Aberje Trends Afterwards discute resiliência da imprensa em tempos de IA e desinformação

Pelo segundo ano consecutivo, o Aberje Trends Afterwards – Edição Rio de Janeiro reuniu profissionais para discutir tendências da comunicação corporativa. Realizado na última quinta-feira (07), no Centro Cultural FGV, o encontro deu continuidade às conversas iniciadas nos eventos de São Paulo e Belo Horizonte, tendo como pano de fundo o tema “Nova desordem mundial”. Os paineis lançaram um olhar sobre como os comunicadores estão navegando em tempos de tensões globais marcados por conflitos, mudanças climáticas e o avanço da inteligência artificial. Entre os destaques, o painel “Mídia – Imprensa: legado e renascimento” trouxe reflexões sobre as transformações do cenário midiático e a resiliência do jornalismo em um mundo cada vez mais conectado e complexo.
O debate contou com a participação de Alessandra Ber, diretora de Public Relations da TIM; André Miranda, editor-executivo dos jornais O Globo e Extra; e Juliana Dal Piva, jornalista da Abraji. A moderação foi de Marcelo Moreira, sócio-diretor da Diversa Com.
Moreira iniciou o painel destacando que o advento das redes sociais e do iPhone, a partir de 2007, transformou radicalmente a forma de consumir e produzir conteúdo, quebrando a hegemonia dos meios de comunicação tradicionais. Ele ressaltou que, com todos os habitantes conectados do planeta produzindo conteúdo por meio de seus aparelhos, os modelos de negócio mudaram e as Bigtechs impactaram fortemente a receita das empresas jornalísticas, que precisaram “enxugar” suas redações.
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André Miranda, d’O Globo, enfatizou que o papel fundamental do jornal – ser independente, com qualidade e checagem para o leitor – “não muda em 100 anos, nunca mudou”. O que se alterou, segundo Miranda, é a forma de entregar esse jornalismo, que evoluiu do papel para a internet, redes sociais e celular. Ele ilustrou a ampliação do alcance, mencionando que o jornal, que vendia cerca de 20 mil exemplares no Rio de Janeiro há um século e chegou a mais de 1 milhão nos anos 90, hoje chega a 30 milhões de pessoas por mês pela internet, expandindo sua audiência para além do Rio e do Brasil.
No entanto, essa capilaridade trouxe desafios de monetização. André explicou que, historicamente, a publicidade, especialmente a partir dos anos 70, superou a venda direta ao leitor como principal fonte de receita dos jornais. Com a fragmentação da internet, a publicidade caiu, e a notícia gratuita online reduziu também a receita direta vinda dos leitores, resultando no fechamento de muitos jornais e revistas nos últimos anos.
Alessandra Ber comentou a estratégia da Tim diante desse cenário diversificado. “Todos esses meios de comunicação são complementares”, explicou Alessandra, ao falar de como a empresa enxerga a mídia de legado e as novas redes sociais, como o TikTok. De acordo com ela, veículos impressos servem para temas mais profundos e analíticos, enquanto outros canais entregam informações mais rápidas. “Todo mundo é produtor de conteúdo”, completou Ber, enfatizando que a difusão da conectividade exige uma adaptação da comunicação empresarial.
“O conjunto de bases que nos norteia para produzir uma reportagem de relevância com credibilidade e qualidade não se alterou”, explicou Juliana Dalpiva, afirmando que a tecnologia transformou as ferramentas de produção, mas não mudou a essência do jornalismo. “Nem todo mundo que produz conteúdo na internet nas redes sociais faz jornalismo”, ressaltou Juliana. Ela sublinhou que o jornalismo pressupõe uma série de padrões de técnicas, checagem, verificação e que, ao atingir seu melhor, o jornalismo constrói uma coisa que “fica meio que quase que o primeiro rascunho da história”, permanecendo útil e relevante.
Apesar do avanço do digital, Alessandra Ber confirmou que “o cliente ainda quer aparecer no jornal impresso”. Ela explicou que a aparição em veículos como O Globo ou no Jornal Nacional ainda possui um valor diferenciado para temas como a reputação de CEOs, complementando outras ações de comunicação digital. André Miranda, por sua vez, mencionou que a relação entre o impresso e o digital nas redações mudou, com uma reeducação dos profissionais para acompanhar as transformações, o que permitiu ao Globo, em 2025, publicar a maior edição impressa de sua história, em comemoração aos 100 anos do jornal, com mais de 500 páginas – o que demonstra a capacidade de adaptação e reinvenção do meio.
IA, desinformação e credibilidade
Um dos grandes desafios atuais para a imprensa é a Inteligência Artificial (IA). “A tecnologia não é o problema. O problema é quem faz uso dela”, defendeu Juliana Dalpiva. De acordo com ela, o cenário atual carece de regulação para plataformas e IA. Ela compartilhou sua experiência pessoal, usando ferramentas de IA para otimizar o consumo de grandes volumes de informação em investigações, mas ressaltou que a IA não substitui o olhar humano para identificar omissões ou análises mais profundas.
Alessandra Ber revelou que a Tim treinou seus 10 mil funcionários recentemente para usar a IA, para que todos tenham uma base sobre o tema. Ela destacou a importância de saber fazer a pergunta certa para obter a resposta certa. Em relação ao combate às fake news e à desinformação, Alessandra descreveu como a Tim lida com notícias falsas que podem impactar a empresa, investindo em cibersegurança e campanhas para clientes, já que uma notícia falsa pode levar a golpes.
André Miranda adicionou que, embora a checagem sempre tenha sido essencial para o jornalismo, “hoje a gente gasta mais tempo checando”. Ele alertou para um problema ainda maior: a facilidade de espalhar mentiras e, paradoxalmente, a estratégia de políticos em classificar verdades como mentiras. Miranda também levantou a preocupação com o impacto da IA nos buscadores, que podem fornecer informações sem direcionar o usuário ao site de origem, prejudicando a receita dos veículos de imprensa e questionando quem alimentará essa IA com jornalismo de qualidade no futuro.
A credibilidade da imprensa foi um tema recorrente. André Miranda alertou para o risco de comprometer a credibilidade centenária d’O Globo em busca de audiência rápida e “caça-clique”. “É muito fácil perder a credibilidade, é muito fácil matar um jornal e é muito difícil construir essa credibilidade”, ponderou Miranda.
Juliana falou sobre como os jornalistas precisam se adaptar aos formatos para alcançar as novas gerações. Ela explicou que, hoje, uma investigação não se resume apenas ao texto; é preciso pensar em como apresentá-la desde as fases iniciais da apuração em múltiplos formatos, como podcasts, documentários, infográficos e redes sociais como TikTok. Essa adaptação visa alcançar a audiência jovem e tornar temas complexos, como política e judiciário, mais acessíveis, sem perder a seriedade ou a credibilidade.
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