30 de setembro de 2019

Lab de Comunicação para Mobilidade da Aberje discute o Parque Minhocão

Leão Serva faz a abertura do Lab

O futuro exige cidades inteligentes, que pensem no melhor uso do espaço urbano, na otimização dos deslocamentos e nas necessidades dos cidadãos. Nesse cenário, o debate sobre a mobilidade urbana é imprescindível. Foi pensando nisso que a Aberje criou, em 2016, o Lab de Comunicação para Mobilidade, apresentado pela General Motors e com apoio da CCR.

Na quarta-feira, dia 25 de setembro, o Lab chegou à sua 3ª temporada, sediando um encontro para discutir o futuro do Minhocão (Elevado Presidente João Goulart) na cidade de São Paulo, as propostas de seu fechamento para o trânsito de veículos e a implementação de um parque. Como a comunicação influencia a política pública proposta?

O evento foi realizado no terraço do Edifício Martinelli e contou com a presença do atual Secretário Municipal de Desenvolvimento Urbano, Fernando Chucre, e o presidente da SP-Urbanismo, José Armênio, mediados pelo jornalista Leão Serva, curador do Lab. Entidades de diversos segmentos participaram do bate-papo.

Nelson Silveira, diretor de Comunicação da GM Mercosul, fez a abertura do evento, apresentando os esforços da montadora em um futuro com “zero acidente, zero emissão, zero congestionamento”. Para isso, a GM aposta em carros elétricos, autônomos e conectados.

Futuro do Minhocão

Chucre abordou a questão do Minhocão – sua desativação completa como via de tráfego e posterior demolição ou transformação em um parque – como sendo um dos projetos estratégicos que buscam requalificar os espaços voltados aos pedestres na região central, em linha com o Plano Diretor Estratégico de 2014 e o Projeto de Intervenção Urbana (PIU) do Setor Central. Entre os projetos, estão também reformas de calçadas e calçadões, revitalização do Vale do Anhangabaú, concessão da cobertura do Martinelli à iniciativa privada, requalificação de edifícios e terrenos abandonados ou subutilizados, implementação de VLT, entre outros. “Neste século XXI é necessário pensar a cidade para as pessoas, criando espaços integrados onde elas possam interagir com cultura, lazer e esportes”, afirmou Chucre.

Nessa perspectiva, a manutenção do Minhocão como via de tráfego nunca foi uma opção entre urbanistas e especialistas na área, de modo que o debate passou a ser entre a readequação para o parque ou o desmonte total da estrutura. Entretanto, do ponto de vista da comunicação, os principais meios de comunicação que abraçaram a discussão foram as rádios, que são consumidas majoritariamente por usuários de automóvel. Assim, a maioria das manifestações era contrária a qualquer alteração do funcionamento do Minhocão. Esse foi um dos problemas estratégicos de comunicação, segundo o secretário. Porém, os primeiros estudos que foram feitos analisaram justamente o impacto no tráfego e as medidas de mitigação. A conclusão é que o impacto é pouco significativo, como pode ser conferido no site: https://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/

“Para resumir a tese que nós defendemos: temos três grupos discutindo o futuro do Minhocão. O primeiro grupo defende uma proposta do século XIX, que acredita que, ao remover o Minhocão, teremos um boulevard maravilhoso embaixo. Porém, a desativação do Minhocão significa perder um conceito de solo criado, ou seja, um território criado na cidade que poderia ser aproveitado de diversas formas. E você não ganha nada embaixo, pois uma coisa é fechar só o elevado em cima, outra coisa é fechar o viário em cima e embaixo, que é inviável. O segundo grupo é do automóvel, do século XX, que defende manter a cidade privilegiando o automóvel, em detrimento da micromobilidade e da mobilidade ativa. E, por fim, uma visão do século XXI, que vê uma oportunidade de criar uma área interessante no centro que integre vários equipamentos do entorno”, afirma Chucre.

Propostas e referências

O presidente da SP-Urbanismo, José Armênio, mostrou alguns exemplos ao redor do mundo, como em Seul, Toronto e Nova York, de projetos semelhantes de requalificação. Ele destacou a importância do diálogo para construção de qualquer projeto na cidade e, especificamente sobre a proposta do Município, comentou se tratar de uma “oportunidade para discutir um projeto que valorize o pedestre e consolide uma nova área de lazer para a cidade”.

Entre os desafios que o projeto do Minhocão terá que enfrentar estão o desconforto ambiental da parte de baixo do elevado, em razão da poluição, ruído e iluminação; a proximidade do elevado com o alinhamento predial; o efeito de barreira, caso se coloque um muro de segurança; entre outros aspectos. “O Minhocão é um lugar com estrutura única na cidade, que permite uma experiência diferente para o cidadão. Agora é a oportunidade de a cidade discutir um projeto sob um novo paradigma, que valorize o pedestre”, conclui Armênio.

A Comunicação

Em relação à comunicação, o atual secretário reconhece um erro de decisão no passado, após a opção da Prefeitura em seguir a tese da construção do parque. Ao invés de já tornar pública a decisão, preferiu-se primeiro aprofundar os estudos que a embasavam. “Foi um erro fatal. Quando saiu a capa da Vejinha com o projeto do Jaime Lerner, era apenas uma ilustração de como poderia ser o parque, mas nunca houve um projeto fechado, apenas estudos e dezenas de propostas. Foi um massacre de todos os lados: arquitetos questionando por que este projeto e não outro, usuários de automóvel, pessoal do desmonte Minhocão. Demos um passo errado na comunicação que nos custou meses para corrigir”, diz Chucre.

Agora o secretário afirma que estão no momento de aprofundar as discussões, conversar mais com a sociedade civil, inclusive com pessoas contrárias à tese defendida pela Prefeitura, abrir os dados dos estudos para que, num segundo momento, sejam feitos testes no Minhocão, com a implementação de estruturas temporárias. “Não existe projeto. Existe um conjunto de propostas, baseada nos estudos que foram e estão sendo feitos, e o projeto deve sair a partir da discussão com a sociedade civil”, conclui Chucre.

José Armênio, Fernando Chucre e Leão Serva

O próximo encontro do Lab de Comunicação para Mobilidade já tem data marcada. Acontecerá no dia 09 de outubro, na sede da Aberje em São Paulo. As inscrições estão abertas e são limitadas à capacidade do auditório. Veja mais no link: https://www.aberje.com.br/calendario/2o-encontro-lab-de-comunicacao-para-a-mobilidade/

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