13 de outubro de 2018

Cuidado para não causar

O marketing de causas chegou nas empresas. Contudo, defender bandeiras pode custar caro para empresas bem intencionadas mas incoerentes em seus discursos e suas práticas.

O marketing de causas parece ser a nova onda desses nossos tempos. Presidentes de empresas se tornam ativistas e defensores de bandeiras sociais e ambientais para ganhar mais notoriedade, construir um good will de imagem e reputação, bem como conquistar novos clientes. O ativismo dá sinais de que chegou para ficar pelo menos até a próxima tendência mercadológica ou até a próxima crise.

Crises acontecem por diversas razões, mas uma delas é a incoerência entre discurso e prática. Incoerência entre o DNA da marca, a alma da empresa e sua cultura e aquela nova capa de bom mocismo que alguém, muito bem intencionado, defendeu e emplacou na última reunião de diretoria. Qual a sua causa? Certamente um executivo precisa ter pronta a resposta diante de tal questionamento, seja ele da imprensa, de um cliente ou mesmo de um membro de comissão parlamentar ou técnico de agência governamental reguladora analisando novas regras para esta ou aquela atividade empresarial. Será mesmo?

O fato é que defender uma bandeira pode causar estranheza aos que defendem outras bandeiras. Funciona na mesma lógica de torcidas de futebol, cada uma lutando pelas suas cores, bandeiras e times. Por isso, cuidado. Seja estratégico! Saiba que ninguém consegue agradar a todos ao mesmo tempo. Antes de tudo, saiba o que você, sua empresa, sua marca não são nem nunca serão. Perceba que sua cultura organizacional, aquela dinâmica relacional feita por pessoas que trabalham na empresa, que entregam as promessas de sua marca e concretizam a sua missão, não dá conta, da noite para o dia, de mudar seu jeito  seu jeito de pensar, de ser e de agir.

Pense como um indivíduo para entender melhor a complexidade dessa questão. Você é um sujeito sustentável? Toma longos banhos no final do dia e depois do trabalho ainda separa seu lixo para a reciclagem? Faz trabalho voluntário aos sábados? Tem tempo para se dedicar aos filhos durante a semana e acompanhar de perto o que eles estão aprendendo na escola? Aliás, vai nas reuniões de pais e mestres? Você vai na reunião de condomínio do seu prédio? Então, agora imagine uma empresa que resolve “salvar o panda” ou outra nobre causa qualquer. Todo mundo que fazer o bem, não é?

O melhor a fazer é escutar sua organização, ouvir as pessoas para entender como começar a se envolver com uma causa que tenha alinhamento com seu negócio, seu mercado e o DNA da sua marca. Que tenha afinidade real com a cultura organizacional. Comece com o básico: você paga seus funcionários em dia? Você trata fornecedores pequenos da mesma forma como negocia com os grandes? Você conversa com sua equipe além dos feedbacks mandatórios de final de ano? Você sonega imposto? Seus vizinhos reclamam do barulho de suas máquinas funcionando no turno da madrugada? Sua fábrica tem vazamentos de resíduos que escorrem para dentro dos rios e redes de esgotos?  Seu sistema de combate a incêndios está funcionando? Pois é, que tal a gente começar a lutar pela causa mais difícil do ser humano? A coerência.

Um abraço e obrigado pela leitura desse texto.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Luiz Antônio Gaulia

Jornalista. Mestre em Comunicação Social pela PUC-Rio. Especialista em Comunicação Empresarial pela Syracuse University/Aberje. Pós-graduado em Marketing e em Comunicação Jornalística. Ex-Gerente de Comunicação da CSN - Cia. Siderúrgica Nacional e da Alunorte (PA). Atuou no O Boticário e no Grupo Votorantim. Realizou projetos de comunicação corporativa e sustentabilidade para a VALE, a Light, Petrobras, Ajinomoto e Norsul. Foi Gerente de Comunicação Corporativa e Sustentabilidade do Grupo Estácio. É Diretor da Race Comunicação e professor da FGV Rio e da ESPM SP.

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