21 de janeiro de 2020

Como as organizações podem colaborar para um 2020 menos hostil

Dois mil e vinte mal despontou no horizonte e já dá para avistar o exército da intolerância e da comunicação violenta se aproximando, armado de tweets afiados e textos-granada fraudulentos em telas de smartphones.

É um ano eleitoral. E as previsões apontam a cultura tóxica da internet fazendo conjunção com o fenômeno global de rachadura entre pólos, em quadratura ao movimento retrógrado de um certo planetinha chamado Terra.

Vai ser inevitável: os discursos raivosos e as fake news (refiro-me ao conteúdo anônimo mentiroso criado para ludibriar os eleitores e não às notícias da imprensa que, por desagradarem grupos políticos, são assim tachadas) vão estar no mapa astral de pelo menos 79% dos brasileiros que usam o WhatsApp como principal fonte de informação no dia a dia.

E elas certamente vão vir acompanhadas de rompimentos entre tios e sobrinhos, rusgas entre colegas de trabalho e muito conflito entre gente que se gosta, mas que é capaz de implodir amizades só porque não suporta ler comentários diferentes do que julga ser o correto.

Mas, mesmo nesse mundo com visões tão assimétricas, uma questão é consenso: esse cenário não faz bem para ninguém. O que será então que as organizações públicas e privadas podem fazer para colaborar para um 2020 um pouco menos colérico?

Eleita como tema do ano pela Aberje – Associação Brasileira de Comunicação Empresarial, a Comunicação Não-Violenta (CNV) é, para mim, aquele tipo de técnica “game-changer”. Criada pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg, ela nos ensina a expressar nosso ponto de vista de forma assertiva e afetuosa ao mesmo tempo, e também a compreender pontos de vista contrários aos nossos com respeito e leveza.

O foco de Rosenberg e da maior parte da literatura da área é a comunicação interpessoal, e é fato que as organizações que realizarem esse tipo de treinamento para seus empregados colherão muitos bons frutos, com ambientes de trabalho mais harmônicos e líderes mais capacitados para gerenciar conflitos.

Mas a CNV pode ir além da esfera comportamental e adentrar as ações de comunicação corporativa das instituições. Começando pela criação de conteúdo consciente (aquele que está menos preocupado com likes e mais com fazer diferença para quem se destina), passando pela interação empática e autêntica com os públicos e culminando com estratégias e campanhas que deixem de lado o modo imperativo e transitem para a construção conjunta e plural de significados.

Em tempos de tanta hostilidade digital, cabe às organizações oferecerem um antídoto a seus clientes e empregados. É possível fazer isso com pequenas mudanças de enfoque na comunicação do dia a dia. Exemplos: ao invés de idealizar ações “em combate” ou “contra” determinado assunto, inverta para aquilo que se quer aumentar e impulsionar; no lugar de um conteúdo que enalteça o que a instituição está fazendo, substitua a ótica pelo que o público está ganhando com isso. A comunicação das empresas pode se tornar disseminadora de pequenas sementes de empatia e de positividade. Um caminho para isso é se guiar pela metodologia da CNV, que prevê que enxerguemos, com o mínimo de julgamento possível, as necessidades dos públicos, e que ofereçamos a eles escuta genuína e falas que acolham, agreguem e façam crescer.

Ao adotarem discursos que destoem positivamente dos feeds e noticiários que vemos por aí, e que sejam pautados pelo conhecimento mais profundo de si próprias e de seus interlocutores, as organizações podem dar exemplos valiosos e colaborar um 2020 com trânsitos mais harmônicos em nossa sociedade – até mesmo entre habitantes de mundos tão geometricamente diferentes.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Aline Castro

Jornalista e servidora pública. Tem mestrado em comunicação institucional e especialização em gestão pública para profissionais da Justiça. É conselheira da Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública) e criadora do Podcast Comunicação Pública: Guia de Sobrevivência.

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