Think Tank COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL · EDIÇÃO 111 · 2024

ESG, um desafio constante

Do greenwashing a questões geracionais, manter uma agenda sustentável fica cada dia mais complexo. Nesse cenário, a comunicação tem papel fundamental

Pedro Paciornik

Estamos avançando de forma persistente pela jornada de conceitos que tentam, de maneiras distintas, chamar a nossa atenção e os nossos esforços para a recuperação do meio ambiente e da sociedade em que vivemos. Nessa caminhada, algumas certezas já foram pacificadas, como a de que a sociedade civil, assim como o mundo empresarial, precisa mergulhar de cabeça nessa guinada de 180 graus que precisamos dar. Já está claro que ter uma agenda ESG robusta não só ilustrará as apresentações corporativas como poderá, em um futuro bem breve, facilitar nas contas das empresas. Financiamentos especiais, programas de incentivo, créditos de carbono, e por aí vai.

Porém, a mudança de patamar da discussão do tema apenas acelerou um sintoma decorrente do interesse por informação a seu respeito: o greenwashing. O excesso de informação, conceitos, termos e iniciativas acarreta, além de seu benefício imediato, uma crise de orientação. Como toda crise traz oportunidades, muitas empresas e pessoas têm surfado esse momento de forma bem desconstrutiva. O greenwashing, termo da língua inglesa que em sua tradução literal significaria algo como “lavagem (cerebral) verde” (brincando com o termo lavagem cerebral – brainwashing), endereça de fato o excesso de comunicação e alarde feito ao redor do ESG, sem ações concretas ou resultados visíveis para justificar sua publicidade.

Outro aspecto do contexto atual de grande relevância, para entendermos melhor o papel da comunicação na implementação de um programa de ESG robusto, é relativo à mudança vertiginosa do perfil da geração que começa a entrar no mercado de trabalho. No lugar da estabilidade e da carreira consolidada entram flexibilidade, modularidade de benefícios, rápidas mudanças de patamar e, acima de tudo, propósito. Esses jovens que tanto tentamos atrair e reter já nasceram entendendo como nosso planeta está saturado e como devemos todos participar de sua recuperação.

A consciência socioambiental da empresa, sua cultura e missão passam a fazer parte de um fator quase que higiênico de avaliação. E que pode ser até o fiel na balança entre vir ou não vir e depois ficar ou sair. O encontro dessa geração com a que aqui estava (me incluindo nessa) já geraria muitos “ruídos de comunicação” por si só. Mas a pandemia, e principalmente seu legado de transformação, não somente nos canais de comunicação e sua estrutura (muito mais colaborativa e assíncrona), como também nos modelos de trabalho e interação, forçou a geração que estava gradativamente se adaptando à digitalização e às transformações a mudar do dia para a noite. Ansiedade,
burnout, baixo engajamento, desalinhamento cultural: todos elementos novos impondo nova dinâmica da noite para o dia nas organizações.

A compreensão do como a empresa vê o momento do mundo e seu papel na transformação dele é o primeiro dever da comunicação

Aqui fica mais clara a amplitude do papel da comunicação em encarar e responder aos desafios de um programa ESG nessa fase da jornada. Confira a seguir alguns elementos que consigo apontar, com base no extenso programa e na agenda 360 graus que temos na Valmet.

1. Alinhamento da compreensão e do escopo do que seria o programa dentro da realidade da empresa e seu papel na sociedade.
A compreensão do como a empresa vê o momento do mundo e seu papel na transformação dele é o primeiro dever da comunicação, não só para seus colaboradores e parceiros, mas para seus clientes e para a sociedade em geral.

2. Rever e reforçar seus canais para poder ouvir e dialogar sobre riscos, oportunidades, dores…
Com todo esse dinamismo no que cerca a agenda ESG, o perfil dos diferentes públicos e suas demandas e até o conflito geracional, cabe aos comunicadores estar constantemente revendo a funcionalidade, a abrangência e a interdependência de seus canais. Testando novos caminhos, formatos e medindo seus resultados de forma incansável.

3. Coordenar e estruturar as informações assíncronas e os indicadores ESG.
Sem dono os programas de ESG não podem ficar. É muito frequente que a área de Comunicação seja o elo entre as iniciativas e as pessoas responsáveis por elas, não só conectando a história a ser contada, mas também na produção do material corporativo para reporte e gestão dos indicadores.

4. Manter a organização alinhada à pauta e aos objetivos do programa.
Para que o programa tenha sucesso é preciso que seu conteúdo seja estrategicamente trabalhado entre todos os assuntos possíveis. Não é só de pauta dedicada que o sucesso da implementação de programas complexos e multifuncionais consegue sobreviver. Além da visibilidade direta, o assunto deve adicionar valor qualitativo às suas diversas ramificações.

5. Propósito e senso de pertencimento claros e conectados.
Se hoje o senso de pertencimento e o propósito subiram muito na lista de fatores levados em consideração para escolher um empregador, é papel da comunicação fazer com que seus elementos sejam visíveis nos programas de recrutamento e seleção, além dos programas de boas-vindas de novos funcionários.

6. Celebrar.
Por último, mas não menos importante, estamos em uma guerra. Sim, fazer meia-volta no mundo e regenerar não está sendo nem promete ser tarefa fácil. Celebrar cada avanço, conquista ou marco é papel preponderante da comunicação. Além de valorizar e tornar tangível o propósito nobre da causa, ajuda a aliviar o estresse corporativo acumulado, levantar o clima e o engajamento interno, retendo os colaboradores e aumentando sua produtividade.

Agora convido você, colega comunicador, a fazer seu duplo papel como colega profissional da área e como vizinho – morador deste planeta carente e em plena jornada transformadora e regenerativa: vamos juntos à luta.

Pedro Paciornik

Pedro Paciornik é diretor de Estratégia, Qualidade e Marketing na Valmet

 
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