Quem tem medo da Diversidade?
Poucos temas têm gerado tantas conversas e movimentações nos últimos tempos quanto diversidade.
Falando especificamente sobre o mundo do trabalho, temos visto empresas preocupadas e com pressa em levar o assunto à mesa. Em realizar algo que não as deixe para trás do ponto de vista da marca empregadora, inclusive.
Essa pressa traz em si algumas questões:
- O que tem movido (de fato) essas organizações?
- Por que elas não querem ser deixadas para trás?
- Elas estão tratando do tema pelas razões certas?
- E quais são as razões certas?
Ter um quadro de colaboradores diverso significa empregar pessoas que representem a sociedade em que a organização está inserida. Para citar um único dado e demonstrar o quanto estamos longe de ter essa representatividade, 55% da população brasileira é negra. A depender do estado e da cidade esse percentual muda. Você vê algo parecido com esse número ao seu redor? Pelo menos no eixo Rio-São Paulo, posso garantir que não.
Por que isso acontece?
Não seria possível explicar as razões da desigualdade nas organizações em um único artigo. A questão é bem mais complexa. No entanto, gostaria de propor um passo atrás, uma reflexão fundamental para humanizarmos a discussão e baixarmos o julgamento.
Todos nós, sem exceção, temos nossos pré-conceitos. Faz parte da natureza e da condição humana. Nossas convicções, conscientes e inconscientes, são fruto do microssistema em que nascemos e fomos criados. Crenças familiares, pessoas com quem convivemos, escolas e lugares que frequentamos etc. Nosso inconsciente está carregado das diferenças e semelhanças às quais fomos expostos. Por isso, não faz sentido julgar o outro. Ele é alguém tão carregado de preconceitos e verdades quanto eu e você.
A neurociência explica: nosso cérebro funciona baseado em dois sistemas – o sistema 1 e o sistema 2. O primeiro é responsável pela nossa sobrevivência. Pelas decisões rápidas, instintivas. É ele que nos protege e nos torna capaz de identificar uma situação de perigo. O problema é que para nos proteger, ele também registra estereótipos e referências com as quais interagimos desde a infância. Logo, nosso arcabouço de “certo” e “errado” fica no mínimo limitado. O segundo, o tal sistema 2, é consciente, racional e ponderado. Ele possui a complexidade de que também precisamos para viver em sociedade.
Portanto, a ciência já comprovou: todos nós temos nossos vieses inconscientes, nossas restrições e limitações. Por mais diverso que tenha sido nosso contexto social, dificilmente ele daria conta de abranger a diversidade humana.
O meu intuito com esse texto é justamente refletir sobre a necessidade de ampliarmos nossa visão se quisermos nossa sociedade mais bem representada nas organizações. Julgar e expor pessoas “preconceituosas”, além de não ajudar no dia a dia, prejudica o avanço do tema.
Em diferentes empresas, vemos líderes acuados, com receio de falar algo inadequado, de emitir uma opinião e ser julgado por isso. Precisamos colocar nossa empatia em exercício para nos ajudarmos a enxergar onde estamos errando. Julgar, expor e atirar pedra não nos faz refletir, muito menos mudar de opinião. Só nos faz regredir enquanto humanos que somos.
Não estou pedindo aqui para aplaudirmos falas ofensivas, atitudes desrespeitosas. Não é sobre isso. É sobre entendermos que o medo do julgamento está nos impedindo de avançar.
É hora de nos unirmos, assumirmos nossas vulnerabilidades, e avançarmos. Não há outro caminho para aumentar a diversidade nas organizações se não pelo entendimento. Não há outro caminho para aumentar nosso entendimento se não pela aceitação da nossa humanidade. O que nos torna humano é justamente nossa capacidade de aprender e tentar de novo. Sempre.
Se você gosta do tema, aqui tem duas dicas interessantes para se aprofundar:
- Sobre sistema 1 e sistema 2: Rápido e Devagar de Daniel Kahneman.
- Sobre o poder da vulnerabilidade: Brene Brown em https://www.ted.com/talks/brene_brown_on_vulnerability?language=pt-br
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