A reinvenção do agora.
A cada dia que passa vemos a ficção se tornar realidade. A imaginação tomou o poder e, com ele, as rédeas do futuro. Quem leu Jules Verne na juventude sabe do que estou falando. O célebre escritor francês cujos romances descreviam inovações e conquistas humanas aparentemente impossíveis para o século XIX, instigava a imaginação de seus leitores. Hoje, entretanto, obras como “Vinte Mil Léguas Submarinas” e “A Volta ao Mundo em 80 dias” parecem aventuras sem lógica, porque submarinos e balões deixaram de causar espanto e jatos podem cruzar o mundo em pouco mais de uma hora. Além disso, temos hoje uma geração inteira nascida e criada sob efeito da avassaladora sedução das mídias, da web, da tecnologia fácil, disponível para cada vez mais pessoas e capaz de reduzir distâncias e comprimir o tempo.
Em “A Ilha de Hélice”, Julio Verne criou uma cidade flutuante movida pela eletricidade e descreveu livros iconográficos, além de falar sobre transmissão de dados e informações, vozes e imagens. Visionário, ele imaginou, sem saber, a internet . Mesmo sendo genial para a sua época, atualmente, o escritor parece totalmente ultrapassado para os nascidos sob o signo da virtualidade e do digital.
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Vivemos numa aceleração permanente. O dia continua tendo 24 horas, mas parece cada vez mais curto. Alguns números nos facilitam a compreensão dessa revolução digital, que chamei de a reinvenção do “agora”, no título acima. Uma pesquisa feita pelo Facebook mostrou que 3,2 bilhões de pessoas no mundo estão conectadas à internet. O iPhone – que não existia em 2007 – já vendeu mais de 1 bilhão de aparelhos no mundo, assim como o WhatsApp que ultrapassou o primeiro bilhão de usuários em fevereiro de 2016. Mark Zuckerberg disse recentemente que sua empresa vai atingir 5 bilhões de pessoas até o ano de 2030. São 400 milhões de pessoas no Instagram e mais de 300 no Twitter.
Nosso entendimento do que é a realidade e a própria noção de tempo está sendo revista, ampliada, alterada a cada dia. “A velocidade ultrapassou o tempo da realidade, o nosso tempo vivido” (“Ctrl+Art+Del: Distúrbios em Arte e Tecnologia, 2010). Empresas e profissionais, estudantes e instituições, governos e mercados que não compreenderem o impacto dessa aceleração já estão perdendo espaço, oportunidades, influência e, até mesmo, sua reputação. O agora tornou-se uma espécie de ditadura; exige atenção, respostas, medidas rápidas, instantâneas. Interagir nessa rede impaciente demanda uma agilidade quase impossível para as relações humanas. Tudo leva a crer que o algoritmo vai substituir cada vez mais o diálogo por conversas robotizadas. Será?
O novo agora diluiu os limites do tempo e do espaço e antecipa o futuro a cada novo milésimo de segundo; a cada novo hashtag circulando o mundo. Ele já nos define o que está por vir, aponta para tendências e potencialidades, assim como para modelos de controle social, industrial e cultural que o próprio Jules Verne poderia sequer imaginar em seus devaneios literários.
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