas criatividade e julgamento humano são insubstituíveis;
- O monitoramento contínuo do impacto de polarização ajuda a reduzir riscos e custos operacionais.
Resiliência e liderança em tempos de crise contínua
O último dia da conferência reuniu experiências pessoais e práticas institucionais voltadas à gestão de crises e à construção da resiliência organizacional. As sessões enfatizaram a importância de líderes emocionalmente preparados para atuar em ambientes de alta complexidade.
A primeira mesa, “Leadership in Real Time: Putting on Your Own Oxygen Mask First” (Liderança em Tempo Real: Colocando Sua Própria Máscara de Oxigênio Primeiro, em tradução livre para o português), apresentou o caso de Jim Olson, ex-diretor de comunicação da United Airlines e professor da Syracuse University. Ao relatar sua experiência de superação de um câncer que o deixou quase cego, Olson destacou a necessidade de líderes cuidarem de si mesmos para manter clareza e propósito durante períodos críticos.

Na sequência, o painel “Resiliency Out of Permacrisis” (Resiliência em Meio à Permacrise, em tradução livre para o português) abordou como transformar a resiliência individual em estruturas corporativas capazes de enfrentar crises sobrepostas. Os palestrantes defenderam a criação de centros de gerenciamento de crise nas áreas de comunicação e a realização de simulações periódicas para testar respostas. A expressão “pilotar, navegar e comunicar”, usada por Olson na mesa anterior, foi retomada como metáfora para a gestão de crises: controlar, definir o rumo e, só então, comunicar.
Encerrando a programação, Charlotte Jones, Chief Brand Officer e co-proprietária do Dallas Cowboys, apresentou o painel “Leading the World’s Most Valuable Sports Brand” (Liderando a Marca Esportiva Mais Valiosa do Mundo, em tradução livre para o português). Ela defendeu valores como integridade e compaixão como fundamentos da liderança contemporânea e destacou o papel unificador do esporte em uma sociedade fragmentada. Para Jones, liderar requer disciplina e consciência de que o equilíbrio é dinâmico – o essencial é manter o respeito e o foco no propósito.

Os paineis do terceiro e último dia da conferência ofereceram um conjunto de aprendizados que podem orientar os comunicadores:
- Estruturar hubs de crise: As crises hoje são simultâneas e contínuas. É essencial que as áreas de comunicação criem hubs ou squads de gerenciamento de crise, preparados para atuar de forma coordenada e ágil.
- Cultivar resiliência: Mais do que preparo técnico, os times precisam desenvolver o mindset da resiliência, que permite atravessar turbulências mantendo clareza, foco e consistência.
- Praticar simulações: Treinamentos e exercícios simulados ganham centralidade como ferramenta para antecipar cenários e aumentar a capacidade de resposta.
- Valorizar os fatos, não apenas as manchetes: A análise precisa, apoiada em dados de qualidade, deve prevalecer sobre a ansiedade gerada pela repercussão imediata da mídia.
- Equilibrar razão, emoção e política: As decisões precisam combinar intuição e racionalidade, considerando que o ambiente político é inseparável da atuação empresarial. Os diretores de comunicação devem demonstrar clareza, transmitir esperança e manter otimismo, mesmo em meio ao caos.
ARTIGOS E COLUNAS
Leila Gasparindo Geração Z e diversidade: uma contribuição inédita para a evolução da comunicação organizacionalLuis Alcubierre Reputação na era da desconfiança: o que está mudando na ComunicaçãoCamila Barbosa O custo oculto do monitoramento manual em relações governamentais
Destaques
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- Conecta CI destaca simplificação, tecnologia e protagonismo das pessoas na evolução da Comunicação Interna
- Prêmio Aberje 2025 anuncia prêmios especiais: Comunicadores do Ano, CEO Comunicador, Mídias e outros
Notícias do Mercado
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- Race Comunicação é a nova agência de comunicação da AB Mauri Brasil

































