03 de março de 2020

Como o “lobby” deixou a clandestinidade para formar profissionais capacitados

Ministério do Trabalho reconhece e identifica as ocupações do profissional de relações institucionais e governamentais no mercado nacional

Embora existem algumas versões sobre a origem da palavra “lobby”, a que chama mais atenção é que no século XIX, quando o então presidente dos Estados Unidos, Ulysses S. Grant, costumava se dirigir ao lobby do Hotel Willard para fumar seus charutos e simplesmente relaxar, grupos de empresários e associações aproveitavam esse momento para manifestar suas reivindicações direto ao presidente, sendo chamados de lobistas por o importunarem naquele momento tão reservado.  Com o tempo, a o termo ganhou o mundo, associando diretamente à defesa oral de interesse e grupo de pessoas. Aqui no Brasil, sempre esteve associado ao lado negativo. 

Atualmente, a palavra está caindo em desuso no mundo e acompanhando esta tendência, no Brasil já tem sido substituída pela atividade de Relações Institucionais Governamentais (RIG).  Como forma de amadurecimento da democracia e do desenvolvimento econômico e social, a regulamentação da atividade de RIG – recomendação expressa da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) – resulta considerando-se o contexto político-institucional de um determinado país.

Apesar do reconhecimento recente pelo Ministério do Trabalho, a regulamentação da atividade ligada RIG ainda tramita no Congresso Nacional, com o Projeto de Lei (PL1202/2007).

Conjunturas econômicas provocam constantes alterações em diversos setores, gerando volatilidade, ambiguidade e incerteza aos empresários, que precisam atuar de forma estável. As crises políticas de uma nação, por exemplo, interferemdiretamente nas relações institucionais e governamentais, pois tornam o ambiente de negócios mais complexo e difícil.

Recentemente, a Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais (Abrig) cadastrou a atividade de RIG na CBO – Classificação Brasileira de Ocupações, com 91 competências para o seu exercício. O especialista em RIG, Eduardo Fayet, professor na Escola Aberje de Comunicação, ressalta ser esta a atividade mais complexa registrada na CBO até o momento, dentre mais de 2.500 ocupações. “Esta informação demonstra a importância e a complexidade que a capacitação em RIG deve suportar”, comenta.

Capacitação em RIG

A interferência externa requer das empresas atenção permanente, estratégias adequadas e técnicas para a abordagem e monitoramento das ações de RIG. Segundo Fayet, a capacitação em RIG deve contemplar um conjunto de áreas e temas como legislação e normas, negócios, economia, comunicação, contabilidade, psicologia, engenharia, entre outros, que sejam necessários para a defesa de interesses no setor que representa. “De forma geral, o profissional de RIG deve possuir habilidades de coleta e análise de informações, estratégias de abordagem e articulação, resolução de problemas complexos e comunicação para dentro e fora da empresa”, ressalta.

Os setores com maior regulação são os que mais necessitam de profissionais de relações institucionais e governamentais. Na visão de Fayet, esse entendimento deve mudar. “Setores que atualmente não possuem uma regulação complexa precisam se preparar e atuar de forma proativa para que possam construir a regulação, a autorregulação e um conjunto de boas práticas para que tenham um desenvolvimento positivo no mercado”.

O executivo lembra o fato de que as atividades das empresas estão em permanente monitoramento pelo mercado, em especial, pelos clientes e consumidores. “Além disso, a tecnologia está modificando a forma de relacionamento na sociedade e isso é muito importante para as organizações no sentido de poder atuar preventivamente”, analisa. “A complexidade dos temas e interesses que estão envolvidos na solução de problemas é o maior desafio que o profissional de relações governamentais pode enfrentar”, finaliza Fayet.

Eduardo Fayet
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