17 de junho de 2021

O futuro da mobilidade urbana é multimodal

Lab de Comunicação da Mobilidade reúne especialistas para repensar a distribuição do espaço viário e o impacto da mobilidade na desigualdade social do Brasil

Lab de Comunicação da Mobilidade reúne especialistas para repensar a distribuição do espaço viário e o impacto da mobilidade na desigualdade social do Brasil

A fim de fomentar a discussão sobre a questão da mobilidade urbana atual e o que o futuro vislumbra, a Aberje promoveu mais um Lab de Comunicação da Mobilidade no dia 16 de junho. Participaram do evento online o diretor de Comunicação Corporativa da GM, Nelson Silveira; a diretora executiva do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento no Brasil (ITDP), Clarisse Linke; e o professor Dr. Nivalde Castro do Instituto de Economia da UFMG e coordenador do grupo de estudos do setor elétrico. Como mediador, Fábio Trindade, responsável pela operação do Motor 1 no Brasil e da insideEVs Brasil, o site dedicado à mobilidade eletrificada irmão do Motor1.com.

A visão de futuro da GM

Ao compartilhar a visão de futuro da GM – zero acidente, zero emissão e zero congestionamento – Nelson Silveira focou na questão das políticas públicas para fomentar a mobilidade elétrica. Para isso, o comunicador faz um paralelo entre a indústria automotiva e o automóvel, que hoje passam pela maior transformação dos últimos 100 anos. “Estamos migrando da era dos motores à combustão para a era dos carros elétricos a partir da adoção de uma série de novas tecnologias que vão revolucionar a mobilidade. Essa transformação envolve uma mudança de modelo de negócios, ou seja, de uma companhia que produz veículos para uma uma indústria que oferece serviços de mobilidade pessoal”, inicia.

Nelson Silveira

Dentro dessa narrativa que vem mudando a percepção da GM no mercado, segundo Silveira, de ser uma das mais promissoras tech companies do mundo. “A indústria está se transformando porque o consumidor está mudando radicalmente. Em relação ao automóvel, antes o maior atributo mecânico era a potência; hoje é a sustentabilidade; antes os fabricantes eram valorizados pela tradição, hoje é a capacidade de inovar”, comenta Silveira, ressaltando que a GM vem investindo no futuro 100% elétrico. “Neste momento, em Detroit, estamos anunciando o aumento do volume de investimentos que antes da pandemia era de US$ 20 bilhões até 2025 para US$ 35 bilhões em novas tecnologias de veículos autônomos e elétricos, completamente conectados”, revela.

Enquanto esse tipo de veículo não chega ao alcance do bolso do consumidor, Silveira relaciona um ponto fundamental para adoção em massa desse tipo de veículo, que são as políticas públicas. “Vários países já estipularam metas para adoção em massa dos veículos elétricos com zero emissão, seja por meio de incentivos fiscais, de novas legislações ambientais ou mesmo de restrição à circulação de carros à combustão, como a China, por exemplo, que tem a intenção de liderar o processo de eletrificação e vem investindo muito em fomento à pesquisa e desenvolvimento e os Estados Unidos que tem forte programa de estímulo aos elétricos, políticas locais e iniciativas de aceleração da eletrificação e em vários países da Europa, que já estabeleceram legislações específicas para proibir a venda de veículos à combustão nas próximas décadas”, exemplifica. 

E no Brasil? De acordo com o executivo, já existem algumas iniciativas nesse sentido, como a redução da taxa de importação de 35% para 0%, o IPVA de carros elétricos que era de 50% será zerado. “Mas a pergunta que fica é: isso é suficiente?”, indaga Silveira.

O futuro do passado

A especialista em mobilidade Clarisse Linke entende que a questão vai além e faz um contraponto com a ênfase no automóvel como uma solução de mobilidade. “Na verdade, acredito que existem alguns cenários diferentes para uma visão de futuro. Temos o comprometimento, na agenda climática, de reduzir os efeitos das emissões de gases, temos  a agenda dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), em que a mobilidade está bastante visível em ao menos sete dos 17 objetivos, como uma condição para promover saúde, bem-estar, cidades justas, etc e temos a nova agenda urbana que enfatiza a mobilidade a pé, por bicicleta e por transporte público”, afirma.

Clarisse Linke

“Estamos falando de um outro paradigma de mobilidade, o automóvel continua existindo, mas com muito mesmo espaço e prioridade, tanto na circulação quanto nos estacionamentos. Esse entendimento de carros e máquinas fluidas e velozes no futuro, penso que seja o futuro do passado, era como a gente imaginava o futuro no passado. Hoje existem vários outros movimentos que buscam um outro modelo de mobilidade, focados no coletivo e não no indivíduo. O problema de mobilidade nas cidades é mais amplo. O que temos hoje são cidades que privilegiam o carro em detrimento de todos os outros móveis e que criam sistemas de mobilidade que são absolutamente excludentes, injustos e que resultam em espaços inóspitos da cidade”, completa Clarisse.

‘Plano Marshall da Energia’

Dentro dessa discussão, há que se incluir a eletrificação. O professor Nivalde Castro comentou como enxerga o papel da eletrificação nesse complexo sistema da mobilidade no futuro, principalmente aqui no Brasil.

Nivalde Castro

Em sua análise, a transição energética mundial, que começa com a primeira crise do petróleo, quando os países se depararam com as necessidades de garantir a segurança energética, foi complementada com a questão da sustentabilidade, do meio ambiente e do aquecimento global. “Os países mais ricos e, consequentemente, os que vão iniciar um novo ciclo de desenvolvimento econômico com o objetivo de alterar radicalmente a plataforma de geração e de consumo de energia para uma nova plataforma direcionada para a eletrificação e com fontes renováveis. Esse é o ‘Plano Marshall’ do século 21, como foi o Plano Marshall ao final da segunda guerra mundial, que reconstruiu os países. Nós agora entramos num processo de reconstrução da base produtiva mundial de sair de energia não renovável para energia renovável. É algo inusitado na história econômica mundial”.

“O Brasil tem uma desvantagem competitiva nesse processo de eletrificação e a criação dessa nova base produtiva e de novos serviços por sermos uma economia pobre com incapacidade de formular políticas públicas como na Europa, mas é possível dar alguns incentivos pontuais para o desenvolvimento dessa indústria nascente. Temos condições de avançar por meio de programas como o Programa P&D da Aneel, em que todas as empresas do setor elétrico que emitem faturas, cobra 1% para projetos de pesquisa e desenvolvimento”, exemplifica o professor.

 

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