Arreda! Amazônia, imprensa e a disputa por narrativas na COP30

ARREDA!! ARREDA!! ARREDA!! ARREDA!! ARREDA!!
Esse canto é um grito de torcidas por aqui. As vozes nos estádios pressionam e intimidam, afirmando a posse de um território ou a expansão dele em cima do adversário.
“Arreda!” canta uma conquista.
E é sobre isso que quero falar. Vai arredando que a COP30 vai ser aqui na Amazônia, sim! Apesar da mídia sudestina que insiste em reforçar aquele discurso neocolonizador de que estamos invadindo um espaço onde não devemos estar.
Nos últimos meses, a COP30, marcada para acontecer em 2025 em Belém do Pará, tem sido alvo de uma cobertura jornalística marcada por um tom recorrente: o da dúvida. A capital paraense é um vexame nacional: “Não tem hotel”, “não tem estrutura”, “não tem condições”. Mas quando a COP foi em Dubai (2023) e no Azerbaijão (2024) ninguém bateu tanto nessa tecla. E olha que os desafios lá também existiam, mas ficaram bem longe das manchetes. É pra comparar? No luxo de Dubai quase não teve espaço pra sociedade civil. Hospedagens caríssimas, repressão a manifestações e uma COP dominada por corporações. Já em Baku, capital do Azerbaijão, as limitações logísticas sérias e um histórico autoritarismo não incomodaram a ponto de se cogitar cancelar o evento. Onde ficou a lupa jornalística apontada com tanta ênfase para Belém?
Arreda! Aqui vai ser bem diferente!
Temos uma população engajada, movimentos indígenas, quilombolas, juventude periférica e pesquisadores dispostos a participar… e o discurso é que “não dá pra acontecer aqui”?
O que está acontecendo não é apenas uma cobertura jornalística mal conduzida. É a repetição de um padrão histórico: olhar para a Amazônia com desconfiança, como se ela não fosse capaz, como se a região dependesse eternamente do olhar, da validação e da autorização do centro do país para existir, decidir e realizar. E nós? Nós temos que nos conformar com nosso lugar na plateia, caladinhos.
O discurso da “falta de estrutura”, que nunca foi negada, não é neutro. Ele ecoa um preconceito antigo, revestido de modernidade: a ideia de que o Norte do Brasil não é lugar de protagonismo. É como se a Amazônia só servisse como cenário de fundo para os debates climáticos, mas nunca como território legítimo de decisão.
Arreda! Esse protagonismo está atrasado!
Por que a Amazônia é colocada em constante prova de merecimento? Por que se cobra tanto de uma região que nunca recebeu os investimentos estruturais que capitais do Sul e Sudeste tiveram por décadas? Quando dizem que “a Amazônia não está pronta”, seria mais honesto dizer: nunca quiseram que ela estivesse.
Claro que é legítimo noticiar gargalos logísticos e problemas de planejamento. O jornalismo precisa cumprir sua função crítica. Mas quando isso se torna o único ângulo, e quando essa crítica é desproporcional, ela deixa de ser jornalismo e passa a ser reforço de estigma. Falar da COP30 em Belém não pode se resumir a uma lista de problemas. Tem que falar da oportunidade histórica de colocar os povos amazônidas no centro do debate climático, valorizar o que o território tem a oferecer, apresentar como os saberes ancestrais vivem aqui, quais as soluções de base comunitária, como temos diversidade biológica e cultural, e sim, capacidade de organização.
“Vocês não estão prontos” é uma frase disfarçada de técnica. É a imprensa reportando a Amazônia sempre como se fosse uma emergência, um atraso, um problema a ser resolvido de fora pra dentro.
Arreda! Porque o problema não está aqui!
A imprensa tem um papel fundamental na construção da imagem pública da COP30. E precisa assumir esse papel com responsabilidade. É hora de sair do lugar comum, parar de comparar Belém com capitais do Sudeste e reconhecer o que está em jogo: não é sobre logística, é sobre justiça.
Mas não se trata de estar pronto. O que temos que discutir é quem foi impedido de se preparar. Quem negou por décadas os investimentos em saneamento, transporte, moradia, tecnologia e educação para a Amazônia? Quem manteve a região sob a égide do isolamento, do silenciamento, do apagamento, sem ouvir suas demandas reais, enquanto extraía riquezas e decidia à distância?
Arreda! A Amazônia é imprescindível como sujeito!
A injustiça climática começa aqui: no direito de participar presencialmente dos fóruns que decidem o próprio futuro. O resto do mundo reconhece a Amazônia como essencial no enfrentamento da crise ambiental. Mas dentro do Brasil, ainda somos um apêndice. Quando a gente entende o que a COP30 representa, entende também por que ela tem que ser aqui e não “apesar” da gente.
Belém não precisa de permissão. Não precisa provar que merece a COP30. A COP é que precisa provar que está à altura do momento histórico que representa.
Realizar esta COP na Amazônia é um ato político, pedagógico e simbólico. É reconhecer que o centro do mundo precisa mudar de lugar – e que isso incomoda muita gente.
Incomoda ver uma cidade nortista recebendo líderes globais. Incomoda ver o povo amazônida ocupando os palcos. Incomoda ver vozes indígenas e periféricas ganhando espaço.
Arreda porque é exatamente isso que tem que acontecer aqui e agora!
Arreda! Arreda! Porque agora esse espaço também é nosso.
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