08 de abril de 2022

Desafios e oportunidades do compliance em ano eleitoral é debatido em evento

Especialistas refletem sobre a necessidade de ampliar a representatividade dos poderes públicos e privados, maior transparência e menos informalidade

Especialistas refletem sobre a necessidade de ampliar a representatividade dos poderes públicos e privados, maior transparência e menos informalidade

A disciplina Compliance e seus desafios de conceito, disseminação e prática, passam a ser um imperativo para os profissionais que atuam em Corporate Affairs. Para uma avaliação assertiva e para a tomada de decisões no dia a dia dos negócios e das operações, é preciso além de uma estratégia de advocacy bem elaborada, a aplicação de boas práticas de Compliance no dia a dia. Essas e outras reflexões foram abordadas no debate online promovido pela Aberje no dia 6 de abril.

Participaram do evento a especialista em Governança, Risco, Compliance e Auditoria, Olga Pontes; o diretor-presidente da Aberje e professor titular da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), Paulo Nassar e o presidente CEO da Arko Advice e professor-adjunto da Columbia University (New York), Murillo de Aragão. Para mediar o encontro, o diretor da Midfield Consulting, Carlos Parente.

Desafios e oportunidades num ano eleitoral

Muitos são os avanços na busca de uma sociedade mais justa e mais igualitária. Mas não se pode deixar de reconhecer que os últimos anos também foram marcados por aprendizados, acontecimentos políticos ou escândalos – que geraram a crise de confiança sem precedentes e que colocou o Brasil em evidência no cenário econômico mundial, chamando a atenção para diversos pontos de melhorias da nossa nação. Esse é o pensamento de Olga Pontes

“Entre os diversos pontos de melhorias estão: a importância das decisões e das omissões empresariais, a importância do setor privado num processo de transformação, na relação público-privada e também, com o é o tema do debate de hoje, da necessidade do amadurecimento, valorização dos profissionais de compliance, comunicação, RI e sustentabilidade para ultrapassar cenários de crise”, salienta ela.

Olga Pontes

“A gente olha hoje a guerra da Ucrânia, onde a reação do mundo privado ao próprio conflito revela a imposição de valores de governança, de compliance, de sustentabilidade…Isso mostra como esses valores estão arraigados na sociedade empresarial e obviamente elas têm uma significância grande em relação ao nosso processo no Brasil”, coloca Murillo de Aragão. 

O executivo concorda com Olga quanto aos avanços nos últimos dez anos. “Eu diria que a cultura do compliance começou nos últimos quinze anos no Brasil, crescente; a operação Lava Jato aumentou essa tensão à questão do compliance, mas existem alguns desafios pela frente e um deles é estrutural: o fato de que no Brasil a sociedade é menor do que o governo, então toda essa relação termina sendo uma relação de desiguais, onde o compliance acaba impondo mais restrições ainda ao setor privado na sua relação com o setor público. O compliance deveria também existir como comportamento do setor público em relação ao privado, com menos opacidade, mais transparência e abertura para as sugestões que o setor privado deve trazer no seu dia a dia de relacionamento com o governo”, analisa Aragão.

Murillo de Aragão

Na visão do professor Paulo Nassar, a narrativa organiza a experiência de uma organização, de uma pessoa no tempo e no espaço. “Mais do que isso, ela humaniza a organização e seus integrantes no espaço da sociedade. Dentro dessa visão que vem do campo comunicacional, fazendo convergência com as especializações – uma delas o compliance – eu entendo que o grande desafio hoje das organizações é o desafio da representação, mas uma representação que tem uma abrangência maior que passa por todas as pessoas de uma empresa, inclusive as instituições, de P a P (Porteiro ao Presidente) que passa por um aspecto importante que é desenvolver uma cultura de conformidade de todas essas pessoas. É um desafio muito grande”. 

“Deve haver uma convergência entre os especialistas, principalmente em relações governamentais e as áreas comunicacionais. Há necessidade de repensarmos e trabalharmos por essa representação em campo expandido”, complementa Nassar.

Informação com credibilidade

Num cenário de polarização do debate público, fake news e desinformação, o que se pode fazer para obter informação com mais credibilidade e segurança?

Para Aragão a melhor forma de se manter informado é ler muito, é ter o máximo de informações possível, é ouvir mais. “Muitas vezes você ouve coisas que não concorda, mas é importante saber como as pessoas estão pensando a respeito dos acontecimentos e isso vem acontecendo com a imprensa. No Brasil não chegamos a ter uma imprensa madura pela própria pobreza do hábito de leitura, pulamos do analfabetismo para a mídia eletrônica e  essa mídia eletrônica quando se estabelece dá de cara com  a internet, com a abundância de oferta de informação de graça, além das redes sociais…E o que falta nessa inundação de informação é informação de qualidade. O preconceito e a reação apriorística diante dos acontecimentos é o caminho para uma interpretação errada”, salienta.

“O mundo foi engolido por essas mudanças disruptivas que ganharam velocidade com os avanços digitais e tecnológicos e que acabaram impulsionando, de forma positiva, conectividade de sociedades ao redor do mundo, de empresas, de pessoas, popularizando o acesso à informação”, complementa Olga. “As redes e as mídias sociais passaram a ser um palco para expressar não só opiniões individuais, mas também opiniões empresariais, onde todos são permitidos estão muito preocupados em falar, falar, falar…e poucos são os que se preocupam em ouvir”, conclui.

 

“Eu vejo que existe hoje uma indústria das relações não-públicas, que é uma indústria global hoje, que têm agências com milhares de profissionais capacitados que trabalham na produção da desinformação, desmantelando negócios e etc. Por outro lado, temos que trabalhar essa questão; não tem como a gente eliminar essa preocupação da informação com qualidade”, acentua Paulo Nassar. “Vejo que é muito importante a gente pensar que apesar de termos um processo de desvalorização das instituições – e isso é amplo – elas são reconhecidas amplamente pela sua história e seus valores, elas têm um processo milenar que liga o campo do sagrado e do profano, que é um ritual, um tempo e um espaço singular que tira a gente muitas vezes do frenesi do cotidiano. Temos rituais de obtenção da informação, de produção de informação e rituais de circulação de informações. Eu acredito na valorização dos rituais e do que a gente entende por instituição”, completa o professor.

Assista ao vídeo na íntegra:

https://www.youtube.com/watch?v=DUkxutLn2ls

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