16 de julho de 2020

Webinar do Pacto Global debate papel das empresas em prol dos ODS; Natura participa da ação

Pacto Global da ONU promove discussão sobre como avançar mais rápido rumo aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e reúne representantes de vários países em videoconferência

Por Aurora Ayres

Além de revelar fraquezas de diversos setores da sociedade e trazer desafios socioeconômicos para o mundo todo, a pandemia da Covid-19 tem atrapalhado o desenvolvimento de metas voltadas à sustentabilidade. Por outro lado, oferece a oportunidade de reconstruir melhor alguns ecossistemas com foco em causas sustentáveis. O Pacto Global da ONU lança uma iniciativa de impacto global que desafia e apoia as empresas a cumprirem a Agenda 2030 a partir de metas mais ousadas, alinhadas com seus objetivos, governança e estratégia. 

Com o tema Ampliando o impacto das empresas para a década da ação foi realizado, no dia 14 de julho, o primeiro evento oficial do Fórum Político de Alto Nível sobre Desenvolvimento Sustentável. A videoconferência contou com a participação de representantes de vários países e focou nas oportunidades apresentadas pela iniciativa SDG Ambition Program – lançado em janeiro deste ano no Fórum Econômico de Davos, na Suíça. Os profissionais brasileiros presentes no evento foram Marcelo Behar, vice-presidente de Assuntos Corporativos da Natura & Co, associada à Aberje, e Carlo Pereira, secretário-executivo da Rede Brasil do Pacto Global.

O programa objetiva potencializar o desenvolvimento dos SDG (Sustainable Development Goals – ODS em português) e formar parcerias entre empresas, entidades públicas e as Nações Unidas, visando popularizar as metas sustentáveis: garantir a redução da emissão de gases poluentes; promover a igualdade de gênero em cargos de liderança; promover o uso sustentável de água e reduzir o desmatamento.

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são a chave para um futuro melhor

Ao abrir o debate, a nova CEO e diretora executiva do Pacto Global da ONU, Sanda Ojiambo, enfatizou que as decisões devem ser pautadas com base nos temas contemplados pelo Pacto Global, que incluem os direitos humanos, direitos trabalhistas, o meio ambiente e o combate à corrupção. “Enquanto planejamos nosso plano de recuperação pós-pandemia, precisamos manter em mente que parte da recuperação deve focar em causas sustentáveis. Também vejo oportunidades para reforçar a importância do uso de energias renováveis, a adoção de processos sustentáveis e o incentivo de ambientes de trabalho mais diversos e inclusivos”, acentuou.

Marcelo Behar, vice-presidente de Assuntos Corporativos da Natura & Co – empresa que estabelece objetivos corporativos alinhados aos ODS – explicou como isso pode impulsionar o comprometimento com a sustentabilidade. “A Natura considera crucial que suas estratégias estejam alinhadas aos ODS e nos dedicamos para garantir que todas as empresas do grupo possam alcançar essas metas no prazo estipulado. Para concretizarmos esses objetivos, lançamos o ‘Commitment to Life’ em junho deste ano para o cumprimento das metas previstas na Agenda 2030 da ONU”, contou.

Essa visão da companhia, prossegue Behar, é baseada em três pilares e estes são baseados nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Estes pilares são: comprometimento no combate à crise climática e ajuda à Amazônia; na defesa e proteção dos direitos humanos e na garantia da reciclagem e reutilização total de embalagens, além da criação de fórmulas que utilizam recursos renováveis e biodegradáveis.

Carlo Pereira, secretário-executivo da Rede Brasil do Pacto Global, que possui experiência na implementação de programas de sustentabilidade e já atuou em empresas dos setores de construção, energia e serviços consultivos, comentou sobre a relevância da iniciativa no Brasil. “A crise que se instalou com a pandemia está acelerando o processo de transição de uma economia de ‘shareholders’ para uma de ‘stakeholders’. Dados apontam que boa parte dos fundos de recuperação das empresas serão dedicados a causas sustentáveis. Na semana passada, o Banco Central Europeu anunciou que possui a intenção de disponibilizar cerca de 3 trilhões de euros. As empresas sabem que fazem parte do problema, porém também sabem que fazem parte da solução e que precisam alinhar seus objetivos comerciais com as necessidades da sociedade e do meio ambiente”, disse. 

