Think Tank COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL · EDIÇÃO 109 · 2022

O líder e o novo mundo do trabalho

O LÍDER E O NOVO MUNDO DO TRABALHO

A pandemia trouxe diversas mudanças para o modo de funcionamento das companhias. Renata Petrocelli Bezerra Paes, superintendente de Comunicação da Eletrobras, e Mariana Scalzo, diretora de Comunicação Corporativa e Reputação da Arcos Dorados, contam como elas se refletiram no mundo do trabalho e na atuação da liderança

 

Liderança no contexto atual

Renata Petrocelli Bezerra Paes

Durante a pandemia, as pessoas passaram a repensar suas prioridades e a buscar significados e propósito no dia a dia. Nesse contexto, ficou clara a necessidade de os líderes serem mais empáticos e tornou-se mais evidente a responsabilidade dos profissionais de comunicação. Eles sabem lidar com essa necessidade de engajamento, criar propósito, contribuir para o significado coletivo. Mesmo a distância, é necessário mergulhar no humano, encontrar outras formas de estar perto das pessoas. A crise foi um catalisador dessa tendência.

Mariana Scalzo

Hoje é importante para os líderes estabelecer relações de escuta e de confiança. Mesmo de posse das ferramentas, eles se deram conta de como é operar no vazio da distância, lidar com medos e inseguranças, com a sensação de finitude e de impotência. Além disso, as pessoas passaram a partilhar sua intimidade, seus momentos de fragilidade e angústia. As formas de lidar com os funcionários hoje devem ser mais solidárias, compreensivas e engajadas.

Importância da comunicação

Renata Petrocelli Bezerra Paes

Todo planejamento antigo foi descartado. As lideranças precisaram admitir que não sabiam e começar a construir do zero. Nesse contexto, a comunicação adquiriu um aspecto imenso. Não só pela necessidade de fazer a cultura organizacional funcionar a distância, mas porque liderança e comunicação se conectaram de maneira mais forte. As habilidades dos comunicadores os colocaram em posição favorável: agilidade, pensamento estratégico, gestão de riscos, visão holística e relacionamento com stakeholders foram fatores fundamentais no cenário da pandemia.

Mariana Scalzo

Durante a pandemia, o aprendizado foi intenso. A comunicação precisou fornecer ferramentas para que as lideranças, independentemente de nível, assumissem o papel de comunicadores. É fácil preparar o CEO para ser o grande comunicador, mas como ajudar os líderes de cada célula, especialmente em operações gigantes, a atuar mais próximos das equipes? Isso mostrou como a comunicação corporativa é uma área estratégica.

Novo mundo do trabalho

Renata Petrocelli Bezerra Paes

As mentalidades evoluem de forma mais lenta do que as transformações. Existe uma resistência nas empresas, as lideranças se apegam ao que já deu certo. Isso é complicado para os comunicadores em um mundo em mutação, porque eles têm a função de engajar, de levar todos para o mesmo propósito.

Mariana Scalzo

Hoje apostamos muito no modelo híbrido, mas a verdade é que não sabemos o que vai acontecer. Antes da pandemia, o modelo de trabalho antigo já estava datado. Houve uma mudança na forma de trabalhar, nas prioridades. Estamos aprendendo a nova gestão do trabalho. Para alguns é fascinante; para outros, desesperador.

Características dos bons líderes

Renata Petrocelli Bezerra Paes

O líder deve ter a coragem de dizer que não tem respostas. Quem quer buscar o desenvolvimento contínuo admite erros, compartilha dúvidas e se entrega a esse relacionamento coletivo necessário para que haja um ambiente de segurança psicológica. Os colaboradores precisam se sentir livres para errar, para sugerir, para saber que, em um processo de inovação e criatividade, o erro vai acontecer. O líder tem de saber as perguntas certas para motivar as pessoas. O foco não está na competição, mas na colaboração.

Mariana Scalzo

Vulnerabilidade é a palavra-chave para essa liderança admirável. O líder se cerca de boas pessoas e sabe ouvi-las. O colaborador precisa realmente colaborar. A liderança que conversa, questiona e escuta faz a real transformação. O líder também deve saber conviver, tolerar e abrir espaço para o erro. Esse líder desarmado que recebe o colaborador e o impulsiona faz diferença.

Relações presenciais x digitais

Renata Petrocelli Bezerra Paes

A questão é maior do que a presença física ou virtual. A comunicação tem que ser consciente. A qualidade das interações não depende da presença física, mas da disponibilidade de estar verdadeiramente presente.

Mariana Scalzo

É possível estabelecer laços pela presença virtual ou real. A presença física pode ser a cereja do bolo, construir a relação, a confiança. As pessoas dão importância ao horário de almoço, ao cafezinho. O segredo é conseguir conjugar as duas coisas.

Retenção de talentos

Renata Petrocelli Bezerra Paes

As relações que as empresas construírem e suas formas de trabalhar é que vão determinar que tipo de colaborador conseguirão atrair e reter. A companhia precisa saber que objetivos ele tem e como é a sua forma de pensar. Deve haver um match entre pessoas e empresas que tenham ideias semelhantes, que acreditem nas mesmas coisas.

Mariana Scalzo

Alguns talentos estratégicos, como executivos digitais, terão mais liberdade de escolha e pautarão para onde as relações vão caminhar. De qualquer maneira, a sociedade vem repensando sua relação com o trabalho, com horários, benefícios, prestação de contas. Novos horizontes vão se abrir.

 
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