De acordo com o executivo, recente pesquisa aponta que 78% dos entrevistados esperam que o CEO de uma empresa conduza ações para abordar os problemas que a sociedade enfrenta. “No Brasil, o impacto da pandemia foi grande, principalmente quando pensamos na desigualdade social e no desemprego que o país enfrenta. É por isso que a contribuição do setor privado é tão relevante. Só conseguimos fazer a diferença se nos aproximarmos dos locais que lidam com problemas ambientais em primeira mão. Temos que levar as questões globais aos comércios locais”, explicou Pereira. 

Para garantir isso, foram desenvolvidas sete plataformas multifuncionais com 60 a 150 organizações atuando em cada uma – isso gerou mais de 30 projetos bem sucedidos que foram guiados pelos princípios dos ODS. “Somos referência no Brasil nas discussões sobre direitos humanos, combate à corrupção, crise climática e o tratamento de água. É com base nessa credibilidade que nos comprometemos a ajudar empresas a contribuir para metas globais de sustentabilidade”, completou.

Em seguida, a coordenadora residente da ONU para os Emirados Árabes, Dena Assaf, afirmou que o governo do país apoia a iniciativa e está comprometido a contribuir para que o país alcance as metas com agilidade. “O setor privado ainda não compreende seu papel em ações de sustentabilidade e muitas empresas acreditam que essas iniciativas são responsabilidades do governo. O SDG Ambition nos permite mostrar que sem a ajuda do setor privado, não conseguiremos atingir as metas. Vamos atuar em todos os níveis do setor privado. Com empresas de pequeno porte uma das principais ferramentas que iremos utilizar é a mentoria. Gostaríamos de incentivar os comércios locais a adotarem os princípios que norteiam o SDG Ambition”.

Alcance global do SDG Ambition

Sustentabilidade é um tema que tem ganhado popularidade. Para aumentar o alcance global do SDG Ambition há que se promover alguns movimentos nacionais que focam em desenvolvimento sustentável. Carlo Pereira, da Rede Brasil do Pacto Global, acredita que a sustentabilidade é algo acessível a todos. “Todos os setores estão colocando pressão em cima deste assunto. Podemos contar que todas as grandes empresas brasileiras apresentarão estratégias claras para contribuir com o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, ressaltou.

Na visão de Marcelo Behar, da Natura, é preciso focar em alguns aspectos. O primeiro é o comportamento corporativo apresentado por empresas multinacionais, como a Natura, presente em mais de 100 países. “O que a Natura presencia é um crescente interesse nas causas sustentáveis por parte de diversos stakeholders do setor – mais de 8.000 empresas. Outro aspecto relevante para esta discussão é a perspectiva dos investidores sobre o tema: os ODS são excelentes ferramentas para a mensuração de consumo e emissões de uma empresa e quando os investidores veem esses dados com clareza, eles conseguem distinguir o nível de comprometimento de uma empresa com o meio ambiente e com a sociedade”, argumentou.

A pandemia também modificou todos os planos dos Emirados Árabes em relação às metas da SDG Ambition. ‘Os jovens estão começando a filtrar as empresas em que confiam de acordo com o nível de comprometimento que elas têm com causas sustentáveis. Se tivéssemos atingido as metas com antecedência, o impacto da pandemia teria sido consideravelmente menor”, reconheceu Dena.

A Costa Rica também vive uma crise. De acordo com a vice-ministra do Meio Ambiente Pamela Castillo, o governo do país está procurando maneiras de incentivar a utilização de práticas sustentáveis entre empresas. “Precisamos colocar o meio ambiente e a biodiversidade no centro de tudo que fazemos e garantir que os direitos humanos estejam no coração deste processo de recuperação da economia. Quando pensamos em iniciativas colaborativas, temos que levar em conta o potencial que o setor privado tem de auxiliar as causas pautadas”, argumentou.

Behar disse que a pandemia também trouxe mudanças em relação à sustentabilidade. “Pensamos em como incluir representantes de todos os setores na discussão – empresas, cientistas, governo e ONGs. Tentamos potencializar a conscientização através da criação de ‘Society Calls’ e apresentamos os objetivos aos nossos stakeholders e tomamos nota de todas as observações feitas. Foi um sucesso. É um trabalho em conjunto. Temos que ser abertos, colaborativos e transparentes. Ainda há muitas barreiras pela frente”.

